Opostos

Sakamoto: Visita de Lula à tragédia em SP contrasta com Bolsonaro de jet ski em SC

Para não abandonar férias, ex-presidente não visitou vítimas de alagamentos na Bahia e Minas Gerais, em 2021

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Presidente dirige jet ski no Lago Paranoá, em Brasília, durante "lanchaciata" esvaziada - Reprodução/Twitter

Lula interrompeu sua folga de Carnaval na Bahia para visitar as áreas atingidas pelas chuvas que deixaram dezenas de mortos no litoral norte de São Paulo e se reunir com autoridades. Apesar de isso não ser mais do que sua obrigação, o caso representa uma mudança, pois Bolsonaro não fez o mesmo. Preferiu passear de jet ski em Santa Catarina a visitar a tragédia causada pelas chuvas na Bahia no final de 2021.

Após uma somatória de inação do poder público, especulação imobiliária e mudança climática devastar municípios da região, o petista deixou a base naval de Aratu, na Bahia, onde estava descansando no feriado. Voou até São José dos Campos (SP) e, de lá, pegará um helicóptero ao litoral.

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A presença de autoridades em uma região atingida é uma sinalização importante para que a administração pública priorize o local. O encontro de Lula com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e com o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), previsto para hoje, indica aos seus subordinados a necessidade de integração para resolver os problemas. Isso além de prestar solidariedade e demonstrar empatia com quem perdeu tudo, inclusive parentes e amigos.

Mas solidariedade e empatia é matéria-prima que passou em falta nos últimos anos. Fortes chuvas haviam atingido o Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais no início de dezembro de 2021. Naquele momento, Bolsonaro priorizou uma formatura de aspirantes da Marinha no Rio de Janeiro. Diante das críticas, sobrevoou a região e usou a tragédia para atacar as medidas de isolamento social que salvaram vidas na pandemia.

Equipes de imprensa foram agredidas por seus seguranças diante de seus olhos em Itamaraju (BA), mas ele não fez nada. Ao invés de levar conforto, transformou a morte e a violência em mais um palanque eleitoral.

Na hora em que, de fato, a tragédia atingiu a Bahia, no dia 23 de dezembro, matando 25 pessoas, ele despachou ministros que seriam candidatos a cargos públicos nas eleições do ano seguinte e manteve suas férias. No dia 28, foi fotografado passeando de jet ski em São Francisco do Sul (SC). No dia 30, foi ao Beto Carrero World, fazer drifting em carros de corrida.

As imagens dele curtindo férias pagas com cartão corporativo (os sete dias na cidade custaram aos cofres públicos quase R$ 900 mil, segundo o próprio governo), enquanto voluntários tentavam salvar pessoas em um Sul da Bahia submerso, foram de uma insensibilidade chocante. Mas também mostraram um presidente coerente, que sempre defendeu que "todos iremos morrer um dia" e que devemos tocar o barco em frente. Ou melhor, o jet ski.

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Isso garantiu espaço na mídia para que seu discurso fosse espalhado a apoiadores radicais, vendendo normalidade em meio à pandemia. Vale lembrar que esse pessoal, constantemente excitado, engajado e treinado nas artes da realidade paralela bolsonarista, foi a base da tentativa de golpe de Estado do último 8 de janeiro, quando o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF foram invadidos, vandalizados e roubados.

Jair acabou deixando Santa Catarina antes do que queria, não para visitar a Bahia, mas para ir a um hospital em São Paulo. Segundo ele, teve uma obstrução por conta de um camarão mal digerido devido ao seu quadro de saúde mais delicado devido à facada que sofreu em 2018. A internação foi providencial, uma vez que ele estava sendo duramente criticado por sua insensibilidade diante da crise com as chuvas.

Na sua rápida passagem pelo Sul da Bahia, antes da tragédia, Bolsonaro não conversou com o então governador do Estado, Rui Costa, hoje ministro-chefe da Casa Civil de Lula. O petista disse, na época, que ele "não veio prestar solidariedade, veio fazer carreata, e mobilizou seus fanáticos para ficarem gritando, fazendo ato político e agredindo repórter".

Tarcísio de Freitas e Felipe Augusto não são alinhados politicamente a Lula, muito pelo contrário. Mas isso não impede que eles se encontrem e trabalhem juntos no centro de crise montado em São Sebastião. Não importa desde que sua preocupação seja com a população, não consigo mesmo. Ou com suas férias.