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Alavancando o Elpídio

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O resultado é que quando abriram a exposição, uma multidão curiosa esperava para ver o tal quadro - Creative Commons
Enquanto Elpídio fazia o quadro encomendado, Edmilson procurava donos de galerias de arte

Eu viajava muito para a Paraíba. Não tenho viajado mais e me lembrei de uma história divertida acontecida com dois amigos de lá. Elpídio Dantas e Edmilson. O Elpídio, que morreu em 2016, era um dos artistas mais famosos da Paraíba, mas só foi reconhecido graças a uma artimanha do Edmilson.

Como chargista do jornal O Norte, de João Pessoa, o Elpídio ganhava pouco e tentava ganhar uma grana a mais pintando quadros bonitos, que ninguém comprava. Um dia reclamou ao Edmilson, falando que não conseguia nem mesmo deixar seus quadros em galerias. 

Não aceitavam, porque ele era desconhecido. Exposições, então, nem pensar. Tentou várias vezes e as galerias nem davam bola pra ele.

O Edmilson se propôs a dar um jeito nisso. Falou: “Vou arrumar uma exposição sua numa galeria, mas enquanto isso pinte um quadro com Nossa Senhora grávida”.

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Enquanto o Elpídio fazia o quadro encomendado, o Edmilson procurava donos de galerias de arte e insistia. Com muito custo, conseguiu que uma delas topasse expor os quadros do Elpídio, mas numa exposição de apenas dois dias, aproveitando uma vaguinha entre exposições de famosos.

Aí é que o Edmilson mostrou que era um estrategista muito sábio. Começou a falar como se fosse segredo que “um tal de Elpídio” ia fazer uma exposição em que um quadro tinha Nossa Senhora grávida. 

Algumas pessoas acharam que era uma blasfêmia, que ele não podia fazer isso. Outras achavam legal, pois apesar de virgem, Nossa Senhora se engravidou do Espírito Santo. 

O tom de fofoca agitava as discussões, que chegaram até o Arcebispo. Ele achou que não era heresia e não excomungou o Elpídio, como alguns queriam.

Mais um causoFilho bem criado

O resultado é que quando abriram a exposição, uma multidão curiosa esperava para ver o tal quadro. Numa só noite ele vendeu todos os quadros, inclusive o da virgem grávida. Ganhou um dinheiro que precisava e a fama. 
Alguns anos depois, voltei a João Pessoa e vi que a capa da nova lista telefônica de lá era ilustrada por um trabalho do Elpídio. Uma bela pintura. 

Depois ele expôs em vários países da Europa, ficou famoso. Tudo por obra de uma manha do aparentemente ingênuo Edmilson. Enfim, para um artista fazer sucesso não basta ser competente. Um pouco de sorte ajuda, mas uma astúcia como a do Edmilson ajuda muito mais.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 

Edição: Douglas Matos