Decisão popular

Paraguai entra na reta final da campanha presidencial; conheça os candidatos

Jovem governista, progressista moderado, extremista antibrasileiro e ex-goleiro famoso estão entre principais nomes

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Efraín Alegre, presidenciável do Paraguai, em evento na cidade de Luque - Norberto Duarte / AFP

A campanha eleitoral presidencial no Paraguai entra nesta semana em sua reta final. No dia 30 de abril, cerca de cinco milhões de eleitores irão às urnas para escolher o presidente que governará o país até 2028, além de 45 senadores, 80 deputados, 17 governadores e centenas de representantes dos Parlamentos regionais.

Na corrida presidencial, apenas dois candidatos aparecem com chances reais de vencer a disputa: o governista Santiago Peña e o progressista moderado Efraín Alegre lutam para saber qual deles poderá ser o próximo mandatário do Paraguai na próxima meia década.

Contudo, outras duas figuras - Paraguayo Cubas, um extremista de direita com forte discurso de ódio aos brasileiros, e o ex-goleiro José Luis Chilavert, com uma plataforma de ufanismo moderado - podem ser decisivas na hora de definir o resultado final.

Esse cenário também deve considerar uma particularidade das eleições paraguaias: não há segundo turno nas disputas de cargos executivos (presidente e governadores). Ou seja, quem tiver mais votos no próximo domingo (30/04) estará eleito.

Nas oito eleições presidenciais realizadas desde o fim da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), apenas duas tiveram um vencedor com mais de 50% dos votos: Andrés Rodríguez Pedotti (1989), com 76,6%, e Raúl Cubas (1998), com 55,3%, ambos do Partido Colorado, o mesmo que também ostenta a menor vitória, em 2003, quando Nicanor Frutos foi eleito com apenas 37,2%.

Vale lembrar também que o Partido Colorado, que será representado no pleito deste ano por Peña, venceu sete das oito disputas presidenciais do país: sua única derrota foi em 2008, quando o democrata cristão Fernando Lugo venceu com 41,2% dos votos.

Ademais, descontado esse hiato durante o mandato de Lugo e do seu vice, o liberal Federico Franco que assumiu o poder após o golpe de Estado parlamentar de 2012, pode-se dizer que o Partido Colorado vem mantendo o poder no Paraguai nos últimos 75 anos, desde a posse de Juan Natalicio González, em agosto de 1948.

Abaixo, conheça os quatros primeiros colocados nas pesquisas paraguaias

Efraín Alegre

Em 2018, o liberal Efraín Alegre disputou as eleições presidenciais do Paraguai pela segunda vez. E, apesar de obter sua segunda derrota, mostrou-se um candidato competitivo ao conseguir 43,1% dos votos, contra 46,4% do vencedor Mario Abdo Benítez, do tradicional Partido Colorado.

A diferença total de votos foi de cerca de menos de 90 mil, o que mostrou uma evolução em comparação com 2013, quando o golpe de Estado contra Lugo, em 2012, ainda estava fresco na memória do eleitorado, e ele alcançou o mesmo segundo lugar, mas com 37,1% dos votos e uma desvantagem de mais de 8% para o vencedor, Horacio Cartes, também do Partido Colorado.

Os resquícios daquele golpe de 11 anos atrás ainda não se dissiparam completamente, mas Alegre parece ser a única figura capaz de manter aquela unidade na centro-esquerda que levou à vitória histórica de Lugo em 2008 e que coloca em xeque a hegemonia de quase oito décadas do Partido Colorado no Paraguai.

Apesar de não ter exercido nenhum cargo público nos últimos 12 anos, Alegre já foi deputado e senador, além de presidente de ambas as casas Legislativas, entre 2000 e 2008. Também passou por dois Ministérios do governo de Lugo (Obras Públicas e Comunicações), entre 2008 e 2011.

O golpe de 2012 afetou fortemente a relação da Frente Guasú, aliança de partidos de esquerda liderada por Lugo, e o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), no qual militam tanto Alegre quanto Federico Franco, que era vice-presidente naquele ano e assumiu o poder através de uma articulação no Congresso. Apesar disso, Alegre conseguiu restabelecer a aliança de centro-esquerda nas eleições de 2018, e foi esse elemento que permitiu seu crescimento entre a primeira e a segunda tentativa presidencial.

Em 2023, aos 60 anos, ele repete a dose da fórmula de centro-esquerda, agora com um nome oficial: Concertação Nacional.

As pesquisas mostram cenários muito diferentes umas das outras, mas em duas delas Alegre aparece em primeiro lugar.

Na sondagem da consultora Atlas Intel de 5 de abril, Alegre aparece com 38,2% das intenções de voto, mas a margem de erro indica um empate técnico com Peña, que tem 36,5%.

O mesmo acontece na pesquisa do instituto Datos, de 11 de abril, onde o candidato da centro-esquerda tem 40,6% contra 35,5% do seu adversário de direita. Uma vantagem maior mas ainda dentro da margem de erro.

Nesse cenário, o fato da eleição ser em turno único poderia entregar uma vantagem e uma desvantagem para Alegre.

A vantagem é que, mesmo sendo o único candidato progressista com mais de 1% dos votos, ele não precisa alcançar os 50% para ser eleito, basta superar Peña e aproveitar que outros candidatos de diferentes setores de direita tirem do Partido Colorado os votos necessários para vencer o pleito.

A desvantagem, talvez, é que esse movimento de migração de votos para um candidato mais competitivo poderia ser o mote da campanha de Peña na reta final, usando o discurso do “medo ao comunismo” para virar uma diferença que não é pequena.

Ademais, há outros institutos de pesquisa que colocam Peña como líder das pesquisas, mas parece que o próprio candidato colorado não acredita neles, já que vem se queixando, em recentes entrevistas que o presidente Abdo Benítez está “jogando a favor de Alegre”, ao não apoiar mais abertamente a sua candidatura.

Santiago Peña

Favorito para ganhar as eleições no país sul-americano, liderando boa parte das pesquisas eleitorais, Penã representa a direita tradicional pelo Partido Colorado, que governou o país por três décadas depois da ditadura.

Com 44 anos e nascido em Assunção, capital paraguaia, Peña se posicionou a favor do terceiro governo de Lula no Brasil, afirmando que suas administrações anteriores foram positivas para o Paraguai. O presidenciável também apresenta-se a favor da integração regional por meio do Mercosul.

Apesar das declarações teoricamente moderadas, Peña envolveu-se em polêmica ao referir-se a cidadãos argentinos como “preguiçosos”. Segundo o jornal Folha de Pernambuco, Peña afirmou que deseja “um Paraguai onde não haja gente sem trabalho. Tem muita gente que não quer trabalhar. Nossos vizinhos aqui na Argentina não querem trabalhar. É uma realidade e isso está errado. Não temos que chegar a esse ponto”.

Peña foi filiado ao partido Liberal desde seus 17 anos de idade, até outubro de 2016, quando migrou para o Colorado. Nesta época, era ministro da Fazenda do país (2015-2017).

Do mesmo partido que o atual presidente Benítez, Peña tentou candidatar-se à Presidência em 2017, no entanto, perdeu as eleições internas do partido justamente para o atual mandatário – cenário que não se repetiu agora.

No controverso mundo das pesquisas eleitorais paraguaias, o candidato colorado aparece liderando com folga em duas das mais recentes.

Segundo o instituto Ati Snead, em estudo publicado em 13 de abril, Peña tem 42,9% das intenções de voto, contra 31,3% de Alegre.

Outra pesquisa favorável a Peña é a da consultora Oima Data, divulgada em 14 de abril, na qual ele tem 45%, contra 28% do seu principal adversário.

Paraguayo Cubas

Chamado de “Bolsonaro do Paraguai”, Paraguayo Cubas tem 61 anos e é um advogado e político que nasceu em Washington, nos Estados Unidos.

Tendo atuado na política do país sul-americano como deputado entre 1993 e 1998 e senador pelo Partido Cruzada Nacional de 2018 a 2020, Cubas teve seu mandato cassado por “uso indevido de influências”, por agressão física, ameaças e violência, também foi candidato a prefeito de Ciudad del Este em 2001.

Figura polêmica na política do Paraguai, Cubas identifica-se na extrema direita do país, com discurso antissistema e contra instituições democráticas da política, focado na intolerância e no combate à corrupção. Outra característica que o destaca é o discurso de ódio aos brasileiros, apontando que são os “responsáveis pelo aumento da criminalidade” em seu país.

Em novembro de 2019, vídeos registraram o então senador afirmando ser necessário “matar pelo menos 100 mil brasileiros bandidos”. Na ocasião, Cubas teria se deslocado até o distrito de Minga Porá após receber denúncias de que caminhões com madeira traficada e desmatada de forma ilegal seriam liberados pelos policiais paraguaios.

Após exigir que os condutores dos caminhões fossem presos e receber resposta negativa dos policiais, Cubas agrediu as autoridades de segurança e declarou as frases preconceituosas contra brasileiros.

Segundo o portal G1, Cubas afirmou: “bandidos brasileiros, bandidos! Invasores, agora desmatando o país! Tem que matar aqui pelo menos 100 mil brasileiros bandidos. Quantos brasileiros tem aqui? Dois milhões. E 100 mil são bandidos”.

Candidato à Presidência do Paraguai pelo Partido Cruzada Nacional, Cubas está em terceiro nas intenções de voto, com 14,5%, segundo pesquisa da Atlas Intel.

José Luis Chilavert

Um dos paraguaios mais famosos do mundo, Chilavert foi goleiro do Guaraní de Assunção, passou pelo Vélez Sarsfield da Argentina, Real Zaragoza da Espanha e pelo Peñarol do Uruguai, além da seleção do Paraguai, da qual foi capitão durante mais de 10 anos.

Foi no Vélez que sua carreira teve maior destaque, já que conquistou com o clube de Buenos Aires a Copa Libertadores de 1994 e a Copa Intercontinental.

Além disso, Chilavert ficou conhecido por ser o primeiro goleiro-artilheiro do mundo, já que era batedor oficial de faltas e pênaltis, tanto no Vélez quanto no Paraguai. Com seus 67 tentos anotados, ele ostentou o recorde de gols marcados por um goleiro até 2006, quando o são paulino Rogério Ceni o superou [e ainda mantém a marca, com 131 gols].

Sua fama é seu principal capital político, mas até agora só lhe permitiram obter cerca de 2,3% das intenções de voto, segundo a pesquisa Atlas Intel.

Apesar dos seus 57 anos, o ex-goleiro é candidato presidencial pelo Partido da Juventude, cujo nome busca dar um ar “sem ideologia” e capturar votos do eleitorado que se diz “antipolítica”. Suas declarações, porém, mostram que seu espectro ideológico flerta, não com a direita, mas com a extrema direita.

Sua plataforma é baseada em um discurso nacionalista típico de muitos esportistas que migram para a política, embora também defenda ideias que são comuns dos partidos de ultradireita na América Latina, como a privatização de empresas públicas, com exceção da Itaipu Binacional, ao menos aparentemente, a liberação do porte de armas, o “combate à corrupção” e a “guerra contra o comunismo”.

Com um ideário assim, não chega a ser surpreendente alguns elogios que fez ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e suas fotos com o líder extremista argentino Javier Milei, que apoia abertamente a sua candidatura.