O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais e ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirmou que o governo brasileiro está "interessado em estudar" sua adesão à iniciativa de investimentos internacionais na infraestrutura chinesa, o “Belt and Road” (Cinturão e Rota), ou Nova Rota da Seda.
Em entrevista ao jornal chinês Global Times, Amorim disse que, para além de estudar uma possível adesão, a gestão de Lula quer compreender quais os projetos irão se desenvolver na iniciativa de investimentos.
“Estamos interessados em ver como podemos fazer a adesão, mas para nós é muito importante entender quais são os projetos concretos que virão. Estamos abertos a estudar e ver como podemos fazer algo realmente importante”, afirmou ele ao jornal do Partido Comunista da China, publicado em inglês, na última sexta-feira (14/04).
Ao abordar a relação entre o país asiático e o Brasil, Amorim destacou que "a China é de longe o nosso parceiro comercial mais importante", e continuou: "o Brasil está se tornando um dos lugares onde a China mais investe. Mas não só isso, acho que os dois países também podem ter um papel importante na construção de um mundo mais multipolar, no qual o poder é menos centralizado e não há hegemonia”.
O assessor esteve presente na comitiva brasileiro que viajou à China na última semana. Em Pequim, capital chinesa, Lula se encontrou com Xi Jinping e 15 acordos foram assinados entre as nações. Entre os termos assinados envolvem a cooperação para o desenvolvimento de tecnologias, intercâmbio de conteúdos de comunicação e ampliação das relações comerciais.
Vale destacar que Brasil e China também firmaram acordos no setor espacial, incluindo um plano de cooperação entre as nações, bem como o lançamento do sétimo satélite, fruto da parceria, até 2032.
Brasil e China ainda firmaram um memorando de entendimento relacionado à cooperação para o desenvolvimento social e rural, bem como ao combate à fome e à pobreza.
A China é, hoje, o maior comprador de produtos brasileiros. Em 2022, o país asiático comprou quase US$ 90 bilhões do Brasil.
Sobre a possibilidade de realização do comércio entre as nações ser feito deixando o dólar de lado, Amorim disse ser "natural" que a aliança possa realizar investimentos nas suas respectivas moedas. Segundo ele, para isso ocorrer, "requer algumas adaptações em relação às regras do FMI. É natural porque o dólar passou a ser dominante depois da Segunda Guerra Mundial; antes era a libra inglesa".
"Se pudermos trabalhar com uma variedade de moedas e usar nossas próprias moedas em grande escala, isso é a melhor coisa. Se isso pode evoluir para uma moeda comum para o Brics, ou se manteremos nossa moeda nacional é algo que ainda não está totalmente claro. Mas acho muito importante estarmos livres do domínio de uma moeda única porque, às vezes, ela é usada de forma política”, continuou.
O assessor especial comentou, também, sobre uma possível cooperação com a Huawei. Uma das agendas de Lula no país asiático foi visitar o centro de desenvolvimento da empresa de tecnologia chinesa em Xangai. Para Amorim, essa possibilidade "será estudada de maneira técnica e econômica. Foi isso que decidimos. Não há [consideração] ideológica ou mesmo geopolítica".
"Na verdade, se pudermos diversificar nossas fontes de tecnologia, seria o melhor para nós. Portanto, estamos muito abertos. Já temos cooperação. A Huawei já está presente no Brasil e já é muito importante”, declarou o ex-ministro das Relações Exteriores.