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Lençóis Maranhenses podem virar Patrimônio Natural da Humanidade

Tido como um dos locais mais belos do mundo, parque nacional também é fonte de renda para famílias ribeirinhas da região

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Criado em 1981, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses possui 156,5 mil hectares de dunas, lagos e mangais
Criado em 1981, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses possui 156,5 mil hectares de dunas, lagos e mangais - Joel Saget/AFP
Conquistar o título de Patrimônio Natural da Humanidade é fortalecer a conservação deste lugar

Localizado a cerca de 250 km da capital São Luís (MA), o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses impressiona pela beleza de dunas de areia que lembram um deserto, mas com lagoas azuis formadas pelas águas da chuva.

A região tem chamado mais atenção por ser um dos sete concorrentes brasileiros ao título de Patrimônio Natural da Humanidade. A indicação é feita pelo país que o abriga para depois ser sancionada pela Unesco, o braço da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Na área, de cerca de 155 mil hectares, além das belezas das dunas, vivem aproximadamente 700 famílias, consideradas guardiãs e protetoras do meio ambiente.  

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“A gente observa que os Lençóis Maranhense não são um deserto, mas sim uma diversidade de vidas em harmonia, a relação do homem com a natureza. Então, conquistar o título de Patrimônio Natural da Humanidade é fortalecer - em nível mundial - a conservação desse lugar, o bem estar dessas comunidades que habitam no entorno do parque e o desenvolvimento de um turismo sustentável”, destaca a pesquisadora e turismóloga Michelle Santos.

Em geral, são sertanejos que foram habitando a região por causa da fartura de água e comida e hoje vivem em harmonia com a natureza, conscientes do papel de preservação e manutenção da cultura local.

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“São famílias que vivem historicamente na região e representam o modo de viver das comunidades, são protetoras do meio ambiente e da natureza. São as pessoas que mais preservam o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Elas vivem das práticas da pesca artesanal, da criação de animais, como galinha, bode; do modo de fazer farinha, de forma rudimentar, do artesanato da fibra do buriti e também do turismo”, complementa Santos. 


Lençóis Maranhenses impressionam pela beleza das dunas, que lembram um deserto, mas com lagoas azuis formadas pelas águas da chuva/ Sectur - MA

Maior campo de dunas da América do Sul, o parque é uma unidade de conservação federal, gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e esteve sob risco de privatização durante o governo Bolsonaro.

Para a gestão do parque, o título seria o reconhecimento daquilo que já se tem garantia: o parque é um patrimônio da humanidade que precisa ser valorizado e preservado.

“A única coisa que falta ao parque é o reconhecimento. Porque ele pertence à humanidade, isso já é consenso mundial. É um patrimônio internacional que nós devemos preservar, para que outras gerações de filhos e netos possam usufruir do que nós usufruímos hoje”, diz o coronel Flávio Antônio Silva, chefe do parque.

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Dentro do parque, os moradores se destacam na produção de artesanato da fibra de buriti e culinária regional. A maioria das famílias vive do próprio alimento, à base da agricultura familiar e da pesca artesanal.

“Eu, minha família e várias famílias aqui de Santo Amaro vivemos dentro da área do Parque dos Lençóis Maranhenses. Muitas comunidades, como a nossa, vivem dessa maneira, produzindo o próprio alimento. Aqui criamos peixe, temos horta, a gente faz a farinha …”, ressalta a moradora Ana Paula Sousa, que vive em Santo Amaro, uma das áreas que pertencem ao parque. 

De braços abertos para a recepção de turistas, ela e os moradores das comunidades que compõem o parque alertam para o respeito aos modos de vida tradicionais.


Ana Paula Sousa vive em Santo Amaro, comunidade ribeirinha na área do parque / Reprodução 'Bem Viver TV'

“O Parque dos Lençóis Maranhenses, para mim, representa muitas coisas boas, como a natureza e os turistas, que vêm para cá e trazem renda. Mas eu também espero que os turistas que venham respeitem a nossa cultura, o nosso modo de ser e de viver”, conclui. 

“Atualmente, os Lençóis têm sido cenário de uma novela global, que é Travessia, da qual eu participei da produção dos artistas, principalmente dos figurantes, que foram quase todos aqui da comunidade Tapuio: os pescadores, as lavadeiras, as crianças. Então, nós estamos na mídia, mas a gente não quer perder nossa identidade local, nosso modo cultural de fazer arte”, reflete Kannydhia Sousa, produtor cultural.

Edição: Douglas Matos