A iminência da instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos antidemocráticos mobilizou os bolsonaristas nas redes sociais, mas o grupo segue fechado em uma "bolha". O levantamento foi feito pelo analista de redes sociais Pedro Barciela, do site Essa Tal Rede Social.
O movimento articulado entre os apoiadores mais engajados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a crescer nas redes a partir do último dia 16, quando houve cerca de 61 mil interações no Facebook e no Instagram sobre o tema. No dia 17 foram mais de 728 mil. O crescimento seguiu no dia 18, quando o número passou de 2 milhões.
A divulgação pela CNN Brasil de vídeo que mostrava o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, dentro do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, dia dos ataques golpistas à Praça dos Três Poderes, fez o movimento atingir seu ápice no dia 19. Gonçalves Dias, que é general da reserva do Exército, deixou o cargo após a repercussão da gravação.
Barciela afirma que a divulgação das imagens e a consequente demissão do ministro mostraram que o bolsonarismo, ao menos momentaneamente, conseguiu recuperar sua capacidade de pautar o debate. Entretanto, a discussão ficou restrito à "bolha" dos apoiadores engajados do ex-presidente.
Segundo dados compilados pelo especialista, em 28 dias, 98,7% das interações sobre o tema no Facebook e no Instagram partiram de páginas bolsonaristas. No Twitter, a porcentagem é menor, mas ainda alta: 73% dos perfis que citam o tema junto ao nome de Lula são bolsonaristas.
O analista lembra que o bolsonarismo sempre precisou de outros "atores" para furar sua própria bolha nas redes sociais. Durante os quatro anos de Jair Bolsonaro no governo isso era mais fácil, já que a imprensa cumpria esse papel, dando espaço às pautas lançadas pelo então presidente e seu entorno.
"Desde o início do governo Lula isso não aconteceu. Uma série de pautas foram sobrepostas, ou pelo governo Lula, ou pela imprensa, com desmandos do governo Bolsonaro, que fizeram com quem o bolsonarismo não mais conseguisse pautar como ele fazia até então", destacou Barciela em entrevista ao Brasil de Fato.
Expectativas para os próximos capítulos
Enquanto governo e oposição se articulam para a CPMI, cresce a expectativa para o desenrolar das investigações no Congresso e as repercussões nas redes sociais. Para Barciela, é preciso aguardar para saber qual será o andamento da Comissão. Não é possível, de antemão, prever qual campo político vai pautar os debates, e se as discussões sobre o tema passarão a furar, enfim, a bolha bolsonarista.
Independente do andamento das discussões, porém, tudo indica que o tema vá movimentar as discussões políticas na internet. Existe a chance de se repetir o que houve na CPI da Pandemia, quando parlamentares formaram uma "frente ampla" contra o bolsonarismo. Mas também é possível haver efeito contrário.
"A gente pode ter o bolsonarismo voltando a pautar o debate público, que até agora era ou cartão corporativo, ou joias da Michelle Bolsonaro, acordos que Jair Bolsonaro fez, uma ou outra denúncia contra o governo Bolsonaro... Isso sinaliza uma possibilidade do bolsonarismo recuperar, ainda que momentaneamente, essa capacidade de pautar o debate", complementou Barciela.
Edição: Thalita Pires