Tradução a partir de The Conversation
As equipes de futebol de 32 nações estão reunidas no Catar para a Copa do Mundo da Fifa. Espera-se que cerca de 5 bilhões de pessoas em todo o mundo assistam às partidas ao longo do torneio de um mês.
Essas enormes audiências estarão prontas para aplaudir grandes jogadas – e vaiar ferozmente quando a decisão de um árbitro for contra seu time. Para garantir que as decisões difíceis sejam justas e precisas, a Fifa (a Federação Internacional de Futebol, o órgão regulador global do esporte) investiu não apenas nos melhores árbitros, mas também nas mais recentes e melhores ferramentas tecnológicas.
Replays de vídeo e outras ferramentas podem ajudar a reduzir erros flagrantes e descuidos humanos, mas será que eles vão erradicar totalmente os erros?
Somos pesquisadores que estudam como as organizações usam a tecnologia e não temos tanta certeza. No confuso e complexo mundo do futebol, o julgamento humano – com toda a sua falibilidade – sempre reinará supremo.
O que é o árbitro assistente de vídeo (VAR)?
O sistema de árbitro assistente de vídeo (VAR) usa uma equipe de pessoas que assistem a vários ângulos do vídeo da partida para ajudar os árbitros a tomar decisões difíceis. Foi usado na Copa do Mundo da Fifa 2018 e, desde então, em muitas competições em todo o mundo.
Na Copa do Mundo deste ano, a equipe do VAR pode atuar em apenas quatro tipos de situações envolvendo gols e outros eventos que mudam o jogo.
A equipe do VAR procura continuamente por erros claros e óbvios relacionados a essas situações. Quando eles detectarem tal erro (ou um incidente que foi perdido), eles avisarão o árbitro.
A equipe que trabalha com o VAR também tem acesso a ferramentas extras para avaliar se uma bola cruzou totalmente a linha do gol, bem como um sistema semiautomático que rastreia os jogadores e a bola para determinar se algum jogador está impedido.
Áreas cinzentas
Tecnologias como essas podem ser ferramentas poderosas e estão sendo aplicadas com mais intensidade em todas as áreas do esporte. No entanto, eles sempre estarão em tensão com a complexidade inerente dos incidentes do mundo real em campo.
As decisões de “mão na bola ou bola na mão” no futebol são um exemplo aberto à interpretação, independentemente da tecnologia. O vídeo sozinho não pode realmente determinar se houve contato entre a bola e o braço do jogador abaixo do ombro, o que constitui falta.
Em um jogo no início deste ano, Rodri, do Manchester City, parecia ter tocado a bola, mas a equipe VAR e o árbitro da partida não marcaram a falta porque não havia evidências conclusivas. Após o jogo, no entanto, o órgão de arbitragem Professional Game Match Officials Limited admitiu que houve um erro.
Essas controvérsias são menos comuns em contextos mais claros. Tecnologias semelhantes usadas no tênis raramente são contestadas, pois a bola está “dentro” ou “fora” – não há área cinzenta.
Interpretação e dúvida
A aplicação do VAR em contextos subjetivos levanta questões sobre quem está certo, o que é verdade e como interpretar a informação.
Por exemplo, quando um árbitro marca uma falta e a equipe do VAR recomenda que eles revisem sua decisão, o árbitro pode ver algo que perdeu e deveria ter considerado. É assim que o sistema deve funcionar.
No entanto, a revisão também pode levar o árbitro a duvidar de sua decisão inicial, porque muitos incidentes estão abertos à interpretação e permanecem subjetivos.
Na Copa do Mundo, são quatro pessoas na equipe do VAR. Isso significa que há tantos oficiais do VAR quantos oficiais monitorando o jogo pessoalmente.
Questões de contexto
Em algumas situações, a equipe do VAR pode oferecer um trecho de filmagem em câmera lenta para um árbitro (geralmente com apenas alguns segundos de duração) – o que pode carecer de contexto e perder as nuances da situação em questão.
Em setembro, um gol foi marcado em um jogo da Premier League inglesa entre Newcastle United e Crystal Palace – e a equipe do VAR imediatamente pediu ao árbitro para revisar um incidente ocorrido pouco antes do gol. O árbitro revisou um trecho da filmagem, interpretou como uma falta contra o goleiro por um jogador atacante e anulou o gol.
No entanto, o trecho não mostrou que o próprio atacante havia sido empurrado por um zagueiro, motivo pelo qual colidiu com o goleiro. O Professional Game Match Officials Limited mais tarde aceitou que a decisão estava errada, mas ainda assim o gol não contou.
Edição: Vivian Virissimo