O senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro (PL), pasta que era responsável por boa parte da execução de obras públicas com recursos federais, teve doações milionários de empresários ligados à construção civil para sua campanha nas eleições de 2022.
Derrotado na disputa pela presidência do Senado em sessão na última quarta-feira (1º), Marinho recebeu pelo menos duas grandes doações de empresários ligados à indústria de cimento, siderurgia e construção civil. A maior delas foi de R$ 920 mil, divididos em quatro parcelas, do empresário Sérgio Henrique Andrade de Azevedo.
O doador de Marinho é o atual presidente do Sindicato da Indústria de Produtos de Cimento do Estado do Rio Grande do Norte (Siprocim), uma entidade patronal que representa empresários do ramo. De acordo com dados registrados na Receita Federal, Azevedo tem participação em pelo menos 40 empresas em cinco estados brasileiros.
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A segunda maior doação ao senador bolsonarista foi feita por Rubens dos Santos, empresário ligado à indústria de cimento e siderurgia, com mais de 100 empresas registradas em seu nome. Ele é sócio do banqueiro bilionário Benjamin Steinbruch e de outros integrantes da família, que controla a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Na eleição de 2018, quando foi eleito deputado federal, Marinho não teve nenhum grande empresário da construção civil como doador. As relações, portanto, podem ter sido cultivadas durante o período em que chefiou, no governo Bolsonaro, o Ministério do Desenvolvimento Regional (que englobava duas pastas do atual governo Lula: Integração Nacional e Cidades).
Na relação de doadores do pleito do ano passado, o advogado Caio César Vieira Rocha e os empresários do agronegócio Odílio Balbinotti Filho e Normando Corral aparecem como doadores de Marinho, responsáveis pela transferência de R$ 100 mil cada. O CEO da Três Corações, maior empresa brasileira de café, Pedro Lima, doou R$ 75 mil ao político.
Também aparecem entre os principais doadores de Marinho, em 2022, três integrantes da família Rocha, dona do grupo Riachuelo: Flávio Gurgel Rocha (que já fez incursões no mundo político e já chegou a lançar pré-candidatura à Presidência da República), Lisiane Gurgel Rocha e Élvio Gurgel Rocha. Todos eles fizeram doações no mesmo valor: R$ 66 mil.
Os maiores doadores de Marinho; leia ranking
Sérgio Henrique Andrade de Azevedo
Valor: R$ 920 mil;
Indústria: mineração e cimento.
Rubens dos Santos
Valor: R$ 200 mil;
Indústria: siderurgia e cimento.
Caio César Vieira da Rocha
Valor: R$ 100 mil;
Indústria: advogado.
Normando Corral
Valor: R$ 100 mil;
Indústria: agronegócio.
Odílio Balbinotti Filho
Valor: R$ 100 mil;
Indústria: agronegócio.
Pedro Lima
Valor: R$ 75 mil;
Indústria: café.
Flávio, Élvio e Lisiane Rocha
Valor: R$ 66 mil cada, totalizando R$ 198 mil;
Indústria: comércio.
Reformas, Orçamento Secreto e Codevasf
Rogério Marinho, que já foi filiado ao PSDB e, no início da trajetória política, ao PSB, é atualmente bolsonarista de carteirinha. Eleito pela primeira vez como vereador de Natal em 2004, ganhou projeção nacional como ferrenho defensor de reformas que retiram direitos da classe trabalhadora.
Já como deputado federal, atuou como relator da Reforma Trabalhista do ex-presidente Michel Temer (MDB), depois como secretário especial da Previdência do Ministério da Economia, chefiado pelo ex-ministro Paulo Guedes, no governo Bolsonaro.
No posto, criado pela equipe econômica articular a aprovação da reforma da Previdência no Congresso Nacional, ganhou destaque nos principais veículos de comunicação do país e prestígio junto à cúpula do governo e do Legislativo.
Como prêmio pela aprovação do projeto, Rogério Marinho foi nomeado ministro do Desenvolvimento Regional - cargo que ocupou de 2020 a 2022. A pasta, além de concentrar temas ligados às atuais pasta de Cidades e Integração Regional, era responsável por obras da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
O órgão foi envolvido em uma série de denúncias de corrupção durante o governo Bolsonaro e é investigado pela Controladoria Geral da União (CGU). A Codevasf foi "a campeã", dentre todas as instituições do governo, em execução de emendas provenientes do escândalo do Orçamento Secreto.
Esperança do bolsonarismo no Senado
Com apoio de Bolsonaro na campanha pela presidência do Senado, Rogério Marinho se fortaleceu, nesta semana, mesmo com a derrota na disputa pela presidência do Senado, como um dos principais líderes da oposição ao governo Lula.
Em discurso no plenário, Marinho reiterou a importância da liberdade de expressão, sinalizando ao bolsonarismo, e fez críticas à atuação dita política do Supremo Tribunal Federal (STF).
Com essa postura, o senador se apresenta para liderar o bolsonarismo no Congresso, disputando o posto com colegas como Sergio Moro (União Brasil-PR), Hamilton Mourão (Republicanos-RJ) e Damares Alves (Republicanos-DF).
Maior partido da Casa logo depois do pleito de 2022, o PL está atualmente na condição de segundo mais numeroso, com 13 integrantes. Perdeu o primeiro lugar para o PSD de Gilberto Kassab, que soma 15, após inflar a legenda nos últimos dias.
Edição: Thalita Pires