O Brasil pode estar se aproximando de uma nova onda de aumento de casos e mortes por covid-19, que corre o risco de ser potencializada pelo Carnaval. Em análise do cenário das últimas semanas, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, observa o início de uma tendência de aumento de casos, mesmo com as subnotificações. Ele também vê com preocupação a alta de internações no estado de São Paulo.
Segundo o especialista, o abandono de medidas de prevenção diminuiu os obstáculos para propagação do coronavírus. Além disso, ainda há pessoas com o esquema de vacinação incompleto. São fatores que abrem espaço para o surgimento de novas cepas.
"Como estamos transmitindo o vírus praticamente sem barreira, a transmissão está livre, leve e solta. O que acontece quando o vírus tem oportunidade de entrar num corpo e atingir as células? Ele tem oportunidade de mutação. Por isso estamos vendo mais variantes seguidamente. Muita gente está contraindo. Por mais que não fique grave, acaba proporcionando essas oportunidades de mutação para o vírus", explica.
Coincidentemente, neste mês de fevereiro, o Brasil completa um ano de consolidação dos níveis mais baixos de mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Algumas semanas antes do Carnaval do ano passado, o número de óbitos por causa do coronavírus entrou em um movimento descendente histórico.
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A partir de abril, o país nunca mais registrou média superior a 300 casos fatais por dia e entrou no platô de mais longa duração da emergência sanitária. Para uma nação que chegou a médias diárias superiores a 3 mil, a notícia pode parecer boa. Mas o registro atual de óbitos a cada 24 horas ainda coloca a covid-19 como uma das principais causas de perdas humanas por ano no Brasil.
"Um pouquinho de muita gente, já dá muita gente. Desde junho de 2022 – isso já dá 8 meses – estamos nessa linha de base óbitos que fica entre 60 e 70, vai a 100 e 120 conforme vêm essas ondas. Se ficarmos nessa média por um ano, teremos entre 30 e 45 mil óbitos por ano", afirma Isaac Schrarstzhaupt.
Nesse cenário, a doença mataria tanto quanto a violência no Brasil e continuaria entre os males que matam. As medidas para conter o problema já são velhas conhecidas, mas não se aplicam apenas a quem vai brincar o Carnaval.
A recomendação primordial é buscar completar o esquema vacinal, com a quantidade de doses indicada para cada grupo. A imunização diminui as chances de evolução para casos graves e mortes.
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Mas as medidas não farmacológicas também são essenciais. Nas festas de rua e aglomerações, o uso da máscara é muito importante. Em locais fechados, o cuidado com o uso da máscara deve redobrar. A proteção também deve ser usada na presença de idosos e idosas e de pessoas com imunidade comprometida. Vale lembrar que máscaras de boa qualidade, como as PFF2, têm um índice de proteção maior. Quem apresentar sintomas deve se isolar.
"Uso uma analogia de um cabo de guerra. Antes da vacina, estávamos de um lado e o vírus do outro. O que usávamos? Máscara, isolamento, distanciamento. Chegou a vacina e pegou na nossa ponta. Mas o que nós fizemos? Largamos o cabo de guerra e dissemos – boa sorte, vacina. Nós precisamos ajudar a vacina. Esse vírus é muito mais transmissível que os outros e nós precisamos adaptar o nosso comportamento a isso."
Os dados do mais recente Boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam que o Brasil se mantém em patamares baixos de contaminação. Mas a entidade também alerta que os eventos carnavalescos podem facilitar o aumento de casos.
Edição: Thalita Pires