Comida estragada, jornadas de trabalho de 15 horas diárias, compras forçadas em comércio local com preços abusivos descontados do salário, alojamento precário, folgas somente aos sábados. Choques elétricos, agressões e spray de pimenta para quem reclamasse. O cenário é de Bento Gonçalves, em 2023, em que 200 trabalhadores foram submetidos a trabalho escravizado pelas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi.
Para além da situação degradante em si, ainda houve posições em defesa do indefensável, como as do Centro da Indústria e Comércio de Bento Gonçalves, que culpabilizou políticas públicas sociais pela situação escravocrata descoberta.
A operação de órgãos do Estado indica uma postura mais ativa da fiscalização das relações de trabalho em 2023. Mas o desmonte na legislação trabalhista e o avanço da precarização ocorridas recentemente, nos governos Bolsonaro e Temer, favoreceram situações inaceitáveis como esta.
É preciso medidas que responsabilizem toda a cadeia produtiva, como a reparação efetiva aos trabalhadores violentados e a destinação das terras com trabalho análogo ao escravo à reforma agrária, como determina a Constituição Federal.
Afinal, as cooperativas de trabalho da agricultura familiar demonstram que é possível e viável a produção de alimentos saudáveis, e que colocam a vida e dignidade no trabalho acima do lucro.