A segunda edição do Encontro Brasileiro de Meninas e Mulheres da Astrofísica, Cosmologia e Gravitação teve “clima de esperança”, descreveu a idealizadora da iniciativa e pesquisadora Tays Miranda, que realiza pós-doutorado na Finlândia na área de Cosmologia.
Criado para reunir pesquisadoras de diferentes frentes para debater ciência e desigualdades dentro da academia, o evento foi realizado nos dias 7 e 10 de fevereiro de forma virtual, reunindo centenas de participantes.
“A ideia surgiu de duas pesquisadoras pistolas, foi isso que aconteceu. Hoje eu tenho muito orgulho de falar, mas na época que pensamos no evento, meados de 2020, era um muito difícil pra todo mundo”, explica Miranda.
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Portanto, segundo a pesquisadora, o objetivo foi “criar uma maneira de canalizar pra algo positivo uma frustração que a gente tinha naquele momento. O primeiro projeto foi de algo difícil. A segunda edição foi completamente diferente. O primeiro foi uma espécie de grito de desespero e o segundo como uma esperança.”
Além da pandemia, o que trouxe o sentimento de desespero, descrito pela cientista, foi a gestão Bolsonaro. "Os últimos quatro anos nunca poderão ser esquecidos, o que vivemos foi algo que precisa ser lembrado".
Já a palavra "esperança", surgiu por conta das primeiras ações do novo governo, que sinalizam, segundo Miranda, apoio à ciência. "A escolha de uma mulher, Luciana Santos, para ser ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação é a prova disso", exemplifica a cientista.
“A gente tem muita mulher incrível fazendo pesquisa no Brasil, e a gente não sabe. Nem as mulheres que estão na academia sabem. E a gente viu essa necessidade de construir essa ponte”, explica a pesquisadora
Miranda é doutora em Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e realizou doutorado na Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, como pesquisadora visitante no Instituto de Gravitação e Cosmologia (ICG). Atualmente é pós-doutoranda na Universidade de Jyväskylä na Finlândia. Atuando na área de Cosmologia com interesse em: Modelos Alternativos de Gravitação, Modelos Inflacionários, Modelos Colapsantes, Efeitos Estocásticos e Universo Primordial.
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Como forma de incentivar meninas a se aventurarem no mundo da ciência, a pesquisadora afirma que tudo começou “olhando pras estrelas, como é com toda criança que também tem curiosidade”. Hoje, apesar de viver a milhares de quilômetros do Brasil, Miranda explica "que não tem como esquecer, sou muito apegada a minha família e minha cidade", afirma a pesquisadora nascida em Belém (PA).
Participação ilustre
No último dia do evento, as pesquisadoras tiveram oportunidade de acompanhar a palestra da professora Jocelyn Bell-Burnell, Universidade de Dundee & Universidade de Oxford, responsável por descobrir, em 1967, os objetos astronômicos ao qual conhecemos, hoje, como pulsares.
Também chamadas de estrelas de nêutrons, este fenômeno é famoso por conta do campo magnético muito grande que possuem e que, ao fazerem rotações, feixes de radiação escapam pelos pólos magnéticos criando uma luminosidade como um farol no universo.
A polêmica que envolve a descoberta é que a pesquisadora nunca foi devidamente premiada. Quando Burnell divulgou o conhecimento astronômico para o mundo, ela era orientada pelo professor Antony Hewish e tinha em sua equipe o colega astrônomo Martin Ryle, que ganharam o Prêmio Nobel de Física em 1974 por conta da descoberta de Bell Burnell, no lugar dela.
“Ela é uma inspiração para muitas, se não todas, essas jovens Astrocientistas, e generosamente aceitou o convite de vir contar um pouco de sua história para a comunidade física brasileira e celebrar esse dia tão significativo para todas as mulheres nesta carreira”, comenta Miranda
As Astrocientistas - II Encontro Brasileiro de Meninas e Mulheres da Astrofísica, Cosmologia e Gravitação, realizado entre os dias 7 e 10 de fevereiro, contou com palestras e debates voltados para os temas: Divulgação Científica e Atuação Feminina; Astrociências - Desafios e Perspectivas Futuras; Mulheres e Meninas da Ciência - Estratégias para Fortalecer a Comunidade.
Edição: Lucas Weber