Forma mais tradicional de consumo do fruto é com farinha e acompanhado de um café
Não é novidade que o Brasil é rico em frutos nativos muito saudáveis e saborosos. Mas o que chama a atenção são seus usos diversos, que muitas vezes vão muito além da alimentação.
É o caso do piquiá-amazônico, fruto típico da região, que além de ser muito nutritivo também é usado na fabricação de sabão artesanal o no tingimento de tecidos.
“A casca é usada para fazer sabão ou tinta para tingir redes e fios. A forma tradicional de fabricação é realizada quando as cascas são misturadas em sebo por 24 horas e, acrescentando outros ingredientes, a mistura é levada ao fogo. A partir dela é possível produzir sabão ou o tanino, que substitui o noz-de-galha na produção de tintas”, conta a nutricionista paraense Nádia Fernandes.
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“Como o piquiá é composto por 65% de casca, basta a coleta de alguns frutos para que se tenha uma excelente produção”, completa Nádia, que é doutora em antropologia da alimentação.
O piquiazeiro, árvore que dá o piquiá-amazônico, é reconhecido pela sua beleza, com uma copa grande e frondosa, que se destaca na floresta. A árvore pode chegar aos 50 metros de altura, o equivalente a um prédio de 15 andares, e a um diâmetro de até 2,5 metros no tronco.
O fruto é encontrado em grande parte da Amazônia, com maior concentração na região de região de terra firme ao longo do Rio Amazonas.
Ele também está presente no Pará, Amapá e Maranhão e com menor incidência no Tocantins e no Mato Grosso. Algumas vezes, inclusive, ele chega a ser confundido com o pequi, típico do cerrado brasileiro.
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“Existem outros tipos de variedades de piquiá, em outras regiões do país, como o pequi, comum em Goiás. A diferença é que o piquiá amazônico não tem espinhos no cento do caroço”, conta Nádia.
Além de ser uma iguaria deliciosa, com sabor e cheiro muito peculiar, o piquiá-amazônico é muito saudável e rico nas chamadas gorduras boas gorduras, que quando bem incluídas na alimentação ajudam a regular funções hormonais e controlar os níveis glicêmicos no sangue.
“O piquiá apresenta polpa amarelada rica em boa gordura. Essa polpa é composta por 72% de óleo, 14% de fibras e 11% de outros carboidratos, além de proteína. Esse óleo é altamente saudável por apresentar compostos fenólicos que são elementos com propriedades anti-inflamatórias. E por ser um óleo vegetal se torna uma excelente fonte de energia”, diz Nádia.
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Chama a atenção também o consumo deste fruto, que tradicionalmente é misturado na farinha e acompanhado de um bom cafezinho. Nádia lembra que o piquiá-amazônico só é comestível após o cozimento - fundamental para amolecer a casca e cozinhar polpa - o que ajuda a preservar os nutrientes.
"Essa polpa é uma delícia com farinha e café. As crianças consomem roendo o mesmo, mas em outros lugares da Amazônia as pessoas raspam a polpa e comem com arroz e carne, mas nunca cozido com a comida”, diz.
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“Outra forma de aproveitar as propriedades nutricionais do alimento é consumir o óleo extraído da polpa, que é muito usado para fritar peixe. Por ser um óleo natural a saturação dele é alta, ajudando a não aumentar o índice de colesterol com essa refeição”, acrescenta a nutricionista.
Apesar de ser uma preferência entre a população da Amazônia, o piquiá não é encontrado o ano todo. Os melhores meses para comer o fruto vão de fevereiro a abril.
A dica para quem quer experimentar e incluir esse alimento na dieta é procurar agricultores ou feirantes que indiquem frutos que estejam no ponto ideal para consumo, evitando que você escolha algum muito amargo.
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Além disso, é importante estar atento às contra-indicações do fruto: ele não é recomendado para pessoas que precisaram retirar a vesícula ou que possuem esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado.
“Essas pessoas, por não digerirem altos índices de gordura podem agravar seu quatro apresentando sintomas que vão desde enjoos e vómito até alergias e diarreia”, alerta.
Em qualquer outro caso, o consumo do piquiá-amazônico é uma escolha que promove saúde e da valoriza dos frutos regionais e nativos do Brasil.
Edição: Douglas Matos