Se o presidente em fim de mandato Jair Bolsonaro (PL) preferiu usar um discurso dúbio para comentar a derrota no segundo turno das eleições presidenciais para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) foi mais direto. Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira (2), ele afirmou: "nós perdemos o jogo".
Apesar de reconhecer a derrota, Mourão afirmou ao jornal que não concordava com a participação de Lula na disputa eleitoral. O agora presidente eleito se tornou elegível em março do ano passado, após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin.
"Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador [Lula] não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo", afirmou Mourão ao jornal carioca.
Em outro trecho da mesma entrevista, Mourão criticou as manifestações golpistas que acontecem em diferentes partes do país desde o último domingo, quando foi confirmada a derrota de Bolsonaro. Ele voltou a falar sobre Lula como "o jogador".
"Deveria ter sido realizado quando o jogador que não deveria jogar foi [autorizado a jogar]. Ali deveriam ter ido para a rua, buzina. Mas não fizeram. Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então tem que baixar a bola", disse.
O hoje vice-presidente confirmou contato com o próximo a ocupar o cargo, Geraldo Alckmin (PSB). Mourão disse que mandou mensagem para Alckmin, e que o futuro vice entrou em contato por telefone na sequência.
"Institucionalmente eu sou vice-presidente, e hoje existe outro cidadão que é o vice-presidente da República eleito. É de boa educação eu me dirigir a ele e dizer que estamos em condição de recebê-lo, que a casa em que ele vai morar está em condições de ser vistoriada. Ele é um cara educado, eu também sou", falou.
Quando perguntado pela equipe de reportagem se planeja dialogar com Lula e se aceitaria um convite para visitar o petista no palácio do Planalto, o senador eleito foi taxativo: "Lógico".
Edição: Vivian Virissimo