Caso Nord Stream

Alemanha teria ajudado tentativa de encobrir participação dos EUA na destruição do Nord Stream

De acordo com jornalista, oficiais da Alemanha e dos EUA teriam repassado informações falsas para a imprensa

Rio de Janeiro |
Seymour Hersh, é conhecido por ter revelado diversos crimes de guerra cometidos pelos EUA durante a Guerra do Vietnã, no Camboja e na prisão de Abu Graib, durante a Guerra do Iraque. - Alex Wong / Getty Images /AFP

O jornalista estadunidense e vencedor do Prêmio Pulitzer, Seymour Hersh, publicou um novo artigo na última quarta-feira (22) alegando que o governo alemão teria sido responsável por encobrir o suposto envolvimento do presidente Joe Biden na explosão do gasoduto Nord Stream, em setembro de 2022. 

Os gasodutos Nord Stream e Nord Stream 2 faziam parte de um projeto de US$ 11 bilhões, planejado para dobrar o volume de gás natural entregue da Rússia para a Alemanha. Um vazamento identificado em 26 de setembro causou a explosão de quatro locais do gasoduto.

De acordo com uma fonte anônima com acesso à inteligência diplomática dos EUA, citada por Hersh, durante a visita do chanceler alemão aos EUA no começo de março houve uma articulação da CIA para preparar uma reportagem de capa em colaboração com a inteligência alemã que forneceria à imprensa norte-americana e alemã uma versão alternativa para a destruição do Nord Stream 2. A publicação diz que, nas palavras da fonte, a agência deveria "pulsar o sistema" em um esforço para descartar a alegação de que Biden havia ordenado a destruição dos oleodutos. 

Em sua primeira investigação, Hersh afirmou que mergulhadores da Marinha dos EUA plantaram explosivos no gasodutos em junho de 2022 sob o pretexto de estarem realizando exercícios regulares da OTAN. Citando uma fonte anônima, Hersh afirma que após três meses, os noruegueses detonaram as cargas, destruindo três das quatro ramificações do gasoduto. Segundo o jornalista, Biden tomou a decisão de explodir o gasoduto russo após nove meses de discussões secretas com a equipe de segurança nacional.

Nesta sexta-feira (24), em entrevista ao jornal China Daily, o jornalista afirmou a "sabotagem do Nord Stream levou a uma crise na Europa e o presidente dos EUA, Joe Biden, enfrentará sérias críticas por seu envolvimento nisso".

"O resultado é que a principal fonte de energia que passava pela Europa Ocidental foi interrompida. Ou seja, agora a Europa enfrenta uma crise. E no futuro, este verão e outono serão muito difíceis para Biden. Ele enfrentará grandes críticas pelo que ele fez. É inegável", disse Hersh ao jornal China Daily.

Entenda o caso Nord Stream

O incidente dos gasodutos Nord Stream e Nord Stream 2 ocorreu em 26 de setembro, quando um vazamento de gás foi descoberto em quatro locais de gasodutos de exportação russos situados no fundo do Mar Báltico. Suécia, Dinamarca e Alemanha estão conduzindo investigações. Em novembro de 2022, a promotoria sueca concluiu que o vazamento do oleoduto foi resultado de uma grave sabotagem. Isso confirmou suspeitas de que as explosões foram deliberadamente causadas por cargas explosivas, mas os suspeitos ainda não foram identificados. Investigadores alemães também estão investigando as circunstâncias do incidente, sem oferecer por ora resultados.


Vazamento do Nord Stream / Ministério da Defesa da Dinamarca / AFP

O Kremlin classificou o incidente como um ato de terrorismo internacional. Ao comentar a publicação do artigo, a Rússia destacou que a investigação do jornalista Seymour Hersh sobre o Nord Stream não foi amplamente divulgada no Ocidente: "Isso não pode deixar de nos surpreender", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Já o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Ryabkov, afirmou que a publicação do artigo de Hersh "não pode deixar de levar a consequências para Washington". Segundo o vice-chanceler, a reportagem confirmou a conclusão a que Moscou havia chegado anteriormente. 

A administração dos Estados Unidos, por sua vez, rechaçou as acusações e classificou a investigação de Hersh como uma "pura ficção".

Edição: Thales Schmidt