Após 13 dias de paralisação, dirigida por setores opositores, foi anunciada a instalação da mesa de diálogo com representantes do governo boliviano. O primeiro encontro está agendado para esta sexta-feira (4), às 18h (hora local), e só foi possível após a garantia de liberação de opositores detidos durante confronto com a polícia.
As mesas de negociação vão iniciar na Universidade Autônoma José Ballivián, na cidade de Trinidade, no departamento de Beni. O presidente Luis Arce, e o ministro de Planejamento, Sergio Cusicanqui, estão representando o Executivo; já pelo lado opositor está o reitor da Universidade Autônoma, Vicente Cuéllar, o líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, Rômulo Calvo.
O governador do departamento de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, foi convidado, mas se negou a participar, dizendo que "se a reunião é técnica, devem ir os técnicos". A própria oposição insistiu para que Camacho envie um representante, mas até o momento se mantém a negativa.
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Também foi anunciada a criação de uma comissão de especialistas para definir o processo técnico para a realização do censo demográfico nacional em 2023. O grupo será formado por 45 profissionais indicados tanto pelo governo, como pela oposição.
A formação de uma comissão técnica foi a sugestão do Encontro Plurinacional "por um censo com consenso", realizado em Cochabamba, no dia 28 de outubro, com representantes de todos os departamentos, menos de Santa Cruz. Os governadores de todas as regiões haviam acordado adiar o censo para 2024, mas diante dos distúrbios no departamento mais oriental do país, o grupo propôs uma alternativa.
"Sempre convocamos ao diálogo e o convite permanece aberto, porque confiamos em que este é o melhor mecanismo para solucionar conflitos. É momento de dar tranquilidade ao povo de Santa Cruz", expressou o presidente Arce.
A oposição iniciou a greve por tempo indeterminado na capital departamental Santa Cruz de la Sierra e cortou os principais acessos ao departamento de Santa Cruz no dia 28 de outubro. Uma das bandeiras era pressionar pela realização do censo em 2023, contrariando a proposta do governo de adiá-lo para 2024.
Segundo o governo, faltariam condições técnicas para realizar a pesquisa nacional. O Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), partido governante, denunciou que os protestos se tratavam de uma nova tentativa de desestabilização do governo nacional.
O impasse está na proporcionalidade da representação parlamentar. Se o censo for realizado em 2023 e confirmar o crescimento populacional em Santa Cruz, o departamento, hegemonizado pela oposição, poderia ter direito a mais cadeiras na Assembleia Plurinacional da Bolívia a tempo das eleições legislativas de 2024.
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De acordo com o governo boliviano, os 13 dias de rodovias interrompidas e paralisação geraram US$ 460 milhões em prejuízo (cerca de R$ 2,3 bilhões).
"Deixemos de lado o discurso político, as equipes técnicas devem trabalhar", disse a ministra da Comunicação, Gabriela Alcón.
Em resposta, movimentos populares iniciaram uma caravana na noite da última terça (1º), que partiu de San Julián e irá percorrer 140 km até a capital Santa Cruz de la Sierra para exigir o fim da paralisação opositora e levantar os bloqueios. A Confederação Nacional de Trabalhadores do Comércio Varejista, que agrupa 800 mil filiados em todo o país, também assegurou que a partir de sábado, os comerciantes irão voltar ao trabalho em Santa Cruz de la Sierra.
Apesar da crise política, o presidente boliviano mantém sua popularidade. Segundo a pesquisa de opinião do Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (Celag), 47,8% avalia positivamente sua gestão, enquanto 44,9% tem uma visão negativa.
Já o governador do departamento de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, protagonista do golpe de Estado de 2019 e líder dos distúrbios opositores, possui 22,6% de apoio popular.
O estudo entrevistou 2 mil pessoas nos nove departamentos do país, entre 10 de outubro e 2 de novembro.
Edição: Thales Schmidt