O desafio é que as pessoas tenham essa compreensão e as condições financeiras
Certamente você já ouviu a frase: “comer é um ato político”. Mas o que ela significa a fundo?
Basicamente, ela chama os consumidores e consumidoras a perceberem que todos os seus atos cotidianos têm também um teor político, reforçado ou enfraquecido pelas suas escolhas. E como comer é fundamental para a vida humana.
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Transformar o comer em um ato político não é apenas escolher nas eleições um candidato comprometido com a soberania alimentar. Trata-se também de fazer escolhas diárias que incentivem a fortalecem a chamada “comida de verdade”, aquela sem venenos, fresca, local, variada e produzida em sistemas familiares e orgânicos.
Com a agroecologia e a "comida de verdade" todo mundo ganha: quem planta, quem colhe, quem come e quem vive neste planeta, já que as produções agroecológicas são as mais saudáveis e sustentáveis para o meio ambiente.
“Quando podemos decidir o que comer, quando comer e que quantidade é o que define melhor que o ato de comer é político, quando você pode decidir a sua escolha", define o educador popular Alexandre Henrique Pires, coordenador do Centro Sabiá.
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Assim, é importante pensar na alimentação para além de um ato biológico, de manutenção da vida ou de prazer a mesa. Comer têm impactos ambientais, culturais e humanos, já que perpassa um sistema de produção, distribuição e comercialização dos alimentos.
E é ele que o consumir pode apoiar ou não quando escolhe onde comprar comida: o poder de compra pode fortalecer a agricultura familiar ou agronegócio, muitas vezes associado a monocultura, ao desmatamento e a expulsão de camponeses de suas terras.
Porém, como lembra Alexandre, só é possível aplicar esse princípio quando se tem dinheiro para escolher o que você vai comer.
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Sem uma política de garantia de renda para a população mais pobre, muitos acabam obrigados a escolher as opções mais baratas, em geral os alimentos ultraprocessados, vendidos por grandes redes de mercados.
“Por isso que dizemos que comer é um ato político. Quando temos as condições para definir o que comprar para comer, para definir o que eu vou produzir para comer. O desafio é que as pessoas tenham essa compreensão e as condições financeiras para comprar ou produzir o alimento, no caso de agricultoras e agricultores familiares”, diz.
Transformar o comer em um ato político passa por apoiar quem produz comida no Brasil, em geral os indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e assentados da reforma agrária, que por sua vez também possuem uma política de solidariedade e sustentabilidade.
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Ela foi reforçada durante a pandemia. Só o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra doou pelo menos 3.500 toneladas de alimentos de qualidade desde o começo da crise sanitária e econômica.
Além de ajudar na distribuição de alimentos durante a pandemia, comprar comida dos pequenos agricultores, comercializadas em feiras e pequenos hortifrutis, significa ajudar a manter as crianças do campo na escola, os indígenas em suas terras, os rios preservados e os pequenos produtores seguros, com trabalho e fartura, longe dos problemas sociais atrelados à pobreza.
*Essa reportagem teve como base o artigo “Comer: ato político”, da nutricionista e doutora em Sociologia Política, Elaine de Azevedo e contou com a colaboração do programa de rádio Cantos do Sabiá .
Edição: Daniel Lamir