FOME NO BRASIL

MLB ocupa supermercados para pressionar por doações de cestas básicas no Natal

Em Fortaleza, manifestantes ocuparam um supermercado na Avenida Antônio Sales no último fim de semana

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) realizou ato nacional com ocupação de grandes redes de supermercados em dez capitais brasileiras no último fim de semana - Divulgação/ Facebook

O último fim de semana foi de luta para centenas de manifestantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) que realizaram um ato nacional e ocuparam grandes redes de supermercados em dez capitais brasileiras. As mobilizações fazem parte da campanha “Natal sem Fome e Sem Miséria”, que acontece há dez anos, em busca de doações de cestas básicas para famílias que vivem em contextos de vulnerabilidade.

Nas redes sociais, o MLB destaca que as doações feitas nessa época do ano, abastecem mais de 50.000 famílias nas 5 regiões do país. O movimento faz um alerta para o excesso de concentração de riqueza existente no país e denuncia a desigualdade social e econômica agravada pelo Governo Bolsonaro. Para a coordenadora geral do MLB, Poliana Souza, a fome chegou a níveis alarmantes.

“O Governo Bolsonaro colocou 125 milhões de pessoas em situação de fome no país, em algum grau de segurança alimentar. A maioria são mulheres e crianças. Além disso, as grandes redes de supermercado jogam fora todos os anos cerca de 270 milhões de toneladas de alimentos. Essa campanha garante que a gente atenda milhares de famílias muito pobres que não sabem se comerão no dia de Natal” defendeu nas redes.

Em Fortaleza, o MLB presta apoio a centenas de famílias durante o ano todo. De acordo com a coordenação local, o movimento organiza famílias em 8 ocupações na capital cearense. No último sábado (17), algumas dessas famílias ocuparam um supermercado na Avenida Antônio Sales, no bairro Joaquim Távora. Sob o lema “com luta, com garra, a cesta sai na marra”, os manifestantes realizaram uma ocupação pacífica para denunciar a situação de fome e miséria do país e exigir a doação de cestas básicas para alimentar de forma adequada, centenas de pessoas, durante as festas de fim de ano.

De acordo com a coordenação do movimento no Ceará, o supermercado não realizou nenhuma doação. A polícia foi chamada e as famílias saíram pacificamente. A trabalhadora Jocelma Oliveira, que integra a coordenação do MLB em Fortaleza, diz que o movimento abraça as causas da falta de moradia e da falta de alimentação, lutando por dignidade. "Eu não consigo dormir com o barulho de pessoas que estão com fome, ou das pessoas que estão vivendo na rua porque não conseguem pagar o aluguel e tem que escolher entre comer e morar. Então, o MLB não vai parar. Vamos continuar levantando nossas bandeiras", disse.

De acordo com os dados apresentados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional em 2022, são 33,1 milhões de pessoas em situação de fome no país. Cerca de 125 milhões de pessoas estão em algum grau de insegurança alimentar. Em contrapartida, o Relatório de Riqueza Global divulgado pelo Credit Suisse,  um dos principais grupos de investimento do mundo, apontou a existência de 266 mil milionários no Brasil, até o fim de 2021. Em 2020, esse número era de 207 mil.

Confira vídeo divulgado nas redes do MLB sobre a ação em Fortaleza

O Brasil de Fato entrou em contato com a rede de supermercado ocupada, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.

Fake news

Em meio aos atos democráticos que pedem doações de alimentos, o deputado estadual André Fernandes (PL) tentou criminalizar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), atribuindo à ação  promovida pelo MLB em Fortaleza ao MST. O deputado afirmou que estavam invadindo e tomando o controle do supermercado. Após ter a informação desmentida por internautas e seguidores, o parlamentar manteve a postagem nas suas redes sociais até à tarde de ontem, quando atualizou a postagem após contato com a reportagem. "Já atualizei dizendo que foi o MLB", disse ao Brasil de Fato.

A Revista Ceará também veiculou a informação falsa de que o MST teria coordenado à ocupação. Depois que o movimento soltou uma nota de repúdio, a publicação editou o post feito nas redes sociais.

Na nota, a coordenação do MST do Ceará rebateu e repudiou as acusações. "O MST do Ceará, vem a público repudiar a difusão de notícia falsa, acusando o movimento de invadir supermercados em Fortaleza exigindo cestas básicas. Isso não é verdade, façam apuração dos fatos e sigam os princípios éticos do jornalismo."

Procurada pelo Brasil de Fato, a revista Ceará não respondeu os contatos feitos por e-mail.

O deputado estadual eleito Missias do MST também repudiou a divulgação das notícias falsas sobre o movimento. "Ainda que o MST tivesse participado, não haveria problemas porque foi um movimento pacífico que não trouxe dano ao supermercado ou aos clientes. É apenas um protesto para chamar a atenção para a fome", ressaltou.

Ao Brasil de Fato, o parlamentar se solidarizou com os trabalhadores que ocuparam os supermercados. "Se o MST tivesse participado do movimento, seria uma ação legítima porque na situação que estamos vivendo, com muitas pessoas sem ter o que comer, é a única forma dos trabalhadores chamarem a atenção para a grande situação de pobreza que precisa de uma urgente solução. Não dá pra esperar o ano que vem para comer. A fome tem pressa", disse.

O parlamentar aproveitou para destacar que somente no Ceará, durante a pandemia, o MST fez a doação de 70 toneladas de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade.

Sobre o MST

Fundado oficialmente em 1984, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) luta pela reforma agrária e por justiça social num país que possui um dos maiores índices de concentração de terras e de renda do planeta. Enquanto luta por reforma agrária, o MST alimenta em média as 450 mil famílias assentadas com o que é produzido nos seus territórios conquistados. O que sobra é doado, como aconteceu na pandemia da covid-19, quando o Movimento doou mais de 6 mil toneladas de alimentos e mais de 1 milhão de marmitas para pessoas que voltaram à situação de fome e insegurança alimentar, em 24 estados do Brasil.

Outra parte do que é produzido pelo MST é comercializada nas feiras da agricultura familiar, onde as organizações e cooperativas vendem produtos agroecológicos. Além disso, a iniciativa aproxima o MST da população das grandes cidades, integrando as pessoas e dando a oportunidade delas entenderem a proporção e a importância do movimento.
 

Fonte: BdF Ceará

Edição: Camila Garcia