Desastre de Mariana

Desalojados pela lama da Samarco sofrem: "São sete anos de angústias, tristeza e impunidade"

Das 360 casas que deveriam ter sido entregues pelas empresas em Mariana e Barra Longa, apenas 78 foram terminadas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O rompimento da barragem da Vale-BHP-Samarco, em Mariana, foi considerado o maior crime ambiental da história do Brasil - Isis Medeiros

Neste sábado (5), o crime ambiental de Mariana (MG) completa sete anos e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) aproveitou a data para denunciar o descaso da Fundação Renova com as vítimas do episódio. De acordo com o movimento, das 360 casas que deveriam ter sido entregues, apenas 78 foram finalizadas.

Diversas famílias atingidas seguem sem um lar e vivem de favor na casa de amigos e parentes. É o caso de Eliana Silva, que divide uma residência com os pais. "Depois do rompimento da barragem, houve muitas situações complicadas. Eu e meus filhos tivemos problemas psicológicos, fizemos tratamento e tomamos medicamento controlado. O impacto em nossas vidas foi muito grande, devastador."

Leia mais: Sete anos depois, atingidos pelo crime da Samarco no Rio Doce ainda lutam por direitos básicos

Silva confirma a denúncia do MAB. "Sete anos se passaram e até hoje nada foi resolvido. Não nos entregaram as casas, a gente não sabe quando isso será resolvido. Isso nos machucou, não sabemos mais se vai acontecer, como vai acontecer. Muita gente faleceu de tristeza. Nunca mais será a mesma coisa, nossa vivência em Paracatu era saudável, aqui em Mariana não é."

No dia 5 de novembro de 2015 houve o rompimento da barragem do Fundão – de propriedade da Samarco, parceria entre as mineradoras Vale e BHP Billiton –, desalojando pessoas em Mariana (MG) e Barra Longa (MG). A empresa fundou, então a Fundação Renova, responsável gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões impactadas pelo crime ambiental.

Leia também: Desastre de Mariana: sete anos depois, ninguém foi punido e crimes podem prescrever

No entanto, moradores da região e ativistas relatam que a Fundação Renova segue omissa em suas funções. "É uma falta de respeito com os seres humanos. O que fizeram com a gente não foi acidente, foi um crime que matou várias pessoas e que continua nos destruindo. Nosso lugar, nosso Paracatu, está lá, vazio, sozinho, triste e acabou. Jamais imaginaria uma situação dessa. Vejo meu pai e minha mãe morando aqui contra sua vontade, sem ter o que fazer e onde plantar. Estão tristes, isso acaba aos poucos com a gente. São sete anos de angústias, tristeza e impunidade", lamenta Silva.

De acordo com Thiago Alves, coordenador do MAB, "passados sete anos, nós ainda estamos vivendo com problemas estruturais não resolvidos, como a contaminação da água, que compromete a saúde da população, a situação do trabalho e da renda – prejudicada pelo impacto causado na pesca e na agricultura – e, especialmente, a questão da moradia."

Outro lado

Em nota, a Fundação Renova respondeu ao Brasil de Fato. "Com relação às casas, 78 estão prontas e 76 estão em construção (dados de 21 de outubro de 2022). A expectativa é de que cerca de 120 casas estejam concluídas no fim do ano. A Fundação Renova e a Prefeitura de Mariana assinaram, no dia 19 de outubro, um Termo de Compromisso que sustenta um Plano de Ação para garantir que os serviços essenciais estejam em pleno funcionamento e que as famílias possam planejar suas mudanças a partir do início de 2023."

Edição: Nicolau Soares