Os cineastas radicados em Cachoeira, Ary Rosa e Glenda Nicácio, da Rosza Filmes, não param de produzir, de criar e de fazer cinema. Desde o grande sucesso do filme “Café com Canela”, primeiro longa-metragem assinado pela dupla, Ary e Glenda lançam praticamente um filme por ano. Só em 2022, dois novos trabalhos chegam às salas de cinema com a promessa de movimentar as emoções e a opinião do público e da crítica.
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Depois de estrear no Cinefantasy, em São Paulo, Mugunzá chega às telas da Bahia como parte da programação do Festival Internacional Panorama Coisa de Cinema. Com sessão lotada e cheia de emoção, na noite do última segunda (07), no Cine Metha Glauber Rocha, em Salvador, o filme tem nova exibição hoje no Cine Theatro Cachoeirano, em Cachoeira. Ainda este ano, no começo de dezembro, é a vez dos personagens já famosos nas redes sociais, Mainha (Sulivã Bispo) e Júnior (Thiago Almasy), saírem da internet para ganhar as telonas sob o olhar criterioso da dupla diretora no longa Na Rédea Curta.
Caminhos artísticos com o Recôncavo
Ary Rosa e Glenda Nicácio vivem desde 2010 no Recôncavo da Bahia. Desde 2018, eles constroem caminhos coletivos para suas realizações. Formados em cinema pela Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), os cineastas reconhecem no local o combustível que impulsiona os seus olhares para o cinema e para o mundo.
A velocidade criativa da dupla que, nos últimos anos, lança diferentes trabalhos nas telonas é defendida pela mobilização de um importante tripé de produção: o coletivo, o território – o Recôncavo como maior fonte de inspiração e de vontades de contar histórias – e a economia criativa. O pensar o próprio ofício como parte desse espaço.
“São três pontos que se retroalimentam de alguma forma. A coletividade, o território e a economia criativa. Acho que isso é o que nos potencializa a lançar um longa-metragem por ano do Recôncavo. Esse é o ponto de partida dos nossos filmes, em geral. E de alguma forma são muito diferentes no seu contar histórias”, afirma Ary, que reconhece a potência de narrativas que podem ser contadas desse lugar.
Mugunzá
Em circulação pelos festivais de cinema do país, Mugunzá é um musical que conta a história de uma mulher que perdeu o seu amor, a sua dignidade e os seus sonhos e resolve buscar por justiça. Glenda Nicácio explica que o filme trabalha com os elementos da cultura nordestina, baiana e, como não podia deixar de ser, com a cultura do Recôncavo, de Cachoeira e de suas festas de tradição popular.
“A trajetória dessa personagem, da protagonista Arlete, vai ser atravessada pelas festas da Ajuda, Yemanjá, São João até a Festa da Boa Morte”, declara a diretora. Glenda acredita que esses elementos fazem parte da construção da vida da personagem e são por eles que a Arlete da ficção consegue sobreviver.
A Arlete da trama tem o mesmo nome da atriz que a interpreta, e isso não é mera coincidência. Arlete Dias é baiana e é uma atriz de longa experiência do Bando de Teatro Olodum. A artista é uma parceira antiga da Rosza Filmes e tem participação em todos os filmes realizados por Ary e Glenda.
“Ela é uma protagonista que lança mão dos talentos dessa atriz que é uma grande atriz de cinema. É uma grande atriz de teatro. É uma grande cantora. A gente constrói o filme para ela”, declara Ary Rosa ao falar do trabalho cênico da Arlete Dias.
Arlete divide a cena com Fabrício Boliveira, ator baiano de longa atuação em telenovelas e também em filmes premiados como Simonal, Breve Miragem de Sol e Eduardo e Mônica. Fabrício interpreta os cinco homens do musical. Essa decisão foi se formatando com a chegada do ator no trabalho e com todas as possibilidades de interpretação que ele poderia ser.
“Todos os homens que fazem a personagem Arlete sofrer têm um mesmo rosto. Como se quase todo mundo tivesse saindo de um mesmo lugar. Como se todo mundo fosse o mesmo”, afirma Glenda ao defender essa escolha como destaque para a raiz do machismo e da violência ainda tão latentes no Brasil.
Com 13 canções autorais interpretadas pela dupla de atores, todas compostas pelo cantor e compositor Moreira para o filme, o álbum com a trilha sonora do musical foi lançado esta semana no Spotify. Além de canções interpretadas por Arlete e Fabrício, as composições também ganham a voz de nomes da nova geração da música do Recôncavo: Sued Nunes, Rafique Nasser, Riane Mascarenhas e o próprio Moreira.
Na Rédea Curta
Ainda este ano, Na Rédea Curta chega aos cinemas trazendo o riso que move multidões na internet. As aventuras de Júnior e Mainha, personagens que acumulam milhares de seguidores no Instagram e mais de 400 mil inscritos no youtube, ganham agora as telonas. O filme promete entregar gargalhadas conectadas com reflexões importantes do nosso tempo.
Ary Rosa acredita que esse trabalho reuniu muitas belezas. “Foi um encontro lindo de Salvador com Cachoeira. De Sulivã Bispo e Thiago Almasy com Glenda e comigo. É um encontro lindo do nosso trabalho de cinema com o trabalho deles da internet”, afirma Ary ao falar sobre o filme.
“É um filme para rir, mas é um filme com um humor que emociona. É um filme que vai falar das questões das mães e dos filhos, a gente vai falar de assuntos que são muito próximos da gente. De um lugar de intimidade, de alegria, sem perder a reflexão, sem perder o senso crítico”, declara Glenda na torcida de que os personagens vivam dentro das pessoas mesmo depois da sessão.
Ary celebra essa experiência da comédia e da entrada em um cinema mais popular e comercial como uma possibilidade de ir se transformando. “Respeitando a característica e a individualidade de cada filme, pensando sempre em abranger e em multiplicar os nossos públicos”, declara.
As gravações aconteceram em Salvador (Lapinha) e nas cidades de Cachoeira, São Félix e Muritiba. A comédia apresenta o melhor e conta com nomes como Zezé Motta e Jackson Costa em seu elenco, além de participações especiais como a da jornalista e apresentadora Rita Batista. O roteiro fica por conta de Ary Rosa, Camila Gregório, Glenda Nicácio, Sulivã Bispo, Thiago Almasy e Tidi Eglantine.
Filmografia de Ary Rosa e Gelnda Nicácio:
“Café com Canela” (longa metragem de ficção, 2017)
“Ilha” (longa metragem de ficção, 2018)
“Até o Fim” (longa metragem de ficção, 2020)
“Voltei!” (longa metragem de ficção, 2021)
“Eu não ando só” (telefilme documentário, 2021)
“Mugunzá” (longa metragem de ficção, 2022)
“Na Rédea Curta” (longa metragem de ficção, 2022)
Fonte: BdF Bahia
Edição: Lorena Carneiro