Equipe de transição aperta os passos para reverter os estragos deixados pelo governo Bolsonaro
Olá! De Richarlison à Lira, o governo de frente amplíssima está em contagem regressiva para entrar em campo, apesar dos xeiques fundamentalistas das forças armadas.
.Jogo decisivo. Faltando um mês para assumir o poder, a equipe de transição aperta os passos para reverter os estragos deixados pelo governo Bolsonaro. O básico, é claro, parece muito tendo em vista que os serviços públicos agonizam com sucessivos cortes, especialmente na saúde e na educação. Ao todo, os doze GTs da equipe de transição vão apresentando seus planos e demandas. Na lista, estão coisas simples como a garantia de orçamento para a campanha de vacinação, para livros didáticos, para manter as universidades públicas funcionando, para reestruturar os órgãos ambientais, etc. Mas e o dinheiro? Esse depende da PEC da Transição. O texto protocolado no Congresso prevê a liberação de R$198 bilhões acima do teto por quatro anos, sendo R$175 bilhões para o bolsa família e o restante para investimentos públicos. O tema é central tendo em vista a continuidade da inflação dos alimentos e da tarifa da energia elétrica, que penalizam os mais pobres. Além disso, a criação de novos ministérios e secretarias, que pode chegar a trinta e dois, certamente demandará uma estruturação financeira à altura. O plano é que a tramitação da PEC ocorra até 16 de dezembro e o governo está aberto à negociação, o que pode ter impacto sobre o valor liberado e o prazo de vigência. Claro que, como contrapartida, Arthur Lira quer sua reeleição à presidência da Câmara, que já conta com uma base de apoio de 16 partidos, enquanto o PT ficaria com a presidência das Comissões mais relevantes. Em compensação, o orçamento secreto volta a ser tabu, com o PT adotando uma linha “depois a gente vê” enquanto Bolsonaro, aos 47 do segundo tempo, faz jogo de cena com um projeto de lei que suspende o pagamento das emendas parlamentares. Mas o que contou mesmo foi o rancor do capitão com os antigos aliados, que agora se bandeiam para o lado de Lula, incluindo o próprio líder do governo, Ricardo Barros, e seu PP. Por essas e outras, a equipe de transição está confiante, pois já conhece a protocolar ladainha do mercado e sabe que o dinheiro aparece quando há interesse político.
.Vai se criando um clima terrível. Existe um explicação simples para o fato da Defesa ser a única área que não possui um grupo de trabalho na gigantesca equipe de transição: não é possível distinguir diferença nenhuma entre os patriotas acampados em frente aos quartéis, os generais do alto comando do lado de dentro e o aquartelado Jair Bolsonaro. Entre os oficiais da ativa, há cada vez menos timidez em apoiar os protestos nos quartéis, como se vê pela presença de assessores do General Heleno, um dos idealizadores do golpe, e de oficiais da Marinha. Além disso, a defesa do golpe é feita sem constrangimentos dentro do Congresso por ex-desembargadores e parlamentares bolsonaristas, enquanto a antecipação da saída dos comandantes das três forças é interpretada como insubordinação e recusa em prestar continência para Lula. Um sinal de que o antipetismo está entranhado na genética verde-oliva e que não se resolverá com a especulada nomeação do ex-deputado José Múcio para a Defesa. Ao contrário, deve deixar tudo como está. O dilema dos três sujeitos - manifestantes, militares golpistas e Bolsonaro - também é o mesmo: esgotadas todas as saídas legais e jurídicas, como recuar e sair do beco em que se meteram sem admitir a derrota? No caso do alto comando é mais simples, basta continuar se comportando como casta e conspirando contra os civis, como fazem desde 1889. No caso dos manifestantes, depois de instigados novamente para um golpe que não veio, é possível que a frustração com as profecias não cumpridas resultem em violência, como já visto em Santa Catarina e nos feudos do agronegócio, o que inclusive derruba o argumento da direita de que são manifestações pacíficas. A situação mais complicada é justamente a de Jair Bolsonaro, prestes a ficar sem foro privilegiado. Bolsonaro conta com o aumento da temperatura dos protestos tanto para se manter como líder da direita, quanto para tentar impedir movimentos mais duros do Judiciário. Porém, o STF já mandou recados de que se quiser boa vontade no futuro, Bolsonaro deve desmobilizar os golpistas da frente dos quartéis. O problema é que o capitão não sabe como dispersar seus seguidores. Na dúvida, permanece em silêncio.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.O ruidoso colapso das criptomoedas. No Outras Palavras, Frances Coppola explica os detalhes do funcionamento do grande esquema de pirâmide financeira que são as criptomoedas.
.Ensaio: Nada deve parecer impossível de mudar. O Outras Palavras traz artigo de Alice Carabédian, sobre o caráter distópico de nossos dias e a necessidade urgente de retomada da utopia.
.“Estamos em um mundo sem direção política”. Entrevista com José Mujica. O ex-presidente do Uruguai fala do mundo pós-pandemia, de vacina, de fome e de catástrofe ecológica. E qualquer solução passa pela política. No IHU.
.Questões da Transição: Por dentro da guerra entre Trump e seus generais. Conheça os detalhes das relações tensas entre Trump e os militares e como isto foi decisivo para que o golpe do Capitólio desse errado. Na Pública.
.Bresser-Pereira: mercado não precisa estressar. ‘Teto de gastos é falácia liberal, fruto de golpe e nunca funcionou’. Na Rede Brasil Atual, o economista e ex-ministro que recentemente assinou carta de apoio a Lula explica porque a histeria do mercado é tão inútil quanto o teto de gastos.
.Como as milícias rurais dominaram Rondônia e quem é o homem por trás da mais poderosa delas. Herdeira da ditadura militar, a milícia rural de Rondônia conta com apoio do Governo Federal, figuras do Judiciário, e movimenta R$ 450 milhões, enquanto os Sem Terra são massacrados na região. No Brasil de Fato.
.As fotos que mostram como negros combateram o racismo em plena ditadura. No G1, a história e a memória do Movimento Negro Unificado, fundado em 1978, através da lente do fotógrafo Jesus Carlos Lucena Costa.
.Como 13º salário surgiu de greve geral após vitória do Brasil na Copa de 1962. Na BBC Brasil, Thais Carrança conta a longa história de lutas por direitos da classe trabalhadora brasileira. E uma delas veio logo depois do bicampeonato mundial.
Você pode ajudar o Brasil de Fato a continuar fazendo um jornalismo com uma visão popular do Brasil e do Mundo.
Acompanhe também os debates políticos no Tempero da Notícia e diariamente na Central do Brasil. Você pode assinar o Ponto e os outros boletins do Brasil de Fato neste link aqui.
Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Edição: Vivian Virissimo