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Brasil se oferece para acolher nicaraguenses que perderam nacionalidade

Representante do Itamaraty no Conselho de Direitos Humanos da ONU não apoiou declaração conjunta contra governo Ortega

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Representado pelo embaixador Tovar da Silva Nunes, Brasil não apoiou documento contra a Nicarágua no Conselho de Direitos Humanos da ONU - Twitter Conselho de Direitos Humanos da ONU

Durante sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (07/03), o representante do Brasil em Genebra, embaixador Tovar da Silva Nunes, afirmou que o país se dispõe a receber os cidadãos e cidadãs nicaraguenses que perderam sua nacionalidade.

Em sua declaração, o diplomata reafirmou o “comprometimento humanitário” do governo brasileiro, e sua postura de zelar pela “proteção de pessoas despatriadas e pela redução de despatriamentos”.

Semanas atrás, o governo da Nicarágua retirou a nacionalidade de cerca de 300 pessoas acusadas de serem “traidores da pátria”, ao apoiar movimentos de desestabilização política e social no país, incluindo ações como organizar mobilizações pelo fim do governo do presidente Daniel Ortega, consideradas pelos setores governistas como tentativas de golpe de Estado.

A medida do governo nicaraguense contra os opositores despertou críticas de vários países da América Latina, incluindo alguns governados por setores de esquerda, como o Chile [do presidente Gabriel Boric] e a Colômbia [do presidente Gustavo Petro], que patrocinaram uma declaração conjunta de repúdio ao governo do país centro-americano.

O Brasil não apoiou o documento, como fizeram 54 países membros do Conselho de Direitos Humanos. Entre os apoiadores americanos da declaração estão Canadá, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Paraguai e Peru, além dos já mencionados Chile e Colômbia.

“O Brasil espera explorar as formas com que essa situação possa ser construtivamente abordada com o governo da Nicarágua e outras autoridades relevantes”, ressaltou o embaixador Silva Nunes, ao explicar a abstenção brasileira.

Ex-sandinistas opositores

Vale destacar também que, apesar de Ortega ser um dos líderes históricos da Revolução Sandinista, há figuras reconhecidamente ligadas ao sandinismo entre os grupos que se declaram hoje opositores ao seu governo, incluindo alguns que participaram da luta pelo fim da ditadura de Anastasio Somoza (1972-1979) e dos primeiros governos sandinistas, no século XX.

Entre esses estão a ex-comandante de guerrilha Dora María Téllez, que também foi ministra da Saúde durante o governo da Junta de Reconstrução Nacional, entre 1979 e 1985. Também é o caso de  Víctor Hugo Tinoco, que chegou a ser vice-chanceler da Nicarágua nos anos 80.

Atualmente, ambos são considerados pelo governo nicaraguense como “aliados de grupos desestabilizadores”.