Dois dos grandes nomes do samba estão entre os homenageados da primeira noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio de janeiro, neste domingo (19): Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho. Eles foram escolhidos para serem enredos das duas primeiras escolas da noite: Império Serrano e Grande Rio, respectivamente. Além disso, haverá apresentações sobre aspectos nordestinos e também sobre a liberdade de expressão.
As escolas que desfilam nesta primeira noite enfrentam uma espécie de tabu. Desde a inauguração do sambódromo da Marquês de Sapucaí, em 1984, apenas oito escolas que desfilaram na primeira noite foram campeãs, contra 33 que passaram pela avenida na segunda noite - houve anos de títulos divididos em que ambas desfilaram na segunda noite.
"Grande Rio e Mangueira acredito que vão ser os destaques do domingo. Grande Rio falando do Zeca Pagodinho, talvez o enredo com viés mais popular, mexendo com o público. Mas vai ter o desafio, como segunda escola de domingo, de conseguir o bicampeonato consecutivo, que não vem desde a Beija-Flor no biênio 2007 e 2008", aponta o jornalista Luiz Gustavo Thomaz, que tem larga vivência nos barracões das escolas do Rio.
O que vem por aí
Império Serrano
De volta ao Grupo Especial após quatro anos de ausência, a escola abre a série de desfiles com homenagem a um de seus maiores ídolos: Arlindo Cruz. O nome do samba, Lugares de Arlindo, faz referência a uma das canções mais conhecidas do sambista, que cantou O Meu Lugar para o bairro de Madureira, sede da escola. Arlindo, que se recupera de um acidente vascular cerebral sofrido em 2017, compôs mais de dez sambas-enredo da escola em sua história. Quarta maior campeã do carnaval carioca, com nove títulos, a agremiação não conquista o troféu desde 1982. Como toda escola que sobe da "Série Ouro" (o grupo de acesso), deve ter dificuldades de brigar pelas primeiras posições, mas tentará ao menos se manter na divisão de elite.
Grande Rio
Depois de conquistar o primeiro título de sua história com uma homenagem a exu, a Grande Rio traz para a avenida um dos grandes nomes do samba: Zeca Pagodinho, cria de Xerém, distrito da mesma Duque de Caxias, cidade de origem da escola. Com o bom humor e a leveza que marcam a figura do sambista, a escola vai adotar um caminho distinto da apresentação de 2022, quando se mostrou de maneira sóbria e luxuosa para conquistar o troféu inédito. A religiosidade, os hábitos simples e, claro, o gosto pela cerveja gelada, uma das paixões de Zeca, estarão presentes. Assim como algumas das músicas mais conhecidas da carreira dele: Deixa a vida me levar onde o samba tem valor, meu candiá encandeou! Sou Grande Rio carregado de axé, minha gira girou... na fé!", diz um trecho do samba-enredo.
Mocidade
Dona de seis troféus do carnaval carioca, o último deles conquistado em 2017, a Mocidade Independente de Padre Miguel será a terceira escola a desfilar no domingo e fará uma viagem ao Nordeste brasileiro, mais precisamente a Caruaru (PE). A escola vai cantar a arte de Mestre Vitalino, grande nome da escultura em barro no país, e seus discípulos. O carnavalesco da escola, Marcus Ferreira, conheceu de perto o bairro de Alto do Moura, onde ficam os ateliês dos ceramistas do barro, e disse que conheceu muitas histórias de vida que a escola vai mostrar na Sapucaí. Não faltarão referências a outros ícones nordestinos, como o Padre Cícero e os cangaceiros.
Unidos da Tijuca
Quarta escola a desfilar no domingo, a Unidos da Tijuca também vai ao Nordeste. A escola vai falar sobre a história e o cotidiano da Baía de Todos os Santos, na Bahia (não é uma coincidência, o nome do estado é derivado dessa faixa da costa, que inclui a capital Salvador). Ao falar sobre um dos locais de maior efervescência cultural do país, a escola vai mostrar a música, a gastronomia, a religiosidade (de indígenas, africanos e europeus) - sem esquecer, claro, das águas daquela que é a maior baía do Brasil, com seus peixes, pescadores e seres místicos, como sereias. E também vai falar sobre a vida simples de pessoas que vivem por lá. "No encontro dessas águas, reluziu o meu tesouro", canta a escola em um verso do samba-enredo. A Tijuca tenta o quinto título do carnaval, sendo que foi campeã por três vezes entre 2010 e 2014.
Salgueiro
Em busca de um troféu que não conquista desde 2009, o Salgueiro vai apresentar na Sapucaí o enredo Delírios de um Paraíso Vermelho, sobre a liberdade de expressão, respeito às diferenças e combate às opressões. "Se cada um tem seu jeito, melhor conviver sem preconceito; no meu sonho de rei, quero tempo de paz, guerra, fome e mazelas nunca mais", canta um trecho do samba. Quinta escola a desfilar no domingo de carnaval na Sapucaí, a agremiação traz ainda uma homenagem a um dos grandes nomes da história da festa: Joãosinho Trinta, que conquistou nada menos que três títulos em quatro anos como carnavalesco salgueirense na década de 1970.
Mangueira
Fechando a primeira noite de desfiles, a Mangueira é mais uma escola a viajar até a Bahia, com o enredo As Áfricas que a Bahia Canta. A escola vai mostrar aspectos pouco abordados sobre a África que aportou no Brasil no estado nordestino. Serão mostradas diferentes nações de origem de pessoas que vieram escravizadas para o Brasil e todo o processo dos últimos séculos até a chegada a este momento da história, em que as dores e mazelas são transformadas em um grito de liberdade através da música e do carnaval. Entre os destaques, a forte presença feminina na formação da cultura baiana e a religiosidade: "Quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha", diz o samba-enredo da escola que tem nada menos que 20 títulos do carnaval carioca, o último deles conquistado em 2019.
Ordem dos desfiles do carnaval carioca - Grupo Especial - Domingo, 19 de fevereiro
22h – Império Serrano
Entre 23h e 23h10 – Grande Rio
Entre 0h e 0h20 – Mocidade
Entre 1h e 1h30 – Unidos da Tijuca
Entre 2h e 2h40 – Salgueiro
Entre 3h e 3h50 – Mangueira
Edição: Rodrigo Durão Coelho