VITALIDADE

Como mulheres do Aura das Lutas, de BH, se fortalecem na luta contra a violência

Coletivo foi retratado por documentário lançado nesta semana, no Cine Santa Tereza

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Integrantes do Aura das Lutas em momento de autocuidado. Linda (de branco), Tata (de listrado) e Luhh Dandara (de vermelho) - Iza Campos

Em abril de 2009, famílias que precisavam de moradia se juntaram para ocupar uma área no bairro Céu Azul, em Belo Horizonte. Com a organização das Brigadas Populares, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o apoio da Comissão Pastoral pela Terra, nasceu a Ocupação Dandara.

Anos depois, e com a mesma disposição de luta, mulheres da ocupação fundaram o coletivo Aura da Luta. A ideia nasceu quando Luhh Dandara percebeu, por meio de uma situação que sua filha vivia, que as mulheres da sua família passavam por diversas formas de violência há pelo menos quatro gerações - e estavam sozinhas.

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Sem planejamento, Luhh começou a movimentar a si e a outras mulheres, para que elas próprias se acolhessem e, assim, se fortalecessem. “Comecei bem desorganizada. O dinheiro gasto no coletivo vinha da minha faxina. Quando a gente cria um projeto, vai muito pelo sentimento. Não ‘desenha’ ele”, conta. Mas a Aura vingou!

Em 2018, Luhh participou da iniciativa Corre Coletivo, um projeto que visa fomentar iniciativas nas periferias. Dentre vários frutos, o movimento ganhou planejamento e um nome: a Aura das Lutas.


Coletivo é integrado por mulheres do Dandara e mais quatro comunidades vizinhas / Foto: Iza Campos

“A gente quer isso: ser essa energia (aura) que envolve a mulher no momento de fazer a denúncia contra uma violência. Se ela precisar de um apoio psicológico, ou de ter cuidado com ela mesma”, diz Luhh. “No coletivo, ela vai encontrar uma ‘irmã mais velha’”.

Espaço multiuso

Hoje, Luhh abre as portas da sua garagem e recebe uma série de atividades voltadas ao fortalecimento feminino. O coletivo é uma rede de proteção para mulheres da Comunidade Dandara e bairros vizinhos como Trevo, Xangrilá, Nova Pampulha, Aglomerado Vila Bispo de Maura.

Em meio a churrascos, massagem, aulas de autodefesa e de construção civil, as mulheres dialogam com suas felicidades, suas dores e as de suas companheiras. O lazer e o autocuidado, que muitas integrantes não têm em outros lugares, são prioridades na Aura.


Oficina de construção civil é uma das atividades realizadas pelo Aura / Foto: Iza Campos

“A gente não tem como evitar a violência que nós sofremos, porque ela vem do outro. Não é a minha roupa, não é meu jeito de falar. O que temos tentado é que as mulheres entendam as violências que estão sofrendo e que não passem por isso sozinha”, explica. “Estar sozinha, é estar sujeita a outras violências”, completa.

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O Aura das Lutas pode ser contatado pelo WhatsApp (31) 99179-3098 ou presencialmente, na Rua dos Quilombos, 287, Ocupação Dandara. Já a sua história, se encontra também nas telonas.

Aura está no cinema

Foi lançado nesta semana, no Cine Santa Tereza, Belo Horizonte, o documentário que conta a história do coletivo e de suas integrantes. O “Luta das Auras” foi dirigido por Marina Araújo e produzido por uma equipe totalmente feminina. Os vídeos disponíveis no perfil do Instagram @alutadasauras mostram um filme emocionante e forte, assim como foi o processo de gravação.

“Eu já sabia da história das mulheres que iam dar depoimento para nós. Mas quando fomos gravar, foi um momento muito emocionante para todas nós da equipe de gravação”, conta Marina. “É um relato. A mulher está ali colocando toda a sua vivência, como ela enfrentou a violência que ela passou. Não tinha como não se identificar, não ter empatia e sororidade, porque muitas de nós passamos por histórias muito semelhantes”, diz.


Processo de gravação do documentário Luta das Auras / Foto: Mary Ramos

“Foi o que mais me deu força e vontade de colocar esse documentário no mundo”, concluiu Marina.

Para as mulheres entrevistadas, o processo também foi poderoso. Para Luhh, em um coletivo de mulheres trabalhadoras, muitas vezes sobrecarregadas com jornadas duplas e triplas, movimentar o Aura das Lutas já é uma tremenda expressão de força.

“O documentário nos deu ainda mais certeza do quanto a gente pode fazer. Para nos dizer assim: ‘viu o quanto vocês são importantes? Viu que as pessoas estão vendo que vocês estão dizendo algo que é importante e que muda a sociedade? Por esse documentário mulheres que nunca tinham entrado num cinema, se viram na tela de um cinema”, recorda Luhh.

Agora, o coletivo prepara a reinauguração do seu espaço, em 10 de dezembro, a partir das 13h, quando também será exibido o documentário para toda a comunidade. Mais informações em @auradaluta, no Instagram.

Edição: Larissa Costa