Para evitar a covid longa nós precisamos evitar a covid 19
Três anos após o início da pandemia de covid 19, a doença ainda segue desafiando os serviços de saúde por todo o mundo. Aqui no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta dificuldades para atuar em casos de covid longa, em que sintomas da infecção pelo coronavírus permanecem, em alguns casos, por anos.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou dezenas de sequelas possíveis em pacientes que desenvolvem a covid longa, sendo que a maioria dessas pessoas desenvolve entre duas e três delas ao mesmo tempo. Em alguns casos, pacientes chegam a ter cerca de dez simultaneamente.
"Dentre as [sequelas] mais observadas nós temos dores pelo corpo; dores musculares ou nas articulações; dor no peito; tosse persistente; dores de cabeça persistentes; enxaqueca; cansaço excessivo, mesmo aos pequenos esforços; tontura; perda de cabelo; perda de olfato; perda de paladar; falta de ar; hipertensão arterial; diabetes; trombose e, claro, aquelas sequelas neurológicas e cognitivas que são uma preocupação à parte", explica a pesquisadora Rafaella Fortini, da Fiocruz Minas.
A pesquisadora explica que, entre as consequências neurológicas e olfativas já relatadas em pacientes com covid longa, estão depressão, déficit de atenção, alterações de sono, perdas de memória e demência, entre outras, que são menos frequentes.
Fortini reforça a importância de haver novos investimentos para garantir o tratamento dessas pessoas no sistema de saúde pública. E parte desse investimento deve focar especialmente na comunicação, alterando a lógica vigente durante os primeiros anos da pandemia, quando o Brasil estava sob o governo de Jair Bolsonaro (PL).
"Nós vimos nos últimos anos nossa carência por informações de qualidade. Esse assunto em particular, a covid longa, exige uma comunicação efetiva. Não adianta apenas reconhecer que a covid longa existe. É preciso mostrar às pessoas que elas não estão sozinhas, e que devem procurar ajuda profissional se elas perceberem qualquer sintoma, qualquer condição pós covid. Qualquer sequela que esteja afetando sua qualidade de vida, sua rotina", aponta Fortini.
Como essa é uma condição de saúde nova, pesquisadores do Brasil e de outros países trabalham para entendê-la plenamente. Entretanto, algumas informações já são bastante consistentes. Entre elas, o fato de que a covid longa pode atingir todos os grupos de pessoas: idosos, adultos e crianças. Além disso, pode ser desenvolvida após infecções leves pelo vírus, depois que as pessoas se recuperam em casa.
"Outro entendimento que é importante é que aqui nós não estamos falando da recuperação de pacientes que se hospitalizaram em UTIs, ou se hospitalizaram por períodos prolongados, que precisaram ser intubados; e que manifestam, assim, fraqueza muscular, dificuldade de andar, perda de peso, não é isso. Estamos aqui falando de sequelas da covid, e não da hospitalização", alerta a pesquisadora da Fiocruz.
A falta de dados faz aumentar o desafio dos gestores de saúde para lidar com os casos da doença. Sem um volume adequado de informações, não é possível saber o real tamanho do problema, e fica mais difícil preparar os serviços de saúde para lidar com a situação. A atual composição do Ministério da Saúde tem atuado para melhorar esse cenário.
"É tempo de reconstrução, mas é importante finalizar com o que é o grande objetivo dos gestores de saúde, do SUS, de todos nós que trabalhamos com a ciência envolvida, relacionada com a covid longa: tratar as sequelas, tratar as condições clínicas, permitir que as pessoas voltem a ter a qualidade de vida que elas tinham antes da covid 19 e reforçar, por fim, que para evitar a covid longa, nós precisamos evitar a covid 19. Todos nós, portanto, temos um papel relevante nesse sistema", resume Rafaela Fortini.
Edição: Rodrigo Durão Coelho