A ideia é uma estratégia de superação da pobreza extrema e o fortalecimento da agricultura familiar
Você já ouviu falar em batata-doce biofortificada? De maneira geral, alimentos biofortificados são aqueles obtidos por meio do "melhoramento convencional, através da seleção e cruzamento entre variedades selvagens, com maiores concentrações de nutrientes para obter cultivares com maiores teores de ferro, zinco e vitamina A”, explica o professor Erbs Cintra, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE).
A ideia foi apresentada durante o 32° Encontro Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Pernambuco (MST-PE), que aconteceu no fim de fevereiro, no Centro de Formação Paulo Freire, em Caruaru. O evento contou com a presença dos professores Erbs Cintra, Rodolfo Feitosa e Delmo Soares, que apresentaram o projeto de distribuição de ramas de batata-doce biofortificada, intitulado “Nas Ramas da Esperança”.
O projeto não surgiu agora. A iniciativa, na verdade começou em 2010 e, depois de um ano, após a aprovação de um edital de combate à extrema pobreza. “O auxílio financeiro nos possibilitou a realização de testes no banco de Germoplasma, que é o banco de produção de mudas do campus Petrolina, zona rural, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano em Petrolina”, ressalta Cintra.
A partir desses testes, foram selecionadas as variedades de ramas de batata que melhor se adaptam a região para que sejam distribuídas para o máximo de organizações e assentamentos. “A ideia é que esta iniciativa seja uma estratégia de superação da pobreza extrema e até mesmo de fortalecimento da agricultura familiar, então esse projeto tem um caráter de pesquisa, mas também um caráter muito mais extensionista”, acrescenta o professor.
Em um ano de projeto já foram distribuídas mais de 100 mil ramas. A variedade que vem sendo difundida é de nome CIP (Centro Internacional da Batata), BRS (exigência da Embrapa para todas as cultivares lançadas pelo órgão), NUTI (representação da variedade). Logo, o nome da variedade engloba, obrigatoriamente, CIP-BRS-NUTI, como referência aos centros de pesquisa que criaram e lançaram o novo material genético. Ela foi desenvolvida pela Embrapa Hortaliças e o pesquisador responsável é o prof. dr. Alexandre Melo.
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O trabalho nas comunidades se dá a partir da divulgação do banco de Germoplasma para os assentamentos e lideranças dos movimentos. “Fazemos a apresentação do projeto, e a partir dessa motivação, eles solicitam o apoio técnico. Então, além de distribuir as ramas, prestamos apoio técnico para produção’, explica Erbs.
Durante o Encontro Estadual do MST PE, os professores também fizeram distribuição das ramas de batata-doce biofortificada. / Delmo Soares
As mudas são distribuídas no tamanho ideal para que o produtor faça o canteiro. A irrigação semanal é a mais recomendada pelos pesquisadores, mas já tem testes que apontam a possibilidade da irrigação acontecer em intervalos de até 15 dias, a partir de 30 dias da rama plantada. Por variedade biofortificada, “ela apresenta resistência a pragas e doenças, além de trazer a vantagem de uma necessidade de irrigação menor”, pontua o professor Erbs Cintra.
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A produtividade da variedade de batata-doce também se destaca. Os primeiros resultados da pesquisa apontaram uma produtividade em média três vezes maior do que a produtividade nacional. “No Brasil, você tem uma média de produtividade que gira em torno de doze toneladas por hectare. Nós estamos tirando entre trinta e trinta e cinco toneladas por hectare. Isso faz com que os agricultores tenham um excedente para comercialização e consequente melhoria da qualidade de vida dos mesmo”, relata o professor.
"Nós temos um problema muito sério hoje no Brasil. Dados recentes apontam mais de 125 milhões de brasileiros sofrendo de insegurança alimentar, ou seja, que não conseguem fazer as três refeições diárias. Temos um número superior a trinta e três milhões vivendo em condição de pobreza. Então um alimento biofortificado rico em vitaminas e minerais traz não apenas à saciedade, traz os nutrientes necessários para que você tenha um bom crescimento, um bom desenvolvimento”, destaca o professor.
Ludima Souza é estudante de Engenharia Agronômica e bolsista do projeto. / Cortesia
O professor Rodolfo Feitosa é o responsável por articular junto com as comunidades formas de que a produção chegue da melhor maneira possível, entendendo os limites, as potencialidades de cada localidade e visualizando chances de articular essa produção da batata-doce.
“Um dos professores do projeto, Delmo Freire, tem feito os experimentos e estamos vendo que tem uma série de possibilidades de manejo dessa rama sem necessariamente comprometer a produção da batata, e conseguir conciliar com a produção de caprinos. Temos uma rama que é extremamente rica em proteína, assim você fortalece um arranjo produtivo dentro das comunidades”, destaca Rodolfo.
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“Nós vamos construindo essa atmosfera que já é presente nos movimentos sociais, de respeito à natureza, de preocupação com o meio ambiente, mas a gente fortalece ainda mais, com técnicas de aplicação palpáveis que vão dar condições produtivas e uma maior valorização daquele universo social produtivo”, compartilha o professor Feitosa.
De acordo com os professores, a comunidade tem uma aceitação muito boa. “É muito prazeroso como conseguimos tocar as pessoas com esse projeto, um alimento que é muito típico do Nordeste, mas que agora a gente já está vendo colegas do Pará pedindo, pessoal de outras regiões já movimentando a gente para que possamos doar essas ramas”, afirma Rodolfo.
Edição: Elen Carvalho