Tanto a Casa Branca quanto o governo brasileiro destacam: nas agendas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Washington, que ocorrem a partir desta sexta-feira (10), a preservação ambiental será protagonista. Desde a campanha eleitoral no Brasil, em 2022, e da eleição de Joe Biden nos EUA, que assumiu a presidência dos EUA em janeiro de 2021, o tema aparece como central numa possível reaproximação entre os dois países, saídos de governos de extrema direita.
No entanto, tal parceria no campo ambiental tem limites, alerta a pesquisadora Lívia Peres Milani, do pós-doutorado no Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/PUC-SP/Unicamp). Em debate com Donald Trump em 2020, Biden chegou a afirmar que poderia oferecer até US$ 20 bilhões para impedir a destruição ambiental em outros países. "As florestas tropicais do Brasil estão sendo derrubadas, estão sendo destroçadas", afirmou o então candidato do Partido Democrata. Lula, por sua vez, já prometeu buscar a meta de desmatamento zero no Brasil.
Lula está nos Estados Unidos acompanhado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que já se encontrou com o enviado especial dos EUA sobre o Clima, John Kerry. Após reunião ocorrida na COP 27, em novembro, Marina afirmou ter convidado os estadunidenses para integrar o Fundo Amazônia, iniciativa brasileira que conta com financiamento de países como Noruega e Alemanha para a preservação ambiental.
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Na avaliação de Milani, portanto, uma cooperação entre Brasil e EUA para enfrentar a emergência climática pode acontecer, mas é preciso levar em consideração que a Casa Branca buscará fazer isso de uma perspectiva de uma "economia verde".
"Muitas vezes fora do Brasil a questão da preservação da Amazônia é pensada como preservação da floresta, mas sem pensar nas populações que moram ali e cuidam da floresta. Não necessariamente a perspectiva dos EUA vai ser a mesma dos movimentos indígenas no Brasil", diz a pesquisadora ao Brasil de Fato.
Biden não apoia o Green New Deal, uma proposta de política ambiental patrocinada por uma ala mais à esquerda do Partido Democrata. Embora o presidente dos EUA tenha propostas para a política ambiental e não seja um negacionista da emergência climática como seu antecessor no cargo, suas metas não são tão ambiciosas quanto as do Green New Deal.
Nesse sentido, algumas propostas para enfrentar a emergência climática podem ser uma falsa solução. Em 2021, Biden visitou uma fábrica da GM e foi filmado dirigindo um Hummer elétrico, uma picape de 4,5 toneladas. A publicidade com o presidente ajudou a fabricante de carros a aumentar suas vendas.
Cálculos da Quartz, todavia, mostram que o Hummer elétrico é pior para o meio ambiente do que um carro a gasolina de pequeno porte. Como 61% da energia elétrica dos EUA vem de combustíveis fósseis, a eficiência energética de um Hummer é menor do que a de um Toyota Corolla. São 276 gramas de carbono emitidas para cada milha percorrida por um Hummer, contra 269 gramas de carbono por milha do Corolla.
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Pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos Sobre os Estados Unidos, Milani destaca que, portanto, Biden pode buscar oferecer parcerias mais ao "centro" para Lula, já que a cooperação entre os dois países costuma ser influenciada pela perspectiva liberal da Casa Branca.
Além disso, Milani destaca que os Estados Unidos costumam promover uma agenda internacional aliada à sua pauta econômica e que a Casa Branca não se opõe a uma liderança regional do Brasil na América Latina — desde que dentro de certos limites.
"Os EUA nunca foram contrários à ideia de uma maior liderança, protagonismo brasileiro, especialmente na América do Sul. Só que eles entendem que esse protagonismo brasileiro deve ser, no termo que geralmente aparece nos discursos do Departamento de Estado dos EUA, do Departamento de Defesa e da Casa Branca, 'responsável'. A ideia de responsável tem relação com a aderência a uma perspectiva, uma visão de mundo mais liberal, que sempre parte dos EUA. A noção que o Brasil deve contribuir para a estabilidade sul-americana, a noção de que o Brasil tem um papel de minimizar gestos que vão muito à esquerda", afirma.
Edição: Arturo Hartmann