histórias diversas

Projetos de escritoras negras fortalecem a luta contra o racismo e machismo na literatura

O Sarau das Pretas e o Lendo Mulheres Negras são exemplo de articulação de palavras e experiências contra injustiças

Ouça o áudio:

Carmen Faustino é autora do livro "Estado de libido" - Projeto Lendo Mulheres Negras
Sou minha fonte de prazer e cura. Meu abrigo de amor e água sagradas

Apesar da importância de suas publicações, várias escritoras negras no Brasil se deparam com o peso do racismo e do machismo na literatura do país. Com uma arte potente contra as injustiças, elas encaram o cenário histórico lutando por reconhecimento do trabalho e da valorização de vidas ancestrais.

Uma delas é Elizandra Souza, poeta e jornalista, autora do livro “Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta?". Confira um trecho da publicação:  

Tem dias que a loucura mescla com a solidão. E eu me vi várias vezes vagando sem destino certo. Tenho medo de que não se lembrem que viemos de longe e precisamos prosseguir. Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta?

Diante de uma literatura brasileira constituída predominantemente por homens brancos, Elizandra Souza defende as narrativas das mulheres pretas como forma de reconhecimento das muitas histórias em jogo no Brasil. 

“É importante porque a gente diversifica a narrativa. Compreendemos que o Brasil é plural e não com uma única narrativa. Temos várias histórias e dentro dessa produção da mulher negra tem diversas visões, pontos de vista e lugares de fala”, afirma Souza. 

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As palavras de Elizandra apontam uma revisão nas lentes machistas e racistas na literatura quando são considerados nomes como Maria Caroline de Jesus, Lélia Gonzalez e Maria Firmina.    

Para a escritora Mariana Vilela é preciso superar o silenciamento das vozes de mulheres negras também no setor.

“Elas contam muito a história do Brasil, mas essas vozes não foram escutadas devido a grande resistência do movimento negro e dessas mulheres, porque num contexto onde elas sofrem as duas opressões, que é o machismo e o racismo, estando na base da sociedade. Então esse é o retrato dessa estrutura social e econômica, porque todas nossas referências são de homens brancos?”, questiona Vilela. 

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Projetos

Diante das dificuldades, projetos pensados por mulheres negras têm fortalecido suas produções e ecoado suas vozes através da escrita. Alguns exemplos, de muitos existentes, são o Sarau das Pretas, em São Paulo, e Lendo Mulheres Negras, na Bahia, ambas são iniciativas que surgem com o objetivo de expandir a narrativa delas.

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A escritora Carmen Faustino propõe que a população conheça mais sobre a literatura feita por mulheres negras. 

“É justamente poder ter a oportunidade de conhecer outras narrativas e poder criar novos imaginários positivos. Imaginários que contém a verdadeira história. Imaginários de realeza, de dignidade e resistência de mulheres negras”, defende Faustino.

Essa mensagem de Carmen é potente também na poesia: 

Construção. Meu corpo é espaço de criação e força motriz, onde aprendo a cada curva edificar um templo meu, movimentar meus desejos e alinhar a vista turva da mente pálida e distorcida que segue a realeza negra. Sou minha fonte de prazer e cura. Meu abrigo de amor e água sagradas

Conheça mais sobre os projetos @saraudaspretas e @lendomulherespretas.

Edição: Daniel Lamir