No dia 18 de fevereiro, a artesã pernambucana Ana Leopoldina dos Santos, também conhecida como Ana das Carrancas, completaria 100 anos de idade se estivesse viva. Ela ficou conhecida por suas esculturas em barro inspiradas nas carrancas de madeira que via nas embarcações e sua história de superação marcou a arte do Nordeste até hoje.
Ana das Carrancas era uma mulher negra e sertaneja que enfrentou muitas dificuldades até encontrar na arte uma forma de sustentar sua família por meio das esculturas de carrancas feitas no barro. À medida que seu trabalho evoluiu, as figuras ganharam uma definição cada vez mais característica, chamando a atenção sobretudo pelos olhos vazados em homenagem a seu marido, Zé Vicente, que era uma pessoa com deficiência visual e ajudava na preparação do barro.
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Hoje, as responsáveis por manter o legado de Ana das Carrancas são suas filhas, Maria da Cruz e Ângela, que mantêm, juntas, o Centro de Arte Ana das Carrancas, em Petrolina. Maria, filha de Ana das Carrancas, revelou que a habilidade da mãe em moldar o barro foi transmitida de geração em geração em sua família.
“Ana das Carrancas aprendeu a moldar o barro com a mãe dela. É um trabalho hereditário. A mãe dela era descendente de índios e o pai de afrodescendentes e através dessa família ela conseguiu construir no barro uma arte singular aqui na região que deu origem às carrancas de barro”, disse.
Ao longo dos anos, o nome de Ana das Carrancas abriu novos caminhos e lhe trouxe muitas conquistas. Décadas depois do início do seu trabalho, ela foi homenageada com o título de cidadã de Petrolina, reconhecida como patrimônio vivo de Pernambuco, em 2006, e convidada a Brasília para receber a comenda de Ordem ao Mérito Cultural, ao lado de um grande elenco de artistas de diversas linguagens.
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A Arte de moldar o barro e criar peças únicas é uma tradição que Ana também passou para suas filhas. "Através do amor que ela tinha na arte, ela repassa pras filhas esse conhecimento e até então a gente dá continuidade ao trabalho produzindo peças rústicas e diversificadas no barro", afirmou Maria.
Ana das Carrancas faleceu em 2008, após enfrentar consecutivos problemas de saúde, deixando saudades. Sua obra permanece como um legado valioso para a cultura popular e para o artesanato pernambucano e brasileiro que permanece influenciando nas produções em barro.
"A maior influência foi de eu ter aprendido a arte através do amor e da boa vontade dela, e o que ficou de influência foi a gente dar continuidade até hoje. Para mim, eu só deixo de ter essa vontade de construir, fabricar e ser artesã quando eu for para o andar de cima", concluiu Maria.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Elen Carvalho