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Escolha ruim ou acerto de Tite: o que pensar sobre a convocação da Seleção Brasileira?

As maiores controvérsias da lista estão na convocação de Daniel Alves e na ausência de Gabigol

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Tite anunciou a lista de jogadores convocados para a disputa da Copa do Mundo no Catar - Lucas Figueiredo / CBF

Toda convocação de Seleção Brasileira gera protestos dos mais variados tipos. Todo mundo sabe disso e não seria diferente agora. Os 26 nomes escolhidos por Tite para a Copa do Mundo do Catar geraram todo tipo de controvérsia por uma série de motivos que vamos abordar mais à frente.

Por hora, fiquem com a certeza de que a lista divulgada na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na última segunda-feira (7) é boa sim e que o Brasil tem plenas condições de fazer um bom Mundial no Catar. Quem sabe até brigar pelo tão sonhado hexacampeonato.

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Dito isto, vamos relembrar quem foram os 26 jogadores convocados por Tite:

GOLEIROS: Alisson (Liverpool/ING), Ederson (Manchester City/ING) e Weverton (Palmeiras)

LATERAIS: Alex Sandro (Juventus/ITA), Alex Telles (Sevilla/ESP), Dani Alves (Pumas/MEX) e Danilo (Juventus/ITA)

ZAGUEIROS: Bremer (Juventus/ITA), Éder Militão (Real Madrid/ESP), Marquinhos (Paris Saint Germain/FRA) e Thiago Silva (Chelsea/ING)

MEIO-CAMPISTAS: Bruno Guimarães (Newcastle/ING), Casemiro (Manchester United/ING), Everton Ribeiro (Flamengo), Fabinho (Liverpool/ING), Fred (Manchester United/ING) e Lucas Paquetá (West Ham United/ING)

ATACANTES: Antony (Manchester United/ING), Gabriel Jesus (Arsenal/ING), Gabriel Martinelli (Arsenal/ING), Neymar (Paris Saint Germain/FRA), Pedro (Flamengo), Raphinha (Barcelona/ESP), Richarlison (Tottenham/ING), Rodrygo (Real Madrid/ESP) e Vinicius Júnior (Real Madrid/ESP)

As maiores controvérsias da lista estão na convocação de Daniel Alves e na ausência de Gabigol. Há quem veja nas escolhas de Tite uma espécie de consolidação de uma “panela” formada pelos nomes mais convocados nos últimos anos. Tese difícil de ser defendida quando se observa o número de jogadores chamados durante as Eliminatórias da Copa do Mundo e amistosos da Seleção Brasileira.

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Os pitacos que você vai conferir aqui não são os mais populares que você vai encontrar. Isso porque está claro para este colunista que Tite convoca com coerência e baseado em uma série de observações feitas ao longo dos últimos meses. Há critério e isto está muito claro.

Por exemplo, a convocação de Daniel Alves (completamente sem sentido para alguns) pode ser observada por vários ângulos. Eu fui um dos que torceu o nariz quando Tite anunciou seu nome na transmissão da CBF. Mas quem seria seu substituto? Quem é o jogador que reúne experiência e compreensão plena do modelo de jogo definido pelo treinador que poderia estar na Copa do Mundo no seu lugar?

 

Eu não consegui pensar em nenhuma alternativa. E vocês?

E vale lembrar aqui que não se convoca uma Seleção Brasileira baseado apenas no momento de cada jogador. Outros fatores são levados em consideração em cada escolha: entendimento dos conceitos do treinador, bom desempenho em campo, convivência com o grupo e por aí vai. Repito: não seria a minha escolha. Mas entendo porque Daniel Alves está no grupo.

E também temos a ausência de Gabigol. Mesmo com os inúmeros gols marcados nas últimas temporadas, precisamos entender que o camisa 9 do Flamengo mudou de posição nos últimos meses. Já não é o homem mais avançado do time e passou a jogar mais recuado, quase como um “camisa 10” de fato. Curiosamente, esse é o pedaço do campo onde ele encontra a maior concorrência na Seleção Brasileira. É ali que jogam Lucas Paquetá e Neymar.

Não é difícil entender porque Gabigol não foi convocado, não é mesmo?

Agora, precisamos falar dos “refrescos”. Gostei muito da convocação de Gabriel Martinelli. O atacante do Arsenal está comendo a bola na Premier League e possui características que podem ser muito úteis na Seleção Brasileira. Assim como Everton Ribeiro. O camisa 7 do Flamengo foi fundamental na conquista da Libertadores e da Copa do Brasil e pinta como ótima opção para o meio-campo.

Fora isso, a presença de nove atacantes convocados (quase todos de características diferentes) permitem que Tite tenha condições de mudar esquemas táticos e formações de jogo com a bola rolando. Além disso, a presença de tantos jovens na convocação final para a Copa do Mundo é mais uma prova de que a atual geração é sim boa pra caramba.

 

Tite pode ter realmente causado um problema para si mesmo quando fala que 'o campo define' quem é convocado.

Isso porque muitos entendem que essa frase já tira qualquer possibilidade da convocação de Daniel Alves ou qualquer outro jogador menos badalado. A questão aqui é entender o que o treinador da Seleção Brasileira (e qualquer outro que estará na Copa do Mundo) quer da sua equipe com e sem a bola. E o grande erro está em pensar que “basta juntar os melhores” para ser campeão. É preciso muito mais.

Foi assim com Vicente Feola, Aymoré Moreira, Zagallo, Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari. Por que raios teria que ser diferente com Tite?

Todos geraram controvérsia e foram alvos de protestos quando anunciaram suas listas finais. E todos comemoraram depois do apito final na grande decisão. Faz parte do processo.

Mas cada vez mais é preciso compreender que o futebol é um esporte que exige muito mais do que bravatas e achismos. Ele pede estudo, dedicação e muita percepção da realidade. Podemos não gostar dos métodos deste ou daquele treinador (o que é do jogo). Mas não dá pra gente criticar baseado em gosto pessoal.

Seleção Brasileira é, sim, movida a paixão. Mas tem horas em que precisamos deixar o fígado de lado e pensar com a cabeça mesmo.
 

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse