Como era de se esperar, a Copa do Mundo no Catar mal começou e já é palco de protestos políticos. Os direitos das mulheres, da população negra e LGBTQIA+ foram defendidos em manifestações de jogadores e torcedores durante o segundo jogo da competição na manhã desta segunda-feira (21), em que a Inglaterra venceu o Irã por 6 x 2.
Jogadores iranianos ficaram em silêncio durante o hino de seu país. O ato foi em repúdio à repressão do regime do presidente, Ebrahim Raisi, contra uma onda de protestos pela liberdade e os direitos das mulheres que se espalha pelo Irã há pouco mais de dois meses.
Mulheres, vida, liberdade
A revolta popular tomou as ruas do Irã desde que, em 16 de setembro, Mahsa Amini, de 22 anos, foi assassinada sob custódia policial, depois de ser presa por não usar o hijab corretamente, exibindo uma parte do cabelo. As mobilizações já são as maiores contra o regime desde a Revolução Islâmica, em 1979.
Enquanto o hino era executado no Estádio Internacional Khalifa, em Doha, capital do Catar, parte da torcida iraniana cantou junto e outra parte vaiou. Faixas e cartazes com as palavras em inglês “mulheres”, “vida” e “liberdade” foram levantados. Outra faixa afirmava que a seleção representa a ditadura no país. Ao final do hino, a transmissão captou a imagem de uma torcedora, com o hijab, em prantos. No Irã, as mulheres não podem ir ao estádio.
Já temos o 1º momento marcante da Copa! Torcida iraniana vaiou e os jogadores não cantaram o hino do Irã, em protesto ao regime autoritário no país e a repressão às mulheres.
— Pedro Moreno (@pedromoreno90_) November 21, 2022
Pra quem acha que política e esporte não se misturam, tá aí mais uma baita demonstração do contrário! pic.twitter.com/UPw5zCAZtR
Neste domingo (20) subiu para seis o número de participantes das manifestações no Irã que foram condenados à morte. De acordo com a ONG Ativistas de Direitos Humanos no Irã (HRAI, na sigla em inglês), desde que os protestos começaram, 16.800 pessoas foram presas e 402 morreram.
Em uma coletiva de imprensa prévia à partida, o treinador português da seleção iraniana, Carlos Queiroz, se levantou e foi embora ao ser perguntado por um jornalista sobre como se sente representando um país que desrespeita os direitos humanos. Queiroz afirmou que responderia caso fosse bem pago e rebateu afirmando que a Inglaterra desrespeita imigrantes.
Iran fans with a message before their World Cup opener: pic.twitter.com/icJ8E250wN
— B/R Football (@brfootball) November 21, 2022
Braçadeiras, antirracismo e direitos LGBTQIA+
Ainda antes de a bola rolar, os jogadores ingleses se ajoelharam no campo. O capitão Harry Kane, ameaçado pela FIFA de sofrer sanções caso usasse uma braçadeira com as cores da bandeira LGBTQIA+, de joelhos, levantou o braço esquerdo.
Até a véspera do jogo, estava decidido que os capitães das seleções da Inglaterra, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Noruega, Suécia, Suíça e País de Gales entrariam em campo com a braçadeira da campanha One love, com um coração e as cores do arco-íris. O uso do adereço tinha o objetivo apoiar a população LGBTQIA+ que, no Catar, pode ser punida com pena de prisão de até dez anos.
Neste domingo (20), no entanto, as equipes voltaram atrás depois de a FIFA informar que os jogadores com essa insígnia podem ser punidos com cartão amarelo. No lugar, a entidade cedeu uma outra braçadeira, com a frase “Não à discriminação”.
Sem fazer o protesto inicialmente pensado, os ingleses optaram por se ajoelhar. O gesto é associado à luta antirracista desde que em 2016, o jogador da liga de futebol americano nos EUA (NFL), Colin Kaepernick, se negou a ficar de pé durante a execução do hino estadunidense, como uma forma de protestar contra a violência policial contra a população negra.
Depois, o ato seria replicado por atletas em outros eventos esportivos, como na NBA (liga de basquete dos EUA), em corridas da Fórmula 1 e jogos de futebol, inclusive no Brasil. Durante os protestos que se espalharam pelos Estados Unidos em 2020 por conta do assassinato de George Floyd, também era comum que manifestantes levassem o joelho ao chão.
Casos de racismo na própria seleção inglesa que está em Catar são recentes. Os jogadores Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka perderam pênaltis na final da Eurocopa, vencida pela Itália em julho de 2021, e foram alvos de racismo em suas redes sociais. Agora, na estreia da equipe na Copa do Mundo, Rashford e Saka fizeram gols na goleada da equipe inglesa contra o Irã.
Edição: Rodrigo Durão Coelho