As prioridades educacionais do novo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) logo no início do mandato, em janeiro de 2023, já estão definidas: alimentação escolar e recuperação da aprendizagem. Estes temas já estão em discussão no Grupo de Trabalho (GT) sobre Educação montado pela equipe de transição de governo, segundo o educador Daniel Cara, um dos integrantes da equipe.
Em entrevista nesta quarta-feira (9) ao Central do Brasil, programa do Brasil de Fato em parceria com a TVT, Cara, que é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) lembrou que essas metas prioritárias já foram citadas por Lula desde antes da votação do primeiro turno das eleições.
"As crianças estão compartilhando comida, dividindo ovo, o que é uma coisa completamente absurda. Significa que elas não estão tendo acesso à necessidade nutricional diária que deve ser cumprida pelas escolas", destacou.
Para ajudar os estudantes a retomar o ritmo da aprendizagem, interrompido com a pandemia de covid-19, o educador propôs uma parceria com prefeitos e governadores. As articulações futuras podem envolver grupos de trabalho com representantes das maiores cidades e também com equipes de municípios prioritários, onde foi registrada maior defasagem.
Além destas áreas prioritárias, os integrantes do núcleo pretendem agir de forma ampla, com dedicação a todos os níveis de ensino.
"Ficou acordado que vamos trabalhar da creche até a pós-graduação e vai tomar o Plano Nacional de Educação como referência para elaboração do nosso relatório, que é o produto final desse grupo de trabalho da equipe de transição", destacou Cara.
Escolas cívico-militares
Uma das bandeiras do governo de Jair Bolsonaro (PL) na área de educação, as escolas cívico-militares também entram na pauta de discussão do grupo que se reúne para debater as políticas para o setor visando a nova gestão. Daniel Cara lembra que uma fatia importante da sociedade apoia esse modelo.
"A gente vai ter que enfrentar essa situação, e um debate público, inclusive por que tem governos, mesmo governos de esquerda, que promoveram escolas militarizadas, que é algo muito próximo do que o Governo Federal propôs em relação às escolas cívico-militares. Nenhum policial é melhor educador ou melhor educadora que um professor. É preciso destacar, de maneira muito clara, que a educação se faz com professoras e professores", afirmou.
Setor privado no GT
Outro tema sensível abordado na entrevista desta quarta com Daniel Cara foi a forte presença de representantes do setor privado no GT montado pela equipe de transição de governo para a educação. O educador afirmou que esse setor ganhou espaço no debate desde o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (PT) e levou Michel Temer (MDB) ao poder.
"Isso acabou se refletindo na composição do grupo de trabalho. Agora, é importante dizer que, durante a reunião, ninguém teve coragem de defender a reforma do ensino médio, todo mundo reconheceu que pelo menos aperfeiçoamentos devem ser realizados. É uma arena de disputa de um governo que compõe uma frente ampla. O que é importante ressaltar é que educadores e educadoras vão ter que disputar a agenda no futuro governo Lula, como acontece em qualquer composição governamental", concluiu.
Edição: Rodrigo Durão Coelho