cultura de volta

BdF Entrevista recebe Lilia Schwarcz, curadora de exposição que marca posse de Lula

Historiadora falou sobre mudança de postura do atual governo em relação ao anterior quando o assunto é cultura

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Entrevista com a historiadora foi gravada pouco antes da posse, quando a exposição já estava montada - Reprodução
Devemos descolonizar esse imaginário tão militarizado, e adicionar outros imaginários, outros ritos

A diferença entre as posturas do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL) em relação à cultura ficou clara pelos eventos de posse. Enquanto em 2019 não houve qualquer manifestação artística, em 2023 o dia em Brasília foi marcado pelo Festival do Futuro, com uma série de shows, e pela inauguração da exposição "Brasil do Futuro: as formas da democracia".

Uma das curadoras da mostra, a historiadora, antropóloga e escritora Lilia Schwarcz foi recebida pelo Brasil de Fato Entrevista nesta semana. Ela trabalhou ao lado do arquiteto Rogério Carvalho, ex-curador dos acervos dos palácios do Planalto e Alvorada; do ator Paulo Vieira e do secretário de Cultura do PT, Márcio Tavares, para a montagem da exposição, que está instalada no Museu Nacional da República.

"Foi uma tarefa muito rápida. O resultado das eleições saiu em 30 de outubro, a ideia de uma exposição nesse local começou a surgir na primeira semana de dezembro e nós tivemos, então, 20 dias para montar essa exposição", contou ao apresentador José Eduardo Bernardes.

As peças em exibição pretendem discutir a beleza da democracia em suas mais variadas manifestações. As obras ficam em exposição gratuitamente até o próximo dia 26 de fevereiro. A equipe de curadoria procurou retratar a diversidade da população brasileira.

"Nós tivemos que recorrer a acervos privados, a coleções privadas, a galerias que nos ajudaram muito. Também aos artistas, para que nós pudéssemos ter uma mostra como essa, que tem grande presença de mulheres, grande presença indígenas, negros, negras e negres e também da comunidade LGBTQIA+", explicou Schwarcz. 

"Nós vimos pelo mundo afora como desde 2016 começaram a aparecer, tomar forma e força, uma série de governos retrógrados, de extrema direita. Na democracia é muito boa a diferença, mas aqui nos referimos a governos que não têm nenhum respeito à democracia, à República, à cidadania e à Constituição", pontuou. 

Em entrevista gravada antes da cerimônia de posse, no último dia 1º, ela lembrou que todo o ritual da troca de governo tem muitas referências militarizadas, e afirmou que era possível mudar um pouco o cenário, mesmo sem retirar essas referências.

"Eu acho que devemos descolonizar esse imaginário tão militarizado, e adicionar outros imaginários, outros ritos, outras possibilidades. Que acho que é um pouco o que o governo Lula está fazendo agora nessa posse, ou seja, fazer uma posse para o povo. Fazer da posse uma festa cívica", citou.

Na entrevista, Schwarcz falou, ainda, sobre a presença nas redes sociais. Ela se tornou mais ativa desde o início das nomeações de ministros por Jair Bolsonaro, então no PSL, após a vitória nas eleições presidenciais de 2018.

"Eu não demonizo as redes. Eu sei que o governo Lula está pensando em um setor para as redes. Há muita desinformação sendo veiculada", contou, dizendo que é preciso "combater" esse processo. "É um serviço que a gente faz, informar as pessoas, as pessoas me agradecem muito, 'olha, não tinha entendido esse episódio e agora entendi'", citou.

Edição: Thalita Pires