No dia 9 de dezembro de 2020, o coronel da reserva Ricardo Nascimento de Mello Araújo, ex-comandante da Rota, completava 40 dias na presidência da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Bem cedo, às 8h, decidiu fazer uma visita surpresa ao Sindicato dos Carregadores Autônomos (Sindicar) e levou consigo um grupo de assessores armados.
“Ele entrou na frente, já gritando que era pra todo mundo colocar as mãos para o alto”, lembra Mário Souza, que hoje preside o sindicato. “O coronel enquadrou o presidente do Sindcar, um senhor de 71 anos na época, fez ele levantar os braços e o revistou. Fizeram a invasão, uma coisa horrível. Entraram e começaram a revistar todos os trabalhadores. Eles se apresentavam como policiais, mesmo estando todos na reserva.”
Advogados consultados pela reportagem afirmaram que a conduta do reservista foi completamente contra a lei, tendo cometido crimes tipificados no código penal. Entre eles, o artigo 328, de usurpação da função pública, que prevê detenção de até dois anos, além de multa. Caso o criminoso condenado tenha conseguido alguma vantagem com o ato, a pena pode subir para até cinco anos de prisão.
O Brasil de Fato teve acesso às imagens da invasão ao sindicato (ver galeria abaixo). É possível ver Mello Araújo, de camisa branca, à frente do grupo. Em algumas fotos, assessores do presidente apontam as armas para os trabalhadores. Os sindicalistas afirmam que o presidente da Ceagesp e seus assessores alegavam que haviam armas escondidas no espaço.
“Foi um pânico tão grande, estávamos assustados. Queriam que o presidente, com 71 anos, levantasse a tampa de um bueiro. Causaram um pânico tão grande, estava todo mundo assustado. Mas não encontraram nenhuma arma”, lembra Souza.
Os sindicalistas procuraram o advogado do Sindicar, Hermano de Moura, que interpelou Mello Araújo por telefone. O presidente da Ceagesp teria respondido, de acordo com Souza: “Eu sou juiz, quem manda na Ceagesp sou eu, não tenho que pedir mandado para ninguém.”
As imagens integram um dossiê com denúncias contra a gestão de Mello Araújo à frente da Ceagesp. O ex-comandante da Rota foi nomeado para o cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 23 de outubro de 2020 e pediu exoneração em 6 de janeiro deste ano.
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Outro lado
Procurada, a Ceagesp não quis se manifestar.
O ex-presidente da Ceagesp, Ricardo Mello Araújo, não foi localizado pela reportagem.
Edição: Rodrigo Durão Coelho