Atual titular da presidência do Peru para um mandato que só termina em 2026, Dina Boluarte pode ter "vida curta" no cargo. Essa é a aposta do cientista político André Káysel, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, Káysel afirmou que a situação política do país vizinho está longe de algo que possa ser chamado de "normalidade" há algum tempo. Prova disso é que Boluarte é a sexta pessoa a ocupar o cargo nos últimos seis anos.
Antes vice-presidenta, ela assumiu a titularidade na última quarta-feira (7) depois da tentativa de autogolpe por parte de Pedro Castillo, que chegou a ordenar a dissolução do congresso. Ele perdeu o cargo e foi preso.
"É importante dizer que a Constituição peruana prevê que o presidente possa dissolver o Congresso em determinadas circunstâncias, quando ele tem um gabinete recusado pela segunda vez. O problema é que essas condições não estavam dadas", destacou Káysel.
Castillo "caiu em uma armadilha"
Companheira de partido de Castillo, ou seja, eleita por uma legenda de esquerda, Boluarte assumiu o cargo com apoio de parlamentares de direita. O cientista político lembrou que o agora ex-presidente jamais teve condições de exercer plenamente o cargo, já que a oposição tentou derrubá-lo mesmo antes que ele assumisse. Boluarte pode ter de lidar com pressões semelhantes.
Antes de Castillo, os presidentes que foram destituídos ou renunciaram eram de direita ou centro-direita: Pedro Pablo Kuczynski, Martín Vizcarra, Manuel Merino e Francisco Sagasti. Káysel afirma que mesmo eles não tiveram força em meio a uma disputa de poder entre as elites tradicionais do país. A atual presidenta terá de lidar com esse mesmo sistema.
"Ela [Boluarte] assumiu, com apoio das bancadas de direita, se propondo a fazer um governo de união nacional. Supostamente ela vai terminar o mandato de Castillo, até julho de 2026. Mas acho isso pouco provável. Ao que tudo indica, esse governo terá uma vida curta, mais uma vez", afirmou.
Para o cientista político, Castillo pode ter "caído em uma armadilha" ao tentar dissolver o Congresso. Dirigente sindical da categoria dos professores, ele foi alçado à condição de líder político durante uma greve em 2017.
"Foi um governo que começou com condições extremamente desfavoráveis, e não houve por parte do presidente habilidade, nem de negociar, nem de mobilizar as suas bases para fazer pressão. Moral da história: lideranças populares não se improvisam", encerrou Káysel.
Edição: Glauco Faria