Milhares de venezuelanos foram às ruas de Caracas neste domingo (05) para marcar os 10 anos da morte do ex-presidente Hugo Chávez, falecido no dia 5 de março de 2013, vítima de um câncer.
Os manifestantes se reuniram em diversos pontos da capital da Venezuela e marcharam juntos até o Quartel da Montanha, antigo forte militar localizado no bairro periférico 23 de Enero que se converteu no mausoléu onde o corpo do ex-mandatário está enterrado.
Membros de movimentos populares, sindicatos e partidos políticos afirmaram ao Brasil de Fato que marchar no dia da morte de Chávez serve para mostrar que o ex-presidente era diferente de todos os que o antecederam, pois deixou um legado único na história do país.
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O professor Miguel Román diz que as diferenças entre Chávez e outros ex-presidentes eram enormes e podem ser notadas nas posturas humildes do ex-tenente-coronel, pois ele tinha uma "relação muito mais íntima" com os setores populares.
"Chávez foi um visionário, muitos dizem um estadista, mas eu diria que ele foi um ser humano muito humilde e comprometido com a causa da humanidade", diz.
Román argumenta que "deve haver uma campanha permanente de informação, de comunicação e difusão do legado de Chávez" e que ele e seus colegas professores devem "contar sua história permanentemente nas escolas, nas universidades, porque é isso que vai garantir que sua obra siga sendo presente e vista".
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Ainda segundo o professor, os venezuelanos se recordam com muito orgulho das ideias de integração do ex-presidente, forte entusiasta de projetos entre países da América Latina e do Caribe. "Lembremos que quando ele inicia seu mandato [em 1999] ele se dedica à integração latino-americana, à criação da ALBA, alguns anos depois da Unasul e logo depois à fundação da CELAC", afirma.
A política externa de Chávez também é elogiada pela advogada Aura Umbria, que destaca a postura combativa que o país adotou frente aos EUA durante os mandatos do ex-presidente.
"Chávez foi muito especial não só para os venezuelanos, mas também para muitos países da América Latina. Seus discursos sobre o respeito aos direitos humanos e sobre o avanço e desenvolvimento das nações ainda seguem vigentes porque aí estão os Estados Unidos impedindo o avanço das nossas nações", diz.
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Episódios históricos também são constantemente lembrados pelos manifestantes como uma das principais diferenças entre Chávez e outros ex-presidentes.
"Veja, por exemplo, Carlos Andrés Pérez, um assassino que mandou massacrar o povo em 1989", diz José Chacao sobre o ex-presidente do partido Ação Democrática que conduziu a repressão contra manifestantes durante uma das maiores jornadas de protestos da Venezuela, o Caracazo.
Para muitos manifestantes, a figura de Carlos Andrés sintetiza o período político que passou para a história como 4ª República, que se iniciou em 1958 após a derrubada do ditador Marcos Pérez Jiménez. Os maiores partidos políticos da época, AD e Copei, praticamente se revezavam na presidência e, muitas vezes, formavam coalizões no Parlamento para que pudessem aprovar projetos.
O período se encerrou quando Chávez, até então um outsider da política tradicional, venceu as eleições de 1998 e assumiu o poder com a promessa de "refundar a República".
"Na 4ª havia muita miséria, muito desemprego, muitas pessoas não estudavam e não sabiam ler", conta Rosalima Herrera. Nascida na Guatemala, ela se mudou para Caracas em 1973 e sempre se dedicou à militância de esquerda.
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Após militar alguns anos em partidos e movimentos socialistas venezuelanos, Rosalima afirma que quando Chávez surge no cenário político do país atraiu muitos militantes para sua causa.
"Quando vi Chávez na televisão em 4 de fevereiro [de 1992, durante a rebelião militar], eu disse: 'meu Deus, aqui está a resposta'. Para mim, foi como uma luz na escuridão porque eu vinha lutando muito contra a maldade e a injustiça, mas o país não mudava", diz.
Aos 73 anos de idade, Rosalima ficou afastada por dois anos das atividades políticas após contrair o vírus da covid-19 e sofrer com um grave quadro de saúde. A ativista, no entanto, garante que está recuperada e que seguirá marchando pelos valores que acredita.
"Acharam que eu tinha renunciado à revolução porque eu não vinha mais às marchas. Não, meu amor, eu estou aqui e aqui seguirei. Vou seguir lutando com meu ideal e com a minha maneira de pensar", diz.
Edição: Vivian Virissimo