Vazamentos de óleo em estruturas da Petrobras atingiram cursos d'água que fazem parte da bacia hidrográfica do rio Japaratuba, em Sergipe, inviabilizando o uso das águas e matando peixes na região do município de Carmópolis no último mês de novembro. Segundo denúncia do Sindicato dos Petroleiros em Alagoas e Sergipe (Sindipetro AL/SE), a empresa demorou a conter os derramamentos, o que piorou a situação.
De acordo com informações apuradas pelo Brasil de Fato junto aos petroleiros, houve dois episódios distintos. O primeiro no dia 8 de novembro, quando uma máquina de escavação atingiu um duto que passava por uma propriedade particular. O óleo vazado escorreu e atingiu um córrego conhecido como Riacho da Mariquita, que faz parte da bacia do Japaratuba.
A segunda denúncia é relativa a episódio do dia 16 de novembro, quando teria havido o rompimento de uma tubulação que transporta água oleosa, mistura de água com resíduos de petróleo. Vídeo gravado por petroleiros mostra o material jorrando no local onde houve o rompimento.
Nos dois casos, segundo os denunciantes, a Petrobras demorou a agir, o que fez com que as consequências fossem ainda piores para a bacia do Japaratuba.
"Estava jorrando bastante óleo, poluiu toda a superfície do rio e por aí ficou. Ficou por mais de 20 dias o pessoal cuidando da limpeza, e na minha opinião foi insuficiente, tinha pouca gente para fazer o trabalho. Não sei se não fizeram a limpeza completa, veio a chuva e levou o restante do óleo para o rio", contou o assessor da diretoria do Sindipetro, José de Assis Filho.
Após denúncia do sindicato, o deputado federal João Daniel (PT/SE) visitou a região e cobrou o poder público e a própria Petrobras para verificar as medidas que foram e estão sendo tomadas para diminuir os danos ambientais.
"Até o momento não obtivemos nenhuma resposta. [O óleo] atinge um rio muito importante, o Poções, que cai no rio Japaratuba, e tem muitos pescadores que sobrevivem daquilo ali. Eu vi a mortalidade dos peixes e a contaminação nos riachos no local onde houve o vazamento", lamentou.
O deputado e os petroleiros denunciam o sucateamento da estrutura da Petrobras em Sergipe. Em dezembro do ano passado a estatal confirmou a venda do polo de Carmópolis para o grupo espanhol Cobra. De lá pra cá, o número de funcionários diminuiu e a infraestrutura piorou.
"Não tem tido manutenção adequada, os petroleiros têm sido deslocados daqui para outras localidades do Brasil. Cerca de 10 mil petroleiros estão fora daqui agora. Foi um vazamento que ocorreu por falta de manutenção, por desprezo à questão de segurança ambiental e certamente segurança pessoal e segurança das instalações", denuncia o petroleiro Edmilson de Araújo, integrante do Conselho Fiscal do Sindipetro AL/SE.
Em nota, a Petrobras confirmou os dois incidentes. A companhia disse que houve um vazamento em adutora no dia 8 de novembro, causado por escavação mecanizada realizada por terceiros, e que a operação na instalação foi imediatamente suspensa e o vazamento foi sanado.
Ainda de acordo com a empresa, uma inspeção de rotina no dia 16 identificou furo no revestimento de um poço que estava parado e sem uso. Segundo a Petrobras, os trabalhos de limpeza foram concluídos e o monitoramento ambiental prossegue. Além disso, a companhia informa que não houve danos a pessoas e que os órgãos responsáveis foram notificados.
Procurado pelo Brasil de Fato, o Ministério Público do Sergipe não se manifestou. A reportagem também tentou contato com a Administração Estadual do Meio Ambiente de Sergipe (Adema) e a prefeitura de Carmópolis, mas não obteve retorno. Caso nossa equipe receba respostas, o texto será atualizado.
Este texto foi atualizado no dia 7 de dezembro de 2022, às 12h20, para inclusão de nota da Petrobras.
Edição: Rodrigo Durão Coelho