Preso na última segunda-feira (7) pela acusação de estupro por determinação da Justiça do Rio de Janeiro, o ex-vereador e ex-policial militar Gabriel Monteiro, de 28 anos, filiado ao PL de Jair Bolsonaro, tem uma trajetória meteórica e polêmica de atuação pública, tanto na polícia quanto na política, nos últimos anos.
Terceiro candidato mais votado do Rio nas eleições municipais de 2020, Monteiro chegou à Câmara dos Vereadores com uma ficha corrida pouco exemplar. Faltas, transgressões de normas e as piores notas de classificação pelo seu comportamento estão entre as anotações na ficha disciplinar. Monteiro foi reintegrado à PM, posteriormente, mas deixou a corporação para entrar na política.
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Na vida política, ele deu seguimento às polêmicas do passado com supostas denúncias que fazia contra a própria PM. Como vereador, Gabriel Monteiro transgrediu não apenas o regimento interno da Câmara Municipal, como também foi alvo de denúncias por incursões, brigas e ameaças em instituições públicas. Ameaçou profissionais de saúde em visitas desautorizadas em hospitais.
Na política, como na Polícia Militar, Gabriel foi acusado de criar situações de constrangimento, coação e exposição sem autorização de pessoas para se promover e se projetar nas redes sociais. A audiência em canais de redes sociais, o principal deles no YouTube, gerou renda para o vereador, que fazia supostas denúncias de corrupção e aproveitava o espaço para fazer propaganda de produtos com fim de ganho financeiro.
O caso chamou tanta atenção, que em maio deste ano os vereadores do Rio aprovaram uma lei impedindo que parlamentares sejam vetados de monetizar a partir da produção de conteúdos para a a internet. Estima-se que Gabriel Monteiro ganhou mais de R$ 200 mil por mês com os vídeos gerados. Em abril, diversas marcas já haviam cancelado patrocínios ao canal do vereador.
Denúncias
O vereador, que já era alvo de diversas representações no Conselho de Ética da Câmara Municipal por quebra de decoro parlamentar, acusado de abuso de autoridade em razão das invasões a repartições públicas, só passou a ficar em maior evidência no noticiário após virem à tona denúncias de abuso sexual de menores e de assédio moral e sexual a alguns funcionários de seu gabinete parlamentar.
Em fevereiro deste ano, o programa dominical Fantástico, da TV Globo, mostrou depoimentos em vídeo de assessores de Gabriel denunciando não apenas o assédio contra eles, mas também uma rede de produção de conteúdo audiovisual com situações forjadas envolvendo pessoas em situação de rua, agredidas pela equipe do vereador.
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Em abril, o Conselho de Ética da Câmara decidiu abrir procedimento contra Gabriel. O relator escolhido foi o vereador Chico Alencar (Psol). Depois de quatro meses de ritos entre reunião de provas, acusação, notificação e direito de ampla defesa, os vereadores cassaram o mandato de Gabriel por 48 votos a dois.
Na sequência de diversas denúncias, apareceram vídeos em que o vereador estaria assediando e induzindo uma criança a fazer falas combinadas na produção de um vídeo para o seu canal. As imagens mostram o parlamentar e a menina em uma mesa, na praça de alimentação de um shopping do Rio.
Em mais outra denúncia, que se tornou inquérito policial, houve vazamento de um vídeo íntimo de Gabriel fazendo sexo com uma adolescente de 15 anos. A gravação foi compartilhada no Twitter e no WhatsApp e, na época, Gabriel acusou ex-funcionários pela reprodução online.
Segundo depoimento de ex-assessores, Gabriel Monteiro costumava fazer orgias na casa dele com menores de idade. De acordo com um funcionário, algumas vezes ele chegou na casa do vereador e o encontrou virado de festas, com meninas saindo de lá chorando e aparentando terem sido vítimas de estupro.
A prisão de ontem do vereador cassado pela Câmara está relacionada a um caso que teria acontecido já após a divulgação de outras denúncias contra ele, inclusive de estupro. Uma estudante de 23 anos denunciou ter sido estuprada por Monteiro na casa de um amigo, no Joá, Zona Sul do Rio. Na denúncia do Ministério Público (MP-RJ), o laudo médico comprovou lesões da genitália da vítima.
Ao saber do mandado de prisão ontem, Gabriel se entregou na delegacia de Icaraí, em Niterói, afirmando que "acredita que sua inocência vai ser comprovada". Para o relator do processo contra Gabriel na Câmara, Chico Alencar (PSOL), a prisão "reforça o acerto do Legislativo carioca ao cassar seu mandato".
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda