Com buzinaço, cerca de 500 motoboys, entregadores de aplicativos, se manifestaram na frente de um condomínio de luxo no bairro da Mooca, na capital paulista. O ato, que aconteceu na noite da última quarta-feira (22), foi em repúdio contra a agressão cometida dias antes por parte de moradores contra um entregador.
Dorivaldo Amazonas, de 58 anos, tomou um tapa no rosto, socos no corpo, foi empurrado, teve os pedidos rasgados, a bag chutada, a moto danificada e o celular destruído. O motivo? Ele não quis levar o pedido até o apartamento dos moradores, coisa que não deveria mesmo fazer.
O episódio aconteceu quando, ao fazer a entrega por volta das 21h, ele pediu que o cliente descesse até a portaria para retirar o produto. O trabalhador se recusou a levar a entrega dentro do prédio: sabia que não é obrigado a fazê-lo, não quis deixar a moto sozinha e tinha outras corridas para fazer. Foi então que quatro homens desceram e dois o agrediram.
“Cadê o valentão agora? Sai para fora, covarde”, gritou um manifestante, dias depois, ao som de buzinas e escapamento de moto. Até um fogo de artifício teve no protesto.
Lucas Oliveira, entregador de app em Carapicuíba (SP), foi um dos que se deslocou até a zona leste de São Paulo para participar do ato. “A galera toda se reuniu e tomou uma proporção grande muito rápido. Mais de quatro, cinco grupos, com mais de mil pessoas, correndo atrás para mostrar que estamos vivos, que merecemos respeito”, relata Lucas.
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“O cliente pôde descer para ridicularizar o motoboy, agredir, difamar, caluniar. Mas não podia descer para retirar o pedido”, comenta Lucas, dizendo sentir revolta e tristeza “por ver que a nossa classe vem sendo desrespeitada por motivos torpes”.
“Você está na chuva, no sol, na luta para ir lá levar, acelerar, correr risco no trajeto. Chega lá, está lá prontinho na mão dele, é só ele subir, comer e desfrutar do que comprou. É algo que você pensa 'o que o ser humano tem na cabeça?'”, questiona Oliveira.
A ocorrência foi registrada como lesão corporal no 56º Distrito Policial, da Vila Alpina. Por orientação de seu advogado, Dorivaldo preferiu não se manifestar nesta matéria. Ele trabalhava como motorista de aplicativo e, depois de o carro quebrar, alugou uma moto para se sustentar fazendo entregas. Trabalho para o qual depende do celular.
“Somos organizados e solidários”
Além da manifestação, os entregadores estão organizando uma vaquinha para que ele consiga comprar um novo aparelho de celular, para substituir o destruído pelo cliente. “A gente está ajudando ele como pode. No nosso grupo [de whatsapp] tem quase mil pessoas. Uma boa parte colaborou com R$5, R$10, R$3, R$2 e assim por diante, e está acontecendo”, relata Lucas.
“Se for do coração eu aceito de muito bom grado, me ajudando vocês estarão ajudando uma pessoa a sair de um sufoco. A emoção toma conta e o que eu posso dizer a vocês é muito obrigada”, diz Dorivaldo, em um vídeo que circula nas redes sociais, com a divulgação do seu PIX.
“Pensam que não, mas somos organizados, somos solidários”, ressalta Oliveira. “Ajudamos várias pessoas. É moto que quebra, gasolina que acaba, a gente para o que está fazendo para ajudar o próximo que pode estar com uma dificuldade maior”, ilustra.
“Apesar de ter sido humilhado, seu Dorivaldo vai ser abençoado”, afirma Lucas: “Ele merece, que é um senhor de 60 anos, trabalhando àquela hora da noite, entregando comida para playboy que ainda tem a soberba de se achar o dono do mundo. Ele vai ter a vitória dele, com fé em Deus”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho