O Peru continua imerso em uma profunda crise política, com episódios de violência estatal que se repetem desde que o ex-presidente Pedro Castillo foi destituído e preso no dia 7 de dezembro. Na noite da última segunda-feira (9), a repressão policial deixou 17 mortos, incluindo um socorrista que atendia as vítimas, e 52 feridos, em Juliaca, Puno, ao sul do país. O governador de Puno decretou três dias de luto pelas vítimas.
Em um mês de governo interino da presidenta Dina Boluarte, já são 45 mortos pelos confrontos entre manifestantes e polícia, segundo a Defensoria do Povo. "Solicitamos ao Estado que, em cumprimento do dever de assegurar e proteger os direitos fundamentais de todas as pessoas, disponha as medidas necessárias para atender os familiares das vítimas", publicaram em nota.
Desde o dia 4 de janeiro, sindicatos e organizações populares retomaram as mobilizações nas regiões de Puno, Arequipa, Cusco e Tacna para exigir a liberdade de Castillo, a destituição do Congresso e a convocatória de uma Assembleia Constituinte. Os manifestantes chegaram a bloquear o acesso aos maiores aeroportos da região sul do Peru.
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Diante desse quadro, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) anunciou uma nova visita ao país para verificar denúncias de violações aos direitos humanos.
A delegação será chefiada pelo Primeiro Vice-Presidente da CIDH e Relator para o Peru, Stuardo Ralón. A Comissão se reunirá com autoridades públicas, organizações da sociedade civil e outros atores relevantes, afirmam em comunicado. Como resultado da visita, a CIDH pretende publicar suas observações, conclusões e recomendações ao Estado peruano.
Há três semanas, a Comissão enviou uma delegação que visitou a prisão onde Castillo está detido, atendendo um pedido do ex-presidente.
A presidenta Dina Boluarte disse que "não entende o motivo das manifestações" e que as mortes são resultado das "atitudes violentas" de um setor mobilizado. O presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola, acusa Castillo, quem se encontra preso em uma prisão segurança máxima na região metropolitana de Lima, de coordenar os protestos em busca de um "golpe".
Otárola ainda anunciou, em mensagem televisiva em cadeia nacional na noite de segunda (9), que uma delegação do Executivo viajará à província de Puno para buscar estabelecer uma mesa de diálogo.
Nesta terça-feira (10), o presidente do Conselho de Ministros deve ir ao Congresso para expor quais são as decisões do Executivo sobre os atos ao Sul país. As declarações devem anteceder a discussão do voto de confiança ao gabinete de ministros conformado por Boluarte em dezembro.
"As mortes expressam a responsabilidade direta de quem quer dar um golpe de Estado", declarou Flavio Cruz Mamani, deputado pelo partido Peru Livre.
* Com informações de Prensa Latina, Telesur e RPP
Edição: Thales Schmidt