A ativista do clima sueca Greta Thunberg foi detida nesta terça-feira (17/01) pela polícia alemã em um protesto próximo ao vilarejo de Lützerath, que será destruído para a expansão de uma mina de carvão a céu aberto.
Imagens gravadas no local mostram Greta, vestida de preto, sendo carregada por policiais e depois levada até um ônibus da polícia. Uma porta-voz da polícia disse que um grupo de ativistas foi detido depois de se desgarrar de uma manifestação e correr para uma cratera na mina de carvão a céu aberto Garzweiler 2, a nove quilômetros de Lützerath.
As autoridades trabalham para identificar os manifestantes detidos nesta terça-feira, e as ações a serem tomadas serão decididas mais tarde, informou a porta-voz, acrescentando que Greta e os demais ativistas não foram formalmente presos.
O vilarejo se tornou nos últimos meses um ímã de ativistas do clima e símbolo da luta por um futuro menos poluente.
No último sábado, Greta se uniu a milhares de manifestantes em um protesto de grandes dimensões contra a demolição do vilarejo. Ao discursar no local, a ativista sueca declarou que "é uma vergonha que o governo alemão firme acordos e compromissos com empresas como a RWE", se referindo à empresa alemã de energia que tem os direitos de exploração do solo em Lützerath.
Confrontos com a polícia
"O carvão de Lützerath deve permanecer no solo", proclamou Greta diante dos manifestantes, pedindo para que não se sacrifique o clima às custas do "crescimento a curto prazo e da ganância empresarial".
No dia dos protestos, as tensões entre policiais e ativistas aumentaram, com as forças de segurança fazendo uso de canhões de água e cassetetes contra os manifestantes. Cerca de 20 ativistas ficaram feridos e foram levados ao hospital, disse um médico ligado a grupos de protesto.
No domingo, autoridades alemãs chegaram a afirmar que os ativistas climáticos que estavam empoleirados em árvores em Lützerath haviam sido retirados, um dia após uma série de confrontos entre manifestantes e forças de segurança.
"Não há mais ativistas no vilarejo de Lützerath", disse a polícia, acrescentando que as construções já haviam sido esvaziadas na sexta-feira, e agora 35 "estruturas em árvores" e quase 30 construções de madeira também haviam sido removidas.
Nesta segunda-feira, os dois últimos ativistas que ocupavam o vilarejo deixaram o túnel subterrâneo onde estavam escondidos, o que marcou o fim da evacuação da localidade.
Mas, em torno de 300 ativistas que participaram da ocupação de Lützerath ainda tentavam impedir a expansão de Garzweiler 2.
A polícia informou no domingo que cerca de 70 policiais ficaram feridos ao longo da semana passada, quando as forças de segurança começaram a expulsar as pessoas da área. Muitos desses policiais se feriram durante os confrontos de sábado.
Processos criminais foram instaurados em cerca de 150 casos, incluindo acusações relacionadas à resistência contra policiais e danos à propriedade.
Crise energética gerada pela guerra
O que resta da aldeia será arrasado para que a expansão de uma mina a céu aberto possa prosseguir. As atividades de mineração deverão ser retomadas nos próximos meses para atender à demanda energética ligada à crise de abastecimento que atingiu a Alemanha após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Ativistas climáticos argumentam que a vila e outras próximas não devem ser demolidas e o carvão sob elas deve ser deixado no solo e que a queima do linhito prejudica os esforços da Alemanha para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O governo alemão, por sua vez, alega que o país precisaria aumentar o uso de carvão para lidar com qualquer potencial escassez de suprimentos de energia após a invasão da Ucrânia pela Rússia. A RWE argumenta que o carvão na área é necessário para abastecer centrais durante os meses de inverno.
A empresa recebeu permissão para expandir a mina de linhito, após firmar um acordo com o governo alemão que garantiu a preservação de cinco vilarejos vizinhos a Lützerath. Além disso, a RWE se comprometeu a encerrar a produção de energia a partir do carvão no leste da Alemanha até 2030, oito anos antes do prazo previsto.
O ministro da Economia, Robert Habeck, do Partido Verde da Alemanha, disse em junho passado que o aumento da queima de carvão era "amargo", mas "simplesmente necessário" para reduzir o uso de gás. Antes da guerra na Ucrânia, a Alemanha obtinha grande parte de seu gás da Rússia.