Santa Catarina é, há cerca de 14 anos, o estado líder em doação e transplantes de órgãos no Brasil. O Doutor Joel de Andrade acompanha esse processo durante todo esse período, enquanto Coordenador Estadual de Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina (SC Transplantes), órgão ligado à Secretaria da Saúde do estado vizinho.
A convite do Projeto Cultura Doadora, iniciativa da Fundação Ecarta, Andrade está no RS para participar da aula magna dos cursos da Saúde da Unisinos, quando irá compartilhar a experiência do processo de doação e transplante de órgãos e tecidos no estado vizinho.
A atividade que acontece nessa terça-feira (11) foi precedida de uma coletiva à imprensa, na sede da Fundação Ecarta, em Porto Alegre. Nesta, enfatizou a importância da formação dos profissionais da saúde nas chamadas áreas críticas e na centralidade de um atendimento que seja humanizado.
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Ainda durante a tarde, Joel da Andrade realizou uma reunião com médicos atuantes na área, equipes de captação de órgãos, profissionais de hospitais, transplantados e ativistas da causa, além da presença do Dr. Rafael Rosa, coordenador da Central de Transplantes do RS.
Formação dos profissionais
Segundo explicou, em Santa Catarina, menos de 30% dos casos de morte encefálica comunicada não resultam em autorização da família para a doação. Tal estatística coloca o estado na liderança em doações no país (o RS é o oitavo).
Andrade insistiu no ponto que o foco para atingir estes números é o investimento na formação dos profissionais da saúde que irão ter o contato direto com as famílias, que devem ser capacitados para entender o momento de sofrimento que elas podem estar vivenciando.
A doação e o transplante de órgãos é uma ação que seu desfecho bem sucedido depende de várias etapas, desde o monitoramento das condições dos pacientes críticos, da constatação da morte encefálica, da comunicação com as famílias até a entrevista com as mesmas.
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Este momento último, foi citado como um dos mais críticos. "A entrevista não é um ato, é um processo. Se, na recepção do hospital, os familiares não forem bem recebidos, eles já ficam com uma carga negativa a mais", afirmou.
Comunicação humanizada
Durante a conversa, o médico citou o debate que existe inclusive em torno do termo "negativa familiar", usado para descrever a situação quando a família não autoriza a doação. "Temos que tirar o peso dessa decisão das famílias."
"Vale a pena investir em educação da população. Mas, de nada adianta, se não tivermos uma rede de profissionais qualificados nas áreas críticas. Humanizar esse ambiente é fundamental", avalia.
Afirmou que é na capacidade de comunicação dos coordenadores desse processo nos hospitais e demais unidades de saúde que reside a possibilidade de sucesso, relatando que o estado catarinense possui, atualmente, cerca de 2400 profissionais que atuam através do Sistema Único de Saúde e que possuem treinamento para a comunicação de notícias ruins para os familiares.
O resultado é que, em 2022 em SC, apenas 141 famílias não autorizaram a doação. O estado foi o único que efetivou mais de 40% dos seus potenciais doadores. Das 728 notificações, 329 foram doadores efetivos.
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Modelo de trabalho
Além da formação dos profissionais, Andrade também destacou o modelo de organização que sustenta esse trabalho continuado há cerca de 16 anos, com a criação da Coordenação dos Transplantes, atravessando vários governos e consolidada em uma Política Estadual de Transplantes.
Segundo ele, é possível dizer que o processo de doação de órgãos em SC vem sendo desenvolvida como uma política de Estado. Relata também que acontecem, ordinariamente, dois encontros anuais entre os mais de 200 coordenadores regionais, além de 10 encontros regionais.
"Eu diria que os três pontos principais da política são a formação continuada, o trabalho integrado entre esses coordenadores, que estão atuando nos hospitais, com o sistema de saúde e o relacionamento com a imprensa", disse.
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko