Eram 15h em Brasília quando começou o quebra-quebra. Centenas de pessoas desciam a Esplanada em direção ao Congresso numa manifestação golpista e pela intervenção militar. Do lado de fora dos prédios da Câmara, do Senado, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal, havia pouca resistência da polícia.
Do lado de dentro dos prédios, a segurança tentava conter os vândalos como podia: com bombas e gás lacrimogêneo.
O presidente Lula estava em Araraquara, interior de São Paulo, numa viagem para ver de perto os estragos provocados pela chuva. E logo veio o decreto de intervenção na segurança pública do Distrito Federal por 30 dias. E reforço no policiamento da Esplanada como Exército e o batalhão de elite das policias.
Desde cedo, o ministro da Justiça, Flávio Dino, acompanhava do local o que estava ocorrendo. Somente ali, no próprio domingo, mais de 300 pessoas foram presas em flagrante. Os crimes? Os mais diversos: atos terroristas, golpe de estado, ameaça, incitação ao crime. Penas que juntas podem chegar a 20 anos de prisão. Poucas horas depois dos ataques, Dino reafirmou a importância da Democracia.
E o prejuízo foi milionário. Destruição de obras de valor inestimável, como uma tela de Di Cavalcanti, do acervo do Planalto, orçada em R$ 8 milhões. Um relógio pêndulo do século XVII e que pertencia a D.João VI. Uma escultura de Bruno Giorgi e um painel de Athos Bulcão na Câmara. Isso sem contar as mesas, cadeiras, computadores atingidos. O estrago maior foi no plenário do Supremo Tribunal Federal, que precisou de reposição de praticamente todos os móveis.
No dia seguinte, enquanto a equipe de restauradores e da limpeza entrava em ação, a polícia levava para a detenção os envolvidos e desmontava o acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília. De onde vinham as orientações para essa ação golpista, segundo o interventor, Ricardo Cappelli.
E os financiadores foram um dos alvos das investigações. Ricardo Cappelli disse que foi possível fazer uma radiografia de onde vinham os ônibus para Brasília com pessoas que pretendiam participar do ato.
Anderson Torres, então secretário de segurança do Distrito Federal, foi preso. Na casa dele foi encontrada uma minuta de decreto para instaurar um estado de defesa no TSE e, com isso, anular o resultado das eleições.
O governador do DF, Ibaneis Rocha, foi afastado. Os dois, em depoimento, se isentaram de responsabilidade. Mas, no relatório final, o interventor, Ricardo Cappelli, foi bem claro. Houve omissão por parte das autoridades, como confirmou em entrevista exclusiva à Rádio Nacional.
O fato é que hoje, 30 dias depois dessa tentativa de golpe, centenas de pessoas ainda estão presas. Mais de 100 mil denúncias encaminhadas por e-mail foram analisadas. A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu o bloqueio dos bens dos presos, num total de R$ 18 milhões.
Anderson Torres continua preso e Ibaneis Rocha ainda está afastado. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi incluído no inquérito, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, e as investigações continuam. Nesta terça-feira (7), quatro policiais militares foram presos na quinta fase da Operação Lesa Pátria.