A Rússia reduzirá a produção de petróleo em 500 mil barris por dia a partir de março. O anúncio foi feito no dia 10 de fevereiro. De acordo com o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, a decisão contribuirá para o restabelecimento das relações de mercado no contexto das sanções aplicadas contra Moscou.
A medida foi uma reação do Kremlin à decisão tomada em dezembro pelos países do G7, além da União Europeia e da Austrália, de estabelecer um teto de US$ 60 pelo barril de petróleo russo como sanção pela guerra da Ucrânia.
“Ao tomar as novas decisões, agiremos com base na situação atual do mercado. Esta é uma redução voluntária, não houve consultas sobre isso com ninguém", destacou Novak, acrescentando que a ação foi uma resposta à “política energética destrutiva dos países do Ocidente coletivo”.
Em reação à introdução de tetos de preços, o presidente Vladimir Putin já havia assinado um decreto no final de dezembro de 2022 proibindo os exportadores russos de celebrar e executar contratos com os países que aderiram a tais restrições. O decreto entrou em vigor em 1º de fevereiro de 2023. De acordo com o documento, os exportadores terão que fornecer dados sobre os preços de exportação de petróleo e derivados à Receita Federal para que os fiscais liberem a carga.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o analista-chefe do Fundo Nacional de Segurança Energética da Rússia, Igor Ushkov, afirmou que a decisão de diminuir a produção tem como objetivo o aumento dos rendimentos do orçamento federal e do preço do petróleo.
Com o teto de preço, a Rússia reorientou as suas exportações para países asiáticos como a China e a Índia. No entanto, ao passo que o volume de exportações para esses países aumentou, a negociação envolveu altos descontos para os Estados que não aderiram às sanções.
“Ao tentar se voltar totalmente para os mercados asiáticos, as empresas russas começaram a conceder grandes descontos, que chegam a U$S 35 dólares por barril. O principal objetivo é mudar essa situação, porque os principais compradores começaram a ver isso como uma espécie de nova normalidade. Assim, o primeiro objetivo da atual decisão é empurrar os preços para cima porque, considerando os descontos, a Rússia vai lucrar mais, e quanto maiores forem os preços, maiores serão os rendimentos para o orçamento”, explica Ushkov.
O segundo objetivo da Rússia seria impulsionar os consumidores a diminuir esses descontos. O analista explica que, quando a Rússia diminuir a oferta no mercado mundial, isso vai gerar déficit e o aumento no preço do petróleo. Como resultado, países com Índia e China, mesmo sendo parceiros, vão pagar mais caro pela commodity.
“Por isso, eles podem, por conveniência, diminuir os descontos para o petróleo russo, pagando mais à Rússia. Assim a Rússia restabelece o volume de exportação no mercado mundial, diminui o déficit, e todo o petróleo terá um preço menor para os países da Ásia que consomem o petróleo da Rússia. Então isso também é um golpe sobre os descontos, que permanecem sendo muito altos”, afirma Igor Ushkov.
Petróleo como “arma energética”
Os EUA reagiram à decisão russa dizendo que Moscou "quer usar a energia como arma novamente". O Coordenador de Comunicações Estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca afirmou que o país norte americano continua considerando necessário não permitir que o presidente russo lucre com o petróleo de forma ilegal e financie seu exército.
O porta-voz John Kirby também declarou que "mais uma vez, Putin está disposto a transformar a energia em uma arma". "Este movimento, se for verdade, não é uma grande surpresa como uma reação ao limite de preço e apenas mostra até que ponto ele está disposto a usar recursos como energia como uma arma”, disse.
Para o Analista-chefe do Fundo Nacional de Segurança Energética da Rússia, Igor Ushkov, a reação negativa do Ocidente é natural, pois a alta nos preços do petróleo tende a prejudicar a economia de países importadores do produto.
Segundo ele, "os países ocidentais evidentemente recebem essa decisão da Rússia muito negativamente, porque eles supõem que desta forma a Rússia vai criar um déficit na oferta do mercado mundial e isso levará a uma alta dos preços, novamente no contexto do aumento da demanda da China. E quando sobe o preço do petróleo no mercado mundial, os países do Ocidente sofrem, porque eles são países importadores de petróleo, tanto os EUA quanto os países da Europa. E, como resultado, quando o petróleo aumenta, isso reflete nos preços dos combustíveis dos mercados mundiais na Europa e, sobretudo, nos EUA”, explica.
Por outro lado, Igor Ushkov aponta que os EUA já manipularam o preço do petróleo em outras ocasiões. Um exemplo foi um caso ocorrido em 2021, quando membros da OPEP+ diminuíram voluntariamente a produção.
“Os próprios EUA interferem no mercado, constantemente fazem especulação, em particular revendendo petróleo de suas reservas estratégicas, o que tende a empurrar os preços do petróleo para baixo. Basicamente a mesma coisa, mas na direção contrária, é o que fazem os EUA. Por isso, acusar a Rússia de utilizar de alguma espécie de arma energética a partir dessa realidade é bastante estranho”, diz o analista.
Edição: Patrícia de Matos