Tudo composto pra Elza, falando da vida da Elza, que é um exemplo do que é a brasilidade
"Sexo e negritude". Segundo o produtor musical responsável por A Mulher do Fim do Mundo, Guilherme Kastrup, essa foi a resposta de Elza Soares quando ele perguntou: “o que você quer no álbum?”. No entanto, para chegar na intimidade dessa pergunta, Kastrup percorreu um longo caminho.
O desafio do produtor musical não era simples. Um disco composto apenas por canções inéditas e exclusivamente feitas para Elza Soares nunca havia acontecido. A Mulher do Fim do Mundo foi o primeiro, aos 85 anos de idade da cantora.
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Lançado em 2015, depois de outras 28 produções de estúdio da cantora, que morreu em 20 de janeiro de 2022, o trabalho recebeu dezenas de prêmios, inclusive o de “Cantora do Milênio", em 2000, pela BBC de Londres.
A obra fez um estrondo no país e também repercutiu internacionalmente. A produção garantiu premiações inéditas à Elza Soares, como o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.
Nenhum outro trabalho da artista havia colecionado tantas conquistas. A Mulher do Fim do Mundo ganhou o Troféu APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Prêmio da Música Brasileira, WME Awards (com melhor show), Rolling Stone Brasil e Prêmio Multishow de Música Brasileira (os dois últimos na categoria melhor canção, para a faixa do álbum Maria da Vila Matilde). Além de mais três indicações.
O trabalho surgiu após um hiato de 12 anos de novos lançamentos de Elza Soares. A espera se justificou imediatamente. Com o álbum, Elza se apresentou pela primeira vez no festival Rock in Rio. Foram realizados shows em diversas capitais do país, além da turnê internacional apresentada em Barcelona, Lisboa e Nova Iorque.
A pedra fundamental para a idealização do álbum aconteceu, mais ou menos, um ano antes do diálogo entre os dois citado no início da reportagem. Kastrup conta que o primeiro contato foi um convite feito a Elza para que ela gravasse uma faixa do álbum Eslavosamba, de Cacá Machado, no qual o produtor trabalhava.
A equipe contava com nomes como Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Celso Sim e Marcelo Cabral, turma que seria responsável por compor e executar as faixas de A Mulher do Fim do Mundo.
“Esse [A Mulher do Fim do Mundo] é um álbum pororoca, um álbum de encontro. Elza de um lado; e, do outro, esse grupo de artistas da cena de São Paulo. São artistas que já tinham uma história de vanguarda”, recorda Kastrup em entrevista à edição desta sexta-feira (20) do programa Bem Viver.
A ideia inicial era mais um álbum de releituras de sambas, algo que Elza havia feito a vida toda -- e sempre com perfeição. Kastrup conta que propôs para a cantora, que respondeu prontamente: “claro, vamos nessa, adorei."
Quando estava inscrevendo o projeto de um novo álbum de releituras de samba com Elza Soares em um edital de apoio à cultura, Kastrup recebeu um conselho do amigo, também músico, Renato Gonçalves. “Por que não propõe um de inéditas?”, foi o que ouviu o produtor.
Embora a ideia tivesse agradado Kastrup, integrantes da banda receberam com receio a proposta. Mesmo desaconselhado pela equipe do álbum, Kastrup narra que ficou "matutando a ideia" até resolver falar com a artista. "Liguei pra Elza, e ela disse: 'claro que toparia, vamos nessa, vamos nessa!'. Falou do jeitão dela, sempre empurrando as coisas pra cima”, relata.
Sonoro e político
O álbum desafiou a ordem das coisas, tanto pela sonoridade quanto pelo teor político. Na época da produção e lançamento do trabalho, o Brasil começava um processo de convulsão que só se agravaria nos anos seguintes. Em 2015, quando o convite a Elza foi feito, era o ano em que começava a se desenhar o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
“A gente estava acompanhando várias coisas, o início do golpe, a condução coercitiva do Lula, enfim, e também a ascensão do fascismo do país”, lembra Kastrup.
Enquanto que, musicalmente, o álbum contrariou a previsão de qualquer especialista. “O álbum tinha o colchão do samba, tudo foi montado a partir daí. Tudo era samba no princípio, mas foi sendo destrinchado em outros formatos.”, comenta o produtor musical.
“Tudo composto pra Elza, falando da vida da Elza, que é um exemplo do que é a brasilidade, um exemplo do povo brasileiro que pode superar todas as dificuldades a partir da potência que é a sua arte”, destaca.
Conceição
De tudo que representou trabalhar com Elza, uma das coisas mais marcantes para Kastrup foi conhecer Conceição.
“Elza, na intimidade, era Conceição, e eu tive o privilégio de conhecer a Elza Conceição. De ser recebido na casa dela, tomar café. Enfim, conhecer essa pessoa extremamente amável, humilde e que sempre tratava todo mundo de forma igual, independentemente de qualquer coisa, mesmo ela sendo essa rainha", exalta.
“Quando ela ia começar a cantar, muitas vezes, ela mesma falava: ‘calma aí que eu tô chamando a Elza Soares, ela já tá vindo'. E quando chegava no take bom, que era aquele com toda a carga de emoção e preciosismo que ela tinha, aí ela dizia ‘agora a Elza Soares chegou e tá presente", relata.
Com Elza, além de A Mulher do Fim do Mundo, Kastrup também foi responsável pelo álbum seguinte da cantora, Deus é Mulher, de 2018, eleito o 2º melhor disco brasileiro de 2018 pela revista Rolling Stone Brasil e um dos 25 melhores álbuns brasileiros do primeiro semestre de 2018 pela APCA.
O legado de Elza Soares é infinito. Para Kastrup, um ensinamento que ficou para ele foi trabalhar com mulheres negras. “Elza me deixou como herança uma atenção especial com mulheres negras. Recentemente eu produzi o álbum da cantora moçambicana Selma Uamusse."
Kastrup está por trás, também, do álbum Ubuntu, de Leila Maria, e está produzindo o novo trabalho da cantora Maíra Baldaia.
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Fora das produções musicais, Kastrup tem o trabalho próprio. Em 2013 o artista lançou seu primeiro álbum autoral, Kastrupismo, e, em 2014, o álbum Sons de Sobrevivência, em trio com os parceiros Benjamim Taubkin (piano) e Simone Sou (percussão).
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Edição: Geisa Marques