Encontro da direita

Deputados argentinos criticam presença de Moro em evento da extrema direita em Buenos Aires

Ele elogiou presidenciável marcada por perseguir povos indígenas da Patagônia, quando era ministra da Justiça

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
Ex-juíz Sergio Moro com os ex-presidentes argentino Mauricio Macri, o chileno Sebastián Piñera e o mexicano Felipe Calderón, entre outros. - Twitter

Políticos da direita regional se reuniram em Buenos Aires nesta semana, com a presença de ex-presidentes, para o aniversário de  35 anos da Fundação Libertad, centro de estudos de direita na Argentina. Criticado por deputados progressistas do país, o ex-juíz e atual senador Sergio Moro compareceu ao evento, e aproveitou a noite de gala, que aconteceu na noite desta segunda-feira (27), para dirigir elogios à possível candidata à presidência no país, Patricia Bullrich, por seus anos como ministra da Justiça do governo de Mauricio Macri - outro presente no evento.

“Um cumprimento especial à nossa amiga Patricia Bullrich”, disse Moro. “ Eu me considerava um ministro linha dura. Quanto estive aqui em Buenos Aires a convite da ministra, pude ver que ela também era uma ministra linha dura contra a criminalidade”, destacou o ex-juíz, que foi ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Ele disse não querer “interferir na política argentina”, mas enfatizou estar “de olho nas eleições” que acontecem este ano no país.

A gestão de Bullrich foi marcada por políticas de repressão no país, tendo impulsionado a perseguição dos povos indígenas da Patagônia, zona rica em recursos naturais de interesse de multinacionais.

Deputados da coalizão governista Frente de Todos repudiaram a presença de Moro pela interferência que empenhou no processo democrático no Brasil. "Não surpreende que esse personagem apareça ao lado de Macri", destacou o deputado portenho Juan Manuel Valdés. "Ambos manipulam a Justiça com fins políticos", escreveu em sua rede social. Valés destacou que o encontro tratava-se do "simpósio da Fundação mal chamada Liberdade, quando abarca tudo de mais retrógrado do pensamento latino-americano".

A deputada María Bielli também se pronunciou sobre a presença de Moro em Buenos Aires, repudiando a presença do ex-juíz que fez com que Lula "passassse 580 dias preso e sem poder se candidatar à eleição no Brasil". "Hoje Moro esteve na Legislatura, convidado pelas mesmas pessoas que usam os tribunais daqui para proscrever Cristina [Fernández de Kirchner]", acrescentou a legisladora.

Articulação da direita

O evento também contou com a presença dos oradores convidados Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile, Felipe Calderón ex-presidente do México, Jorge Quiroga, ex-presidente da Bolívia. Figuras da direita espanhola também compareceram e discursaram no evento, como a deputada espanhola Cayetana Álvarez de Toledo, do conservador Partido Popular e a presidenta da Comunidad de Madri, Isabel Díaz Ayuso, do mesmo partido, negacionista da emergência climática. O Partido Popular rompeu há poucos dias com o partido de extrema-direita Vox, corrente que articula com a extrema direita e negacionista mundial nos últimos anos.

Abundam menções de repúdio às políticas e movimentos progressistas na região. O presidente da Fundação, Gerardo Bongiovanni, destacou a “necessidade da união da direita latino-americana para derrotar o Foro de São Paulo”.

O ex-presidente argentino Mauricio Macri compareceu na noite de gala, um dia após ter publicado um vídeo desistindo de sua candidatura à presidência. Com alta rejeição, o ex-presidente e magnata contraiu a dívida de US$ 45 bilhões (cerca de R$ 232 bilhões) que mantém a Argentina condicionada ao Fundo Monetário Internacional.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho