Para Douglas Belchior, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo (30) representa uma vitória histórica não só para a classe trabalhadora, mas para todo o povo brasileiro.
"O presidente Bolsonaro não deu conta de atuar a serviço e para os interesses da população brasileira. Quando foi chamado fez o contrário, como a gente vivenciou na pandemia quando eles promoveram uma política pública de negação da gravidade do vírus e de negação das políticas de assistência. O Governo não tem uma marca propositiva, uma grande ação no sentido dos direitos. Então é óbvio que a retomada de um governo liderado por Lula, que é uma figura histórica comprometida com os trabalhadores, nos enche de esperança", aponta Belchior, que foi candidato a deputado federal pelo PT no pleito deste ano.
A liderança da Coalizão Negra por Direitos analisa que a luta de classes continua coexistindo na dinâmica da sociedade, apesar de não determinar todas as relações sociais existentes.
A importância de alimentar um outro projeto político fora do campo da barbárie e próximo a ideia de respeito aos direitos humanos, na visão dele, ficou explícita no processo eleitoral.
"O que eu posso dizer e afirmar que os setores organizados da sociedade que percebem na democracia o único modelo possível de convivência e de avanço da sociedade se organizou ao lado do Lula", conta.
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"Do outro lado, estão aqueles que percebem o Brasil ainda como uma grande fazenda, como espaço de reprodução de uma lógica mais violenta, das raízes brasileiras que historicamente carregam a marca da escravidão que durou quase quatro séculos, uma marca de uma sociedade que no regime pós-abolição não conseguiu garantir cidadania pra maioria do povo", completa.
O fundador da Uneafro Brasil avalia que é necessário retomar políticas públicas que foram destruídas nos últimos quatro anos. Nesse sentido, ele lembra que o debate sobre racismo no Brasil não acontece separado do debate geral, pois ele é o pano das desigualdades e injustiças sociais que o nosso país enfrenta.
"Não é possível enfrentar o racismo sem um plano econômico que vise promover igualdade de oportunidade. Não é possível enfrentar o racismo sem discutir política de segurança pública para a garantia da vida da população e não reafirmar a ideia de que o aparato policial tem que ser voltado pra ter o povo como alvo na sua atuação cotidiana. Nenhuma dimensão da política brasileira pode ser realizada sem levar em conta que o nosso país é um país de maioria negra", explica.
"Portanto enfrentar o racismo corresponde a lidar com a necessidade de que todas as políticas devem ter atravessadas pela elaboração a preocupação com o enfrentamento ao racismo", completa.
Belchior pondera, no entanto, que mesmo com a união de amplos setores da sociedade em torno da eleição de Lula, a diferença de apenas 2% percentuais no último domingo (30) impõe um grande desafio para o próximo ano.
"O fascismo está muito forte, muito vivo na sociedade brasileira. E ele não vai recrudescer, ele não vai recuar. Ele não vai recuar. Ele vai permanecer disputando os espaços da sociedade com a gente. A gente tem que estar muito preparado para lidar com isso", finaliza.
Edição: Nicolau Soares