No segundo dia em que esteve presente na conferência do clima COP27, no Egito, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursou nesta terça-feira (08) contra as mudanças climáticas, participou de um debate sobre a defesa da Amazônia e se encontrou com lideranças ocidentais.
Os diálogos públicos entre o mandatário venezuelano e representantes europeus e estadunidenses, que se tornaram incomuns nos últimos anos devido à política hostil desses países em relação ao governo do chavista, ganharam ampla repercussão por marcarem os esforços de Caracas e do Ocidente em aliviar as tensões diplomáticas entre si.
No início do dia, o primeiro-ministro de Portugal, Antonio Costa, cumprimentou Maduro em um dos corredores do evento. Entre abraços, o premiê português chegou a reclamar da inflação e dos "custos de petróleo e gás", afirmando que "tudo isso é um problema".
Maduro, por sua vez, convidou Costa à Venezuela e fez referência à comunidade portuguesa que vive no país caribenho dono das maiores reservas de petróleo do mundo.
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Desde a crise dos combustíveis causada pela guerra na Ucrânia, governos e empresas da Europa e dos EUA têm demonstrado interesse em descongelar relações com a Venezuela e suspender sanções para retomar o comércio de petróleo com o país.
Em julho, durante a cúpula do G7, um representante do governo francês chegou a dizer que Paris estaria trabalhando pela diversificação de fontes de combustíveis e pela reincorporação do petróleo iraniano e venezuelano ao mercado ocidental.
Durante a COP27, Maduro voltou a receber sinalizações positivas da França durante encontro com o presidente Emmanuel Macron nesta segunda-feira. "Adoraria que pudéssemos conversar um pouco mais e começar um trabalho bilateral que seja útil para o país e para a região". O francês ainda completou: "presidente, eu vou te ligar quando tudo isso passar".
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Conversa com os EUA
O presidente venezuelano também se encontrou com o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, com quem trocou um aperto de mão e algumas palavras. "Como vai você? Não te via desde Cartagena", disse Maduro. O mandatário, provavelmente, fez referência a um encontro que teve com Kerry na cidade colombiana em setembro de 2016, durante a assinatura dos Acordos de Paz do governo da Colômbia com a antiga guerrilha FARC.
O enviado do governo de Joe Biden e ex-secretário de Estado dos EUA durante a gestão de Barack Obama, por sua vez, respondeu que havia prometido visitar Maduro, mas que "no final as coisas não deram certo".
Esse é o primeiro encontro público entre Maduro e um representante do governo estadunidense nos últimos anos. Nos primeiros meses de 2022, uma delegação enviada por Biden visitou a Venezuela duas vezes para discutir, entre outros temas, uma possível retomada do comércio de combustíveis.
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A posição de Maduro na COP27 até o momento marca a fase de recuperação diplomática que o país está buscando construir, voltando a se aproximar de potências ocidentais que deixaram de reconhecer seu governo eleito em 2018.
Além disso, os encontros tendem a enfraquecer cada vez mais o "governo interino" criado pelo ex-deputado Juan Guaidó, que havia recebido amplo apoio de governos de direita da América Latina, da Europa e dos EUA.
A própria participação de Maduro na COP27 também indica um esforço de Caracas para se reintegrar à comunidade internacional. A última cúpula que o presidente venezuelano havia participado foi a reunião da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que ocorreu em setembro de 2021, no México. Antes disso, o chavista havia participado da Assembleia Geral da ONU de 2018.
Defender Amazônia com Colômbia e Brasil
Ao lado dos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do Suriname, Chan Santokhi, Maduro também participou do fórum "Amazônia como pilar do equilíbrio climático e da vida". Durante o evento, os mandatários concordaram em resgatar a Organização do Tratado para Cooperação Amazônica (OTCA), criada em 1995 por todos os países que possuem territórios abrigando partes da floresta.
Este foi o segundo encontro entre Petro e Maduro desde que o novo presidente colombiano tomou posse, em agosto. No início do mês, o mandatário esteve em Caracas para uma reunião bilateral na qual a defesa da Amazônia e a colaboração de vizinhos sul-americanos, inclusive o Brasil, foram temas de destaque.
::Na COP27, Maduro propõe cúpula sul-americana com Petro e Lula em defesa da Amazônia::
Nesta terça, Petro voltou a citar a importância do país que agora será governado por Lula nos esforços ambientais. "É hora de EUA e América do Sul dialogarem; temos a força para propor algo positivo ao mundo", disse.
Em seu discurso durante a plenária da Conferência, Maduro fez duras críticas ao modelo de acumulação capitalista, o qual classificou como principal responsável pelas mudanças climáticas. "Se esgotou o tempo dos discursos e também dos lamentos; só existe um presente para atuar radical e centralmente a favor de outro mundo possível", disse o presidente.
Edição: Arturo Hartmann