Racismo

"Nunca passei por isso, hoje sinto medo”, diz músico agredido em Curitiba (PR)

Agressor voltou a ser preso na quarta (30); caso é investigado pela Polícia Civil, tendo agravante de injúria racial

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
"Estou me recuperando dos ferimentos, sinto medo de andar na rua", disse Neno, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná - Arquivo pessoal

O músico Odivaldo Carlos da Silva, conhecido como Neno, foi agredido na Rua Doutor Faivre, no Centro de Curitiba, em 22 de novembro. O crime foi registrado por câmeras de segurança. Ele chegava em casa quando se deparou com um homem armado com cassetete e faca e acompanhado de um cão, que recebeu ordem para que o atacasse, enquanto o dono dizia palavras racistas, segundo a vítima. Neno teve de levar cinco pontos no rosto e fraturou o maxilar em três lugares por conta das agressões.

O agressor, o segurança Paulo Cezar Bezerra da Silva, foi identificado pela Polícia Militar, mas acabou solto no mesmo dia. Só teve prisão novamente decretada pela Justiça, e foi detido, na quarta-feira (30). Inicialmente, o caso foi atendido Polícia Militar, que registrou a situação como lesão corporal.

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Porém, segundo Neno, durante as agressões o suspeito o chamou de “macaco” e de “negro sujo”. De acordo com o músico, o suspeito também disse que “morador de rua tem que apanhar”. O caso segue sob sigilo em investigação pela Polícia Civil, agora também sendo considerado o agravante de injúria racial.


Músico foi agredido no Centro de Curitiba, em 22 de novembro / Reprodução

Após a repercussão e divulgação nas redes, mais dois casos de violência cometidos pelo mesmo homem foram revelados. Os vídeos foram divulgados pelo jornal “Tribuna da Massa”.

A vereadora de Curitiba e deputada federal eleita Carol Dartora (PT) lamentou que o agressor tenha sido solto no dia do ataque. Segundo ela, a busca por Justiça para este caso vai continuar. A parlamentar encaminhou pedido de prisão do agressor ao Ministério Público e também fez ofícios à Defensoria Pública do Estado, Conselho Nacional de Direitos Humanos e Assessoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial solicitando acompanhamento do caso.

Três promotores de Justiça foram designados pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), por meio da Procuradoria-Geral de Justiça, para acompanhar as investigações relacionadas às agressões sofridas pelo músico.

Neno foi ouvido na manhã da segunda-feira (28) pelo delegado do 1º Distrito Policial, no Centro de Curitiba. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná, ele afirma estar sentindo tristeza e medo diante do que aconteceu.

Brasil de Fato: No dia, como você se sentiu ao ser agredido e ainda ouvindo aquelas palavras de racismo?

Neno: Fiquei assustado sem saber o porquê de tanta raiva do agressor, que nunca havia visto. Não estou acostumado com isso, sempre preguei o amor. Estou com ferimentos, levei cinco pontos, quebrei um dente e terei que fazer uma cirurgia e ainda o agressor está solto [a entrevista foi feita antes do novo pedido de prisão e consequente detenção do agressor].

O que mudou na sua rotina desde esse dia?

Mudou tudo, porque ainda estou me recuperando dos ferimentos, sinto medo de andar na rua. Mudou muito, não tenho como sair de casa desacompanhado, pois sinto verdadeiro temor de que aconteça algo semelhante e, por isso, também estou sem trabalhar.

Gostaria que me falasse um pouco sobre a sua vida aqui na cidade e se algo semelhante já havia acontecido com você.

Vivo aqui desde os 15 anos e nunca isso tinha me acontecido. Nunca passei por uma experiência tão séria e olha que comecei a tocar nos Estados Unidos. Já trabalhei em vários países e nunca passei por isso, hoje sinto medo. Espero que o mundo seja melhor. Não só pra mim, mas para todos.  

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini