O Brasil chegou ao fim de 2022 com o recorde de 1.016 brasileiros que morreram por dengue. Esses dados são do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde e é o maior número de óbitos já registrado pela doença, desde o início do relatório. Segundo o Boletim, a Bahia notificou mais de 36 mil pessoas infectadas em 2022.
As manifestações clínicas iniciais da dengue são comuns e podem ser confundidas com outras viroses, inclusive com a Covid-19. A letalidade está associada à demora na identificação e no tratamento da doença, por isso é importante obter um diagnóstico preciso. Ainda de acordo com o Boletim, em 2022, outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti também tiveram acréscimo. A chikungunya teve um aumento 78,9% na contagem de casos quando comparada com o mesmo período em 2021 – que já era maior em 32,7% que a do ano anterior. Nos casos de zika, o aumento foi de 42%.
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A dengue é uma doença grave e pode matar
A dengue é uma velha conhecida do povo brasileiro. Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o responsável por surtos e epidemias que se repetem periodicamente, especialmente, em tempos de chuva. Portanto, no inverno ou mesmo no verão, na presença de chuvas abundantes, o acúmulo de água parada favorecem a proliferação do mosquito.
A médica e pesquisadora da Fiocruz Bahia, Viviane Boaventura destaca que, embora não se tenha um tratamento específico para a dengue, há como prevenir o espalhamento da doença controlando a proliferação do mosquito transmissor. Hoje, o problema é uma questão nacional, e as condições climáticas estão intimamente relacionadas com os surgimentos dessas epidemias.
Viviane explica que o período de chuvas favorece a proliferação do mosquito, porque ele encontra as condições ideais para o depósito dos ovos que, ao eclodirem, podem se reproduzir. “Nós temos visto, recentemente, com o aquecimento global, a mudança no perfil. Antigamente, a gente tinha um aumento do número de casos na região norte, nordeste. Hoje em dia, a gente já vê um crescimento nas regiões sul e sudeste também”, afirma.
Para vencer essa batalha é preciso o envolvimento de todas as pessoas e também do estado. “O controle da dengue exige ações de saúde pública, coordenadas e contínuas, que incluem educação da população para controle do vetor, medidas sanitárias e de vigilância”, alerta a médica que é também professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Famed/UFBA).
“Aprimorar medidas de vigilância utilizando ferramentas mais modernas pode ajudar a identificar áreas sob risco, detectar precocemente o início da pandemia e facilitar o controle de forma a evitar o número de óbitos”, declara ao enumerar as ações preventivas que cabem ao estado.
Como evitar os agravamentos da dengue
Viviane Boaventura atua, principalmente, nas áreas de imunologia e diagnóstico de doenças transmitidas por vetores (leishmaniose e arboviroses) e doenças virais. Ela explica que se suspeita de dengue quando há presença de febre aguda com duração de até sete dias, acompanhada de, pelo menos, dois outros sintomas associados. “Cefaleia, dor atrás dos olhos, dor no corpo, nas articulações, prostração, manchas no corpo, associados ou não com a presença de quadros hemorrágicos, como sangramentos nas gengivas e fezes com sangue”, são indicativos de suspeita, afirma a médica.
Nas crianças, a dengue pode se apresentar de maneira menos típica, mas carece de iguais cuidados e atenções. “Na infância, é mais comum quadro de apatia, sonolência, vômitos e diarreia. Esses sintomas facilmente se confundem com os sintomas de outras arboviroses, como chikungunya e zika. Entretanto, na dengue, podem surgir sinais de alarme entre o terceiro e sétimo dia da doença”, explica Boaventura.
Por isso, de acordo com a médica, é preciso estar atento a sinais de alarme nesse período em que, normalmente, a febre desaparece e os cuidados são mais suavizados. “Atenção redobrada para esse período. Geralmente, quando a febre cede, podem surgir vômitos, dor abdominal intensa, falta de ar, queda da pressão, diminuição da diurese, da urina, queda da temperatura corporal ou até mesmo a hemorragia”, alerta.
A médica orienta procurar assistência médica em caso de arbovirose e, em casa, hidratar-se e evitar a automedicação, principalmente, evitar o uso de anti-inflamatórios e, mais especificamente, do anti-inflamatório ácido acetilsalicílico (ASS).
COVID-19 e Dengue
A Covid e a dengue apresentam sobreposição de sintomas o que pode dificultar o diagnóstico e atrasar o tratamento. Alguns sintomas são comuns para as duas condições clínicas. “Dor de cabeça, dor no corpo, cansaço, fadiga e febre são sintomas semelhantes. O que torna o diagnóstico diferencial desafiador”, declara Boaventura que reforça a necessidade de um diagnostico preciso para evitar complicações.
“Os sintomas podem ser parecidos, mas o manejo clínico, o tratamento das duas doenças são completamente diferentes. Corticoisteroides e anticoagulantes podem ser usados no tratamento da Covid-19, mas geralmente não são prescritos no tratamento da dengue hemorrágica, por exemplo”, afirma.
A alta de casos fatais, geralmente associados ao diagnóstico tardio da doença, pode ter relação com o desvio das atenções ou equívocos no tratamento. Boaventura aposta na boa vigilância e orientação da população, como caminhos para prevenir os óbitos.
“Oferecer medidas precoces de suporte são essenciais para evitar as complicações”, explica e acrescenta. “Existe uma vacina licenciada para dengue no Brasil, porém essa vacina tem uso restrito para caso de pessoas que já tiveram dengue no passado”, declara a médica que atua como pesquisadora e participa do estudo para desenvolvimento da vacina da dengue do Butantan em parceria com a Fiocruz.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Gabriela Amorim