Reestruturação

Irmã de Paulo Guedes, cunhada de aliado, ex-assessora: quem Bolsonaro nomeou desde a derrota?

Entre as nomeações, cinco ganham destaque por envolverem pessoas próximas do presidente e seus aliados

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Jair Bolsonaro se mantém isolado após derrota, mas, de dentro do Palácio do Planalto, assinou nomeações de aliados - Evaristo Sá/AFP

Desde que perdeu a disputa à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) apareceu publicamente apenas uma vez, três dias após o segundo turno das eleições, com um discurso de pouco mais de dois minutos. De dentro do Palácio do Planalto, porém, após a derrota o ainda presidente nomeou pessoas próximas para cargos nos quais poderão permanecer além do fim do atual mandato. Isso significa que Bolsonaro sai da Presidência em 31 de dezembro, mas deixará aliados.

Entre os atos do Poder Executivo que envolvem nomeações, reconduções e exonerações publicados no Diário Oficial da União, cinco ganham destaque por envolverem pessoas próximas de Bolsonaro e de seus aliados e apoiadores.  

Embratur 

No ato mais recente, nesta quinta-feira (17), ele nomeou Gilson Machado para o cargo de diretor-presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) com um mandato de quatro anos. 

A nomeação para a presidência da Embratur, no entanto, pode ser revogada, de acordo com a Lei nº 14.002, dentro do período de quatro anos. Assim, o próximo governo, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), poderá trocar a direção da agência. 


Jair Bolsonaro e Gilson Machado, ambos do PL / Alan Santos/PR

Machado esteve à frente do Ministério do Turismo desde dezembro de 2020, mas deixou a pasta em março deste ano para concorrer a uma vaga no Senado pelo PL de Pernambuco. Assim como Bolsonaro, entretanto, saiu derrotado do pleito. Ele também é conhecido por ser o homem que frequentemente participava como sanfoneiro das transmissões ao vivo do presidente, às quintas-feiras, nas redes sociais. 

Conselho Nacional de Educação

Em 7 de novembro, Bolsonaro fez uma série de nomeações para compor as Câmaras do Conselho Nacional de Educação (CNE). Para a Câmara de Educação Superior, o presidente nomeou Elizabeth Regina Nunes Guedes, irmã do ministro da Economia Paulo Guedes, com um mandato também de quatro anos.  

Elizabeth é presidenta da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), criada para defender os interesses das instituições privadas. Agora, será uma das responsáveis pela formulação e avaliação da política nacional de educação, além da criação de normas e diretrizes para o setor.  


Jair Bolsonaro e Elizabeth Guedes / Marcos Corrêa/PR

Logo após a nomeação, o deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) acusou o governo de nepotismo e apresentou um projeto para derrubar o decreto das nomeações. “Acreditamos que esse seja o caso da irmã de Paulo Guedes. Além disso, ela atua no ensino privado como presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares. Essas nomeações, em fim de governo, sempre levantam suspeitas”, afirmou Bueno. 

Também foram nomeadas Leila Soares de Souza Perussolo, cunhada do governador reeleito de Roraima Antônio Denarium (PP), aliado de Bolsonaro, e Ilona Becskehazy, bolsonarista aguerrida, como mostram suas publicações nas redes sociais, para a Câmara de Educação Básica.  

Em publicações mais recentes, Becskehazy compartilhou imagens dos atos antidemocráticos que questionam o resultado das eleições, sem provas de fraudes. “Milhões de brasileiros estão indo para as ruas por vários dias na defesa de liberdades econômica e individual que estão sendo ameaçadas por grupos extremamente poderosos”, disse recentemente. “Supremo é o povo”, afirmou em outra publicação. Antes, compartilhou uma imagem com os dizeres: “Sai para a rua antes que entrem na sua casa”. 


Ilona Becskehazy / Divulgação/Ministério da Educação

Logo após a nomeação, Becskehazy afirmou que o Conselho Nacional de Educação é “um órgão de estado, não de governo e estava bem aparelhado pelo pessoal das ongs que colocou ali seus aliados para avançar com políticas públicas bem soltinhas, que não comprometem ninguém com o aprendizado dos alunos, deixando espaço para os programas de péssima qualidade e muita visibilidade das fundações e institutos de herdeiros destituídos de poder nas empresas das famílias que usam esses espaços pá exercer sua tirania pueril”. 

Becskehazy também disse que “o CNE poderá muito pouco com um Ministério da Educação ainda mais aparelhado, mas é uma pequena célula de resistência para a racionalidade das políticas educacionais, do combate ao analfabetismo gerado dentro da escola, do cerceamento do direito de escolha das famílias e da doutrinação política e desinformação a partir da sala de aula”. 

Promoção no Itamaraty 

Também em 7 de novembro, Bolsonaro nomeou Marcela Magalhães Braga, ex-assessora de Michelle Bolsonaro, para o cargo de vice-cônsul do Brasil em Orlando, nos Estados Unidos. Antes, a diplomata atuava no cargo de assessora especial do gabinete pessoal da Presidência da República desde 29 de abril deste ano, sob os comandos e a confiança da primeira-dama. 

Governo de São Paulo

Não é somente por meio do Poder Executivo federal que aliados bolsonaristas permanerão da administração pública. Em São Paulo, o próximo governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Infraestrutura de Bolsonaro, pode abrigar em seu secretariado Mário Frias e Ricardo Salles, ex-secretário de Cultura e ex-ministro do Meio Ambiente.

Edição: Glauco Faria